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Mudanças na Ancine foram sugeridas em relatório feito por grupo conservador

O POVO Online teve acesso ao documento que inspirou as recentes e polêmicas decisões de Jair Bolsonaro sobre as políticas para o audiovisual brasileiro. A transferência da Ancine para Brasília é uma das sugestões do relatório, que também aponta "projetos que deveriam ser reprovados"
14:20 | Jul. 21, 2019
Autor Émerson Maranhão
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Émerson Maranhão Jornalista e realizador audiovisual
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Tipo Notícia

Mais em: Cinema brasileiro em risco?

A transferência da sede da Agência Nacional de Cinema (Ancine) do Rio de Janeiro para Brasília, anunciada por Jair Bolsonaro na última quinta-feira, 18, não foi uma ideia original do presidente. Ela é uma das sugestões que constam no documento “O Caos da Cultura”, produzido pelo Movimento Brasil 2100. Foi este relatório de 17 páginas que embasou o recente ataque presidencial à Ancine.

O POVO Online teve acesso ao documento. Nele, são listados 18 projetos de produções audiovisuais aprovados pela Ancine e que, na opinião do Movimento, deveriam ter sido reprovados. Juntos, os projetos somam cerca de R$ 41 milhões.

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Entre os projetos está a quarta temporada da série “Me chame de Bruna”, um desdobramento do filme “Bruna Surfistinha” criticado publicamente pelo presidente. Além dele, há muitos outros sobre questões de gênero, meio-ambiente e política.

O documento traz os títulos das produções, sua descrição e os valores aprovados, mas não revela as razões pelas quais estes projetos deveriam ter sido inabilitados. Antes de listar as 18 produções que não passariam por seu crivo, o relatório traz o que diz ser os orçamentos federais para investimento em audiovisual ao longo de 2019.

Segundo o Movimento Brasil 2100, já foi autorizada a captação de R$ 1,2 bilhão de recursos através da Lei de Incentivo à Cultura; R$ 428 milhões através da Lei do Audiovisual, de um total previsto de R$ 1,6 bilhão; e existe a previsão de um fomento direto total de R$ 800 milhões via Fundo Setorial do Audiovisual (FSA).

Sempre que se refere a valores disponibilizados no ano de 2019, o documento acrescenta “já no governo do presidente Bolsonaro”.

Além disso, o relatório “denuncia” que, no período de 1991 a 2019, existem 725 projetos da Lei de Incentivo à Cultura inadimplentes; 16.430 projetos sem análise técnica; e apenas 1% do total de projetos cujas prestações de conta foram aprovadas.

Por fim, “O Caos na Cultura” aponta o que chama de “Sugestões de soluções imediatas para romper o ciclo vicioso, desmoralizante, vexatório da cultura brasileira”. É justamente neste trecho que consta a indicação da mudança de sede da Ancine, já anunciada pelo presidente, assim como a recomendação da transferência da agência para a Casa Civil ou para a Secom. Coincidência ou não, na última quinta-feira, 18, Jair Bolsonaro assinou decreto que transferiu o Conselho Superior do Cinema, órgão responsável pela formulação da política nacional de audiovisual, do Ministério da Cidadania para a Casa Civil.

Apesar de ter tamanha influência sobre o presidente, como é facilmente constatável, o Movimento Brasil 2100 não tem site oficial nem se encontra qualquer referência a ele na internet, a não ser a repercussão na imprensa do relatório “O Caos na Cultura”. Seus integrantes não são de conhecimento público nem há um porta-voz oficial que fale pelo grupo.

Muitas das informações constantes no relatório podem ser encontradas em artigos disponíveis no site da livraria e editora catarinense Estudos Nacionais. Um de seus fundadores é o jornalista Cristian Derosa, que se apresenta como “Mestre em jornalismo pela UFSC e autor dos livros ‘A transformação social: como a mídia de massa se tornou uma máquina de propaganda’ e ‘Fake News: quando os jornais fingem fazer jornalismo’. Colunista do site Estudos Nacionais. Aluno do Seminário de Filosofia de Olavo de Carvalho”.

