"O viajante e o escritor acredito que surgiram ao mesmo tempo", diz José Eduardo Agualusa

A conversa entre os escritores Tércia Montenegro e José Eduardo Agualusa foi uma das atrações da Bienal do Livro do Ceará

00:00 | Ago. 17, 2019

O escritor alagoano José Eduardo Agualusa e a escritora cearense Tércia Montenegro participaram de uma conversa na Bienal do Livro do Ceará (foto: ALEX GOMES)

Centenas de pessoas se reuniram, na tarde deste sábado, 17, para ouvir dois dos escritores mais instigantes da atual geração: a cearense Tércia Montenegro e José Eduardo Agualusa. “O viajante e o escritor acredito que surgiram ao mesmo tempo”, aponta o angolano. O encontro histórico aconteceu durante a programação da XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará, evento que segue até 25 de agosto com atividades gratuitas em vários eixos. A conversa, que teve mediação de Cleudene Aragão, versou sobre os múltiplos viajantes e lugares do mundo.

A palavra de Agualusa é permeada de lugares. Nascido em Angola, o escritor de O Vendedor de Passados traça linhas sobretudo a respeito de estar inserido no mundo, de ser um corpo existente entre milhares. Utilizando as paisagens, ele transforma a existência física em experiência. “Os lugares são interpretações de quem por eles passa”, diz, enquanto conta uma história sobre leitores decepcionando-se ao visitar Luanda, capital da Angola, e não encontrar a mesma cidade narrada nos livros. “Não há uma verdade. Há versões”.

Agualusa reforçou uma de suas falas mais famosas: a capacidade dos livros de criarem pontes. “Nós vivemos um tempo estranho em que as pessoas se gabam de construir muros. E os livros fazem o contrário. Eles constroem pontes”, pontua. O encontro entre leitor e livro foi um dos temas tratados também por Tércia Montenegro. Quando criança, ela lembra, não conseguia conceber a existência de uma casa sem uma biblioteca. “Tive a sorte de nascer em uma família de professores. Há muitos caminhos para a formação de um leitor. Todos eles são válidos”, sinaliza a escritora cearense.

Tércia, que também é fotógrafa, defende que as diferentes artes podem ser usadas para contar histórias. A fotografia e a literatura, ela explica, se aproximam por conseguir congelar instantes da realidade. As narrativas traçadas, na opinião da escritora e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), já estão disponíveis no mundo e aguardam para serem congeladas - tal e qual a fotografia.

A conversa foi mediada pela professora universitária e pesquisadora Cleudene Aragão. E, ao invés de perguntas, preferiu instigar os dois debatedoras com trechos de seus livros mais amados. O vendedor de Judas, Teoria Geral do Esquecimento, O vendedor de passados e Turismo para cegos foram apenas algumas das obras visitadas ao longo da conversa. “Tudo são narrativas. Qualquer forma de arte conta histórias”, diz o escritor angolano.

A programação da Bienal Internacional do Livro do Ceará inclui nomes como Abdellah Taia, Angela Gutiérrez, Chico Alvim, Conceição Evaristo, Daniel Munduruku, Deborah Finocchiaro, Frei Betto, Lola Aronovich, Lúcia Santaella, Mailson Furtado Viana, Marcos Bagno, Maria Valéria Rezende, Marilia Lovatel, Marlui Miranda, Nina Rizzi, Regina Machado, Sarah Diva, Socorro Acioli, Suene Honorato, Tino Freitas, Ferrez, Babi Dewet, Thiago Tizzot, Ryane Leão, Anna K Lima, Kah Dantas, Mariana Amorim, Talles Azigon, Annita Moura, Amara Moira, Mateus Lins, Márcio Benjamim, José de Almeida, Paula Yemanjá, Rildon Oliver, Ítalo Furtado e Jéssica Gabrielle Lima.

Serviço

XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará

Quando: até 25 de agosto

Horário: de 9h às 22h

Onde: Centro de Eventos do Ceará (avenida Washington Soares, 999 – Edson Queiroz)

Entrada gratuita