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Sem "A Vida Invisível" e com "Democracia em Vertigem", campanha pelo Oscar colocou produção brasileira em pauta

Percurso dos filmes brasileiros que estavam na disputa o Oscar 2020 reforça visibilidade da produção nacional em ano de bons resultados

Reconhecimentos internacionais da produção audiovisual brasileira foram constantes ao longo de 2019. Mais do que simplesmente “selos de qualidade” - noção que pode ser facilmente questionada -, prêmios em festivais e citações em listas mundo afora, neste ano, foram importantes para ressaltar não somente os bons resultados, mas os bons caminhos do setor em um ano difícil para a cultura brasileira no geral. É por isso que a ausência de "A Vida Invisível", do cearense Karim Aïnouz, na pré-lista de selecionados à disputa na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar é, no mínimo, desanimadora. No entanto, o documentário "Democracia em Vertigem" (produção original da Netflix), de Petra Costa, passou pela fase de triagem e compõe a pré-lista da categoria do gênero.

Há de se questionar a separação que a premiação faz entre filmes dos EUA - ou, no máximo, do Reino Unido - de qualquer outra obra feita em qualquer outro país ou língua. Emplacar no mais popular e conhecido dos prêmios, porém, seria um impulso enorme não só para a carreira internacional do filme, decerto, mas em especial para maior visibilidade da obra no próprio País, numa representação da força do audiovisual brasileiro. Para além de méritos artísticos ou narrativos, pensando no Oscar como a premiação política que é, "A Vida Invisível" parecia ter muito para alcançar esse lugar.

Premiado em maio no Festival de Cannes como o melhor filme da mostra Um Certo Olhar (Un Certain Regard), segunda mais importante do evento, o longa fez campanha pelo Oscar com o apoio da gigante Amazon, que distribuirá a obra nos EUA a partir do próximo dia 20. Saiu vitorioso de vários festivais pelo mundo, repercutiu junto à crítica estrangeira, apareceu na lista de indicações do Spirit Awards e no top 5 de filmes estrangeiros do célebre National Board of Review. Nos últimos dias, inclusive, a imprensa norte-americana passou a abordar mais diretamente o momento do audiovisual brasileiro, o que poderia ser uma forma de criar empatia pela obra.

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Olhando para os dez filmes pré-selecionados entre os 91 elegíveis para a categoria, o que se destaca é a forte presença europeia e a total exclusão da América Latina. Estão na disputa "Parasita" (Coreia do Sul), "Atlantique" (Senegal) e, representando o continente europeu, "O Pássaro Pintado" (República Tcheca), "Aqueles Que Ficaram" (Hungria), "Truth & Justice" (Estônia), "Corpus Christi" (Polônia), "Les Misérables" (França), "Uma Mulher Alta" (Rússia), "Honeyland" (Macedônia do Norte) e "Dor e Glória" (Espanha). Dois entre os dez listados eram certezas de figurarem na relação prévia e são também apostas certeiras entre os cinco indicados finais: "Parasita", não somente favorita na categoria, mas cotado em outras, e "Dor e Glória", aclamado drama do cineasta Pedro Almodóvar. Dos outros, falou-se mais de uns e - bem - menos de outros. Em termos de repercussão das escolhas, viu-se que a ausência do filme brasileiro foi sentida. O crítico inglês Guy Lodge, para citar só um, publicou no Twitter que estava “desapontado pela América Latina - 'A Vida Invisível' e 'Monos' (Colômbia) mereciam uma chance”.

Na pré-lista de Melhor Documentário, que diminuiu o número de filmes submetidos de 159 para 15, o Brasil aparece representado pelo longa original Netflix "Democracia em Vertigem". Comparadas as trajetórias dos filmes, guardando as devidas proporções, elas se relacionam em alguns níveis. O documentário brasileiro, assim como a ficção dirigida por Karim, também figurou em listas importantes, foi indicado a prêmios dos EUA e teve apoio na campanha de uma gigante do streaming. A disputa entre os documentários era mais branda, apesar de numericamente maior? O papel da Netflix - que assina cinco das 15 produções documentais da pré-lista - foi o diferencial? É difícil diagnosticar o que não deu certo no caminho de "A Vida Invisível" e o que deu no de "Democracia em Vertigem". O que podemos afirmar, pelo menos, é que as trajetórias de ambos os filmes, cada qual com seu resultados, possibilitaram que eles tenham sido vistos, pensados e discutidos, seja no Brasil, seja no exterior.

Confira trailer de "Democracia em Vertigem"

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