Em entrevista ao jornalista Gustavo Fioratti, publicada na Folha de S. Paulo deste domingo, Derosa afirmou conhecer os autores do relatório que inspirou as mais recentes ações do presidente no audiovisual, mas até o fechamento da edição não os nomeou nem indicou alguém que pudesse falar pelo grupo.

“Sugestões de soluções imediatas para romper o ciclo vicioso, desmoralizante, vexatório da cultura brasileira”, conforme o documento:

1. Força-tarefa para analisar a prestação de contas dos 16.430 projetos (11 bilhões de reais sem nenhum tipo de controle, fiscalização e punição).

2. Não autorizar proponente que não tiveram a prestação de contas a realizar novos projetos culturais.

3. Exoneração de todos os cargos de confiança (só na Ancine são 150 cargos de confiança).

4. Transferir a sede da Ancine para Brasília.

5. Transferir a Ancine para a Secom/Presidência.

6 Criação da nova Política Cultura Brasileira.

Confira as 18 produções que o documento aponta que "não deveriam ter sido aprovadas" pela Ancine" em 2019: 

BORN TO FASHION (EX TOP TRANS)

Top Trans é um reality leve, divertido, cheio de barracos, mas muito emocionante, que dará acesso exclusivo ao universo da moda e à vida íntima de modelos transsexuais. Um formato que mistura convivência intensa com competição ferrenha - um legítimo coquetel molotov pronto pra explodir.

Valor: R$ 3 milhões

#MECHAMADEBRUNA 4ª TEMPORADA

Na quarta temporada da série #MeChamaDeBruna, Bruna Surfistinha está, pela primeira vez, atrás de estabilidade e de uma vida civil normal – ainda como prostituta.

Valor: R$ 5 milhões

AS MONALISA

O comportamento da sociedade contemporânea muda em alta velocidade. Nunca o debate sobre gênero esteve tão presente. Estes são os temas que dão sustentação a série As Monalisa, ambientada no Baixo Augusta, em São Paulo, uma região que se tornou o ponto de encontro de todas as tribos da cidade.

Valor: R$ 1,486 milhão

A PEDRA DO SINO

No Brasil Imperial do final do século XIX, as forças sociais e políticas estão em intenso movimento, prontas para a eclosão de grandes mudanças. Existe uma forte pressão pela independência política do país e pela abolição da escravatura, considerando-se que naquele momento o Brasil é um dos últimos países do mundo a se manter sob o jugo de uma conjuntura colonial.

Valor: R$ 1,158 milhão

BRASIL, AME-O OU DEIXE-O

Nos tempos atuais em que são intensas as divergências e a radicalização na sociedade brasileira, vemos a oportunidade de traçar um paralelo com outro momento da nossa política, mais de meio século atrás, quando surgiram condições propícias para que um governo dito “forte” conseguisse estabelecer uma política de “Segurança Nacional” que levou ao fechamento do Congresso Nacional, estabeleceu a censura aos meios de comunicação e permitiu a suspensão de direitos civis fundamentais.

Um documentário vibrante e atual investigando a história da mobilização do meio artístico brasileiro, sufocado por uma ditadura, mas sempre à procura da melhor e mais clara maneira de manifestar sua criatividade e marcar a oposição ao regime.

Valor: R$ 1,5 milhão

A AMAZÔNIA DE MARGARET MEE

A preservação da Amazônia é uma causa planetária, que mobiliza defensores em todo mundo, mas ninguém foi tão apaixonado pela floresta quanto Margaret Mee, uma artista inglesa que realizou 15 expedições em busca de flores selvagens e descobriu que a floresta estava morrendo lentamente.

Valor: R$ 3,1 milhões

CLANDESTINO (DEFORESTATION)

"Clandestino" é um suspense dramático sobre uma impetuosa jornalista nova-iorquina que aceita investigar o violento assassinato em massa de membros de uma tribo indígena amazônica para uma matéria a ser publicada em um grande periódico de Nova York.

Na Amazônia, ela descobre que esse crime chocante é apenas a ponta do iceberg de uma rede complexa de crimes que envolvem grilagem, corrupção e destruição da flora e fauna da região.

