Filmes nordestinos são os vencedores do Festival de Cinema de Vitória
26ª edição do evento, encerrada na noite deste domingo, 29, premiou o pernambucano "Casa", o cearense "Pacarrete" e o paraibano "O Seu Amor de Volta"Daniel Herculano*
Especial para O POVO
Três filmes nordestinos foram os principais vencedores da 26ª edição do Festival de Cinema de Vitória, que terminou na noite do último domingo, 29. Mas o evento pintou a capital capixaba não apenas com as cores do audiovisual. Para a Diretora Geral do Festival, Lúcia Caus, o que fica mais marcante, além da pluralidade de público nas mostras, do poder social transformador e da aceitação da cidade ao Festival, é o movimento econômico que a cultura gera para a cidade.
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Assine“A gente sente demais a importância do movimento econômico gerado pela cultura, so em 2019 geramos 500 empregos diretos. O festival conseguiu devolver para a comunidade do Espírito Santo, 92% do nosso recurso, e mais, conseguimos triplicar o investimento. No balanço, a cada R$ 1 investido no 26º Festival de Cinema de Vitória, ele foi devolvido a comunidade como sendo outros R$ 3, pois conseguimos entender que a cultura tem um valor agregado muito forte”, explica a Diretora.
E os vários olhares que somos estavam todos bem representados em tela, e abraçados pelo público (como a deliciosa comédia sobre uma adolescente trans, “Alice Júnior”), e pela crítica, com uma bela lista de premiados. E que praticamente só deu cinema do Nordeste.
Filme de abertura do Festival, a produção cearense “Pacarrete” (2019) de Allan Deberton, que demonstra a necessidade da resistência da arte a partir da sua protagonista, foi recebido com entusiasmo ao ser aplaudido de pé. O reconhecimento do júri veio com o prêmio de Melhor Interpretação para Marcélia Cartaxo, que faz Pacarrete. A surpresa foi a citação que o reconhecimento não veio apenas para ela, mas também ao núcleo de atrizes do filme, formada também por Soia Lira e Zezita Matos.
O cineasta paraibano Bertrand Lira ganhou os prêmios de Melhor Direção e Melhor Roteiro pelo docudrama, “O Seu Amor de Volta (Mesmo que ele não queira)” (2018), que ainda levou também uma Menção Honrosa ao ator Willian Muniz, pelo papel de Laura de Jezebel. A obra compartilha histórias sobre amores frustrados, com um viés poético e místico, ao adentrar nas mais diversas superstições e rituais realizados em busca do sucesso no amor, incluindo a participação de cartomantes, videntes, mães e pais de santo.
Já o principal prêmio, o troféu Vitória de Melhor Filme foi para o documentário pernambucano “Casa” (2019), de Letícia Simões. Filme de encerramento, a produção revela a relação entre mãe e filha e, na construção dos espaços de afeto entre essas mulheres, questiona o que é sanidade, memória, solidão e família.
O festival homenageou ainda a atriz Vera Fischer, que recebeu o troféu Vitória e os aplausos do público por sua contribuição ao audiovisual. E também a escritora e pesquisadora capixaba Bernadette Lyra, por sua relação com a literatura e cinema nacional.
Numa semana inteira em que a capital capixaba respirou cultura, quem mais ganha com eventos como esse são a cidade e seu público presente, que abraçou o festival e atrações. Das noites de Mostras Competitivas no teatro Glória, até as mostras temáticas fora do horário nobre, as sessões tiveram praticamente 100% dos assentos ocupados. Cerca de 150 alunos participaram de oficinas de interpretação, roteiro, direção e produção cultural. Quase 4 mil crianças assistiram o 20º Festivalzinho de Vitória, importantíssimo para a formação de novos públicos no cinema. Os shows na Tenda Musical, atrelado ainda ao evento do Viradão Cultural (com nomes como Baiana System, Johhny Hooker, Zéu Britto, Duda Beat e Rita Cadillac), atraíram multidões, fecharam ruas e deixou Vitória mais bonita, colorida e comum clima de eterna festa.
“Essa edição, mais do que nunca em tempos tão tenebrosos para a cultura, mostrou o quanto o audiovisual é potente, o quanto nós somos mercado produtor, consumidor e gerador de emprego e renda, e o quanto festivais como o nosso precisam existir para que produções que dão vozes aos mais diferentes Cinemas cheguem aos mais diferente públicos no Brasil. E quem venham a 27ª edição”, finaliza a diretora do festival.
*Membro da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e crítico Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema). O jornalista viajou a convite do Festival de Cinema de Vitória
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