Daniel Munduruku e Demitri Túlio debatem "Violência e Vertigem" na Bienal do Livro do Ceará

A programação da XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará segue até domingo, 15. São 200 toneladas de livros em mais de 90 mil títulos distribuídos em 153 stands, representando 400 editoras do mercado editorial

21:53 | Ago. 20, 2019

Daniel Munduruku e Demitri Túlio participam de mesa na Bienal do Livro (foto: Felipe Abud/Divulgação Secult)

João Guimarães Rosa, escritor mineiro, sentenciou certa feita: “Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende”. O escritor Daniel Munduruku aprendeu ouvindo ao seu avô, ancestral da etnia paraense Munduruku, e cresceu mestre por ser aluno dedicado aos ensinamentos indígenas de seu povo. Já o mestrado de Demitri Túlio é na escuta: o jornalista do O POVO já foi vendedor e até policial militar, mas gosta mesmo é de torcer as palavras ouvidas no exercício de reportar. Nesta terça-feira, 20, Daniel Munduruku e Demitri Túlio conduziram o debate Violência e Vertigem na programação da XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará. A mediação da mesa foi da escritora e curadora do evento Ana Miranda.

"Ailton Krenak diz que o Brasil foi construído sobre um cemitério", pontua Daniel Munduruku ao abordar o genocídio e a violência epistêmica sofrida pelos povos indígenas. "A violência contra os povos indígenas é uma realidade que vem se arrastando há 519 anos. No século XVI, os historiadores identificaram mil povos indígenas e 900 línguas diferentes no País. Hoje, nós temos 305 povos e são faladas 274 línguas. A fala oficial sempre nos ensinou essa coisa da história única: nós temos uma narrativa que foi nos imposta porque quem se considera vencedor. A palavra índio é uma construção imagética que foi sendo repetida e o que nós conhecemos do índio não é de fato o que o índio é. A história foi dizimando toda uma série de narrativas de histórias, de tradições, de cultura. É o único segmento da sociedade brasileira que está em constante resistência, sempre muito atento e observador. Essa diversidade toda que escondemos dentro dessa palavra mal falada ("índio") esconde essas outras versões da história que precisam ser trazidas a tona. Os indígenas são o último enfrentamento que a sociedade capitalista está enfrentando", continua.

Munduruku é o escritor indígena mais publicado no Brasil: são 52 livros para crianças, jovens e educadores. Graduado em Filosofia e com licenciatura em História e Psicologia, o paraense é doutor em Educação pela Universidade de São Paulo e pós-doutor em Linguística pela Universidade Federal de São Carlos. Além do extenso currículo acadêmico, Munduruku também é diretor presidente do Instituto UKA - Casa dos Saberes Ancestrais.

"A violência é brutal, é vertiginosa. Ela parte dos povos originários, mas se estende para outros ramos: negros, pobres, enfim – nessa batida, ela vai rasgando todo mundo", coloca o colunista e repórter especial de O POVO, Demitri Túlio. Jornalista mais premiado do Nordeste, Demitri é defensor das causas ambientais e cartógrafo do Parque do Cocó. "As cidades são construídas no meio de chacinas, de invasões, de remoções. No Ceará, tem-se uma propaganda agora sobre os números de homicídios e roubos que caíram. Mas qual é a violência que caiu? Não se tem uma mudança na postura da polícia nas periferias", questiona. Realizada no espaço Terreiro em Sonho, no térreo, a mesa integrou o eixo As Cidades e os Livros.

A programação da XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará segue até domingo, 15. São 200 toneladas de livros em mais de 90 mil títulos distribuídos em 153 stands, representando 400 editoras do mercado editorial. A expectativa é que a feira literária movimente R$ 6 milhões.

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