Conversamos com o idealizador do Praia Bitcoin de Jericoacoara

O POVO Tecnologia conversou com o músico paulistano Fernando Motolese, idealizador do Praia Bitcoin, movimento de bitcoin em Jericoacoara.

O Praia Bitcoin é um movimento fundado em Bitcoin e idealizado pelo músico Fernando Motolese que mora e desenvolve o projeto em Jericoacoara. Parte importante da agilidade transacional do projeto está na plataforma Lightning, cujo entendimento será será ampliado lendo a entrevista mais abaixo.

Por enquanto, é preciso entender o que a advogada Gabriela Lima presenciou em um final de semana no qual comemorou seu aniversário em Jericoacoara. "Usa-se o bitcoin para tudo, restaurantes, bares, cafés. Até pousada. Compra-se um valor determinado e pode-se usar à vontade. Inclusive 1‰ do que é transacionado fomenta atividades culturais e esportivas na vila", explica a advogada. 

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Fernando termina nossa conversa com essa observação: "outra coisa importante é que ontem o criador do Stripe, Jack Mallers anunciou que diversas empresas começarão a receber pagamentos em Bitcoin através da Lightning, o estamos fazendo aqui há mais de 6 meses", comemora Fernando que aproveita para esclarecer, "não sou investidor de Bitcoin, apenas o utilizo em Jericoacoara como uma ferramenta de transformação social".

Agora, vamos ao ping pong

OP - Fale um pouco sobre você. Quem é Fernando Motolese? Sua formação, suas concepções de mundo. Idade, onde nasceu...

FM - Sou paulistano, tenho 39 anos. Sou autodidata em segurança de redes, produção de áudio e vídeo, mixagem, masterização, edição, music business, desenvolvimento web, virtualização e cloud computing. Sou fundador do Movimento Liberdade Telefônica e do Orelhão VoIP Grátis, na luta contra as tarifas telefônicas abusivas de 2010 a 2012. Criador do CALA BOCA GALVÃO - Save Galvao Birds Campaign, considerada pelo