Artigo: A pauta é creator economy

A fundador da Trope, consultoria que ajuda marcas a rejuvenescerem diz que os EUA avançam na creator economy enquanto no Brasil pauta emissão de nota fiscal

16:27 | Jul. 05, 2024

Por: Hamilton Nogueira
Luiz Menezes da Trope (foto: DAVID MAZZO)


*Luiz Menezes da Trope

Criação de conteúdo pode e deve ser considerada uma profissão, porém, ainda vemos a lacuna de realmente considerarmos os creators como verdadeiros negócios a serem geridos em cima de estratégias. Essa questão foi trazida durante a palestra ‘Beyond the Org Chart: Creator Operators Deep Dive’, na VidCon Califórnia, evento onde fiz uma cobertura presencial.

Antes de tudo, precisamos levar em consideração que a criação de conteúdo ainda não é regulamentada em muitos países, como aqui no Brasil, por exemplo. Isso prejudica bastante o trabalho dos creators em diversos aspectos, seja para entenderem os seus direitos e deveres, precificar o trabalho e até mesmo estarem respaldados pela lei, o que pode ser perigoso para esse nicho, que está em uma crescente há alguns anos.

Porém, existem realidades diferentes quando falamos de criar conteúdo. Os creators norte-americanos estão cada vez mais adotando uma mentalidade empresarial e não estão mais tratando suas plataformas apenas como um local de entretenimento. Na palestra, deram um exemplo de um criador de conteúdo chamado Jesse Riedel, que diversificou sua marca pessoal em uma linha de roupas chamada BucketSquad Apparel e com isso, ele conseguiu expandir sua identidade.

Os palestrantes também abordaram a contração de outros profissionais pelos creators. Os Estados Unidos estão mais adiantados nesse ponto e lá a pauta é contratar ou não um COO ou CFO, que ajudará a expandir o negócio para além da rede social, fazendo a companhia de fato se consolidar. Enquanto no Brasil, os criadores de conteúdo que conseguem contratar alguém, é para terceirizar funções operacionais, como o editor de vídeo, o roteirista, entre outros, somente visando o processo de criação de conteúdo.

Por essa razão, é essencial entender o cenário de cada país para conseguir enxergar onde está o problema. De acordo com uma pesquisa feita pela Brunch com a YOUPIX, o padrão de ganho mensal de um criador de conteúdo é entre R$2.000 e R$5.000, e apesar de ser mais que um salário mínimo em nosso país, está longe de ser uma fonte de receita capaz de transformá-lo em empresa e consequentemente gerar empregos.

Quase metade dos creators que responderam a pesquisa que citei acima (47%), ainda estão formalizados como MEI, cujo teto anual de faturamento é de R$81.000. Inclusive, é perceptível que vários criadores de conteúdo, quando começam a trabalhar nesse meio, e precisam se enquadrar como MEIs, não tem noção de como funciona todo o processo de pagamento e muito menos sabem como emitir uma nota fiscal ou se deve haver contrato na relação de prestação de serviços, o que já demonstra a diferença de instrução entre os profissionais de países distintos.

É gritante a diferença de realidade dos creators que estão na VidCon para a maior parte dos creators no Brasil. As pessoas estão discutindo tópicos como M&A, compra e venda de empresas, fundos de investimento, propriedade intelectual (IP), investimento em conteúdo, formatos e programas, visando o retorno futuro e o quanto a marca valerá em alguns anos. No entanto, essas conversas estão bem longe de serem o foco no nosso país.

E a responsabilidade disso não é apenas do indivíduo creator, mas em como ampliamos a discussão de creator economy realmente ser vista como economia que impacta PIB, e isso precisa estar sendo discutido no congresso e nas pautas públicas. Além desse ponto, o ensino brasileiro, seja público ou privado, também deve começar a enxergar a classe como real uma profissão, trazendo acesso à educação empreendedora de modo continuado. Existem muitos criadores de conteúdo que querem se instruir, mas muitas vezes não fazem ideia por onde começar.