Valor: R$ 7 milhões

DRA. DARCI - 2ª TEMPORADA

Na 2ª temporada, encontramos a família Carvalho vivendo o otimismo do novo governo com a velha crise no país. Darci está cada vez mais estabelecido como Dra. Darci, psicanalista e terapeuta sexual.

Valor: R$ 2,3 milhões

É BELEZA?

Série de ficção

PARA QUEM: Crianças, pré- adolescentes e adolescentes novos

Limites e Limiares. Valores. As crianças chegam ao fim da infância cheias de ideias que são colocadas em xeque à medida em que vão tendo que se posicionar e tomar decisões. Vamos abrir diálogo sobre esses assuntos.

•As provas exigem habilidades variadas - artísticas e esportivas. Os pequenos conflitos começam já na formação dos times:

•Meninas que querem um time só de meninas

•Ciclistas mirins quase desistem por causa das provas criativas

•Nerds pretendendo formar um time forte mesmo nos esportes

•A turma da pequena comunidade do Abacaxi Azul enfrentando a possibilidade de ser discriminada etc.

Nesse processo um mundo de descobertas vai acontecendo e exigindo um pouco de reflexão e muita atitude.

Valor: R$ 2,3 milhões

FICO TE DEVENDO UMA CARTA SOBRE O BRASIL

Documentário inspirado por motivações pessoais que, atravessado por conflitos correntes, se tornou uma investigação sobre a construção da memória histórica no Brasil. O filme revisita o legado do regime militar entrelaçando três gerações, por meio de uma estrutura narrativa epistolar e do uso de um rico material de arquivo.

Valor: R$ 448 mil

NAS TRINCHEIRAS DO DESEJO: JUVENTUDE, DEMOCRACIA E DESBUNDE

Documentário de longa metragem sobre o comportamento da juventude, sobre a historia de suas ideias políticas e os processos de lutas de duas gerações de estudantes de baixa renda, no embate contra a privatização do ensino público, a apatia política da sociedade, e o conservadorismo da esquerda, no contexto das lutas históricas do movimento social. O filme é um diálogo entre duas gerações. Uma geração que habitou essa Residência Universitária, na virada dos anos 70/ 80, durante o período final da Ditadura Militar de 1964. A outra geração é contemporânea ao processo de impeachment de 2016.

Valor: R$ 474 mil

O OLHO DO DRAGÃO

Um filme conta a história do nascimento da polarização política, entre esquerda e direita, liberal e conservadores, proprietários e não- proprietários, ao longo da história da humanidade. Cenas de arquivo, entrevistas, animações e breves cenas dramáticas são usadas para contar a história dessa dialética fundamental por trás do poder político.

Em seguida, vemos muitas cenas de arquivo, criteriosamente escolhidas para mostrar o fenômeno da polarização política no Brasil e em diversos outros países.

Um professor de História Antiga fala da polarização na República Romana, e animações gráficas entram para ilustrar a descrição. Há um depoimento ou discurso legendado de Franklin Delano Rooselvelt, representante máximo do chamado Welfare State americano, que é o correlato estadunidense do que seria a social-democracia na Europa do pós-guerra.

Em seguida, temos duas entrevistas sucessivas, uma com João Amoedo, presidente do Partido Novo, representante emblemático do novo liberalismo brasileiro, outra com Mauro Benevides Filho, principal economista da campanha de Ciro Gomes e igualmente emblemático de algumas idéias modernas de centro-esquerda ou social-democracia.

O filme volta ao cenário da praia do Leme, com uma reflexão filosófica do narrador que faça uma espécie de resumo de tudo que foi dito antes no filme.

Valor: R$ 98 mil

O SOL NA CABEÇA

Sob o escaldante sol de verão, diversas histórias se desenrolam nas periferias e nos morros no Rio de Janeiro. Pedro, morador do morro do Vidigal, é o fio condutor dessas histórias. Ele só quer fumar um baseado em paz na praia com os amigos, mas se vê deparado com a violência policial. Pedro, Leo, Jonas e Mathias são apaixonados pela vida, mas sabem que viver na periferia de uma das maiores cidades do país, sob o estigma do racismo, não é fácil. São histórias que apresentam jovens moradores da comunidade carioca, permeados por prazeres,

tensões e adrenalina, muitas vezes moduladas pela violência e pela indisfarçável discriminação racial, mas que revelam personagens pulsantes, cheios de vida, em oposição às histórias de morte pelas quais são quase sempre retratados. Uma historia sobre o porvir e a vitalidade da juventude negra carioca.

Valor: R$ 2,4 milhões

PARTIDA

O filme documenta a construção do pensamento político da mais nova futura candidata à presidência da república do Brasil pelo partido feminino PARTIDA, a atriz Georgette Fadel, à partir de sua relação com uma inusitada trupe de doze pessoas que a acompanham numa viagem iniciática em busca de sua maior referência, Pepe Mujica, no Uruguai.

Ao enxergar política através da mediação das relações humanas, da aplicação cotidiana de uma ética em eterna construção, para que seja possível a convivência pacífica e justa entre as diversidades, tanto na inusitada e heterogênea trupe quanto nos encontros com os desconhecidos pelo caminho, o filme propõe provocar o espectador a tornar- se, ele próprio um desejante político, um agente político de sua existência. Provoca portanto o Brasil dividido a repensar a urgência na construção de alguma nova unidade

Valor: R$ 600 mil

PENÉLOPE (DESENVOLVIMENTO)

Penélope trabalha como prostituta e dançarina e está juntando dinheiro para tirar ela e Belinha, sua irmã mais nova, dessa vida. Seu cafetão a manda para uma festa na casa de poderosos e Penélope experimenta uma droga que lhe dá habilidades sobre-humanas.

Valor: R$ 300 mil

RICARDO E VÂNIA

São Paulo. Anos 80. Ricardo conhece Vagner em um salão de beleza na Rua Augusta. Os dois rapazes de feições perfeitas se apaixonam. A obsessão com a beleza os levam a injetar silicone no rosto até o ponto de ficarem completamente deformados. Os dois embarcam na espiral negativa de um relacionamento abusivo que leva Vagner a abandonar Ricardo. Os anos passam. Enquanto Ricardo se afunda cada vez mais devido a seu comportamento agressivo que o leva a tornar-se o morador de rua conhecido como o Fofão da Augusta - , Vagner muda-se para Paris, onde passa a se chamar Vânia, uma das primeiras mulheres trans a anunciar serviços sexuais em revistas na França. Ricardo e Vânia conta a história de duas pessoas marginalizadas que encontraram maneiras diferentes de expressar quem elas são, ligadas por um amor que os atravessa a vida toda.

Valor: R$ 7 milhões

SANGUE, SUOR E ÓDIO

Preconceito e intolerância são palavras extremamente comuns no vocabulário de todas as sociedades. As diferentes heranças históricas sempre levaram a práticas de exclusão e ódio que geram violência. Há muitos anos, casos das mais variadas formas de preconceito vêm saindo das páginas policiais e políticas e ganhando espaço nos cadernos de esporte.

Em sua primeira temporada, "Sangue, suor e ódio" vai abordar 3 temas: machismo, racismo e homofobia. A partir de um recorte histórico e social amplo, a série contextualiza o cenário do esporte em relação a cada tema, através de casos recentes ao redor do mundo.

Com estreia prevista para o primeiro semestre de 2020, a série terá grande repercussão no momento em que o mundo estará atento às Olimpíadas de Tóquio.

Valor: R$ 855 mil

TRABALHAR PRA QUEM? - SEGUNDA TEMPORADA

Os jovens que vivem nas comunidades carentes das grandes cidades lutam contra muitas adversidades, não apenas sociais ou econômicas, mas também profissionais. Muitos deles chegam a universidade e sonham com uma profissão, mas o sonho é abortado pela realidade. Entretanto, existem os resilientes, que lutam por uma oportunidade para mostrar seu talento para quem lhes der uma chance. Esse é o tema da série Trabalhar pra quem? que ganhou o Prix Jeunesse Iberoamericano de 2017.

Valor: R$ 1,9 milhão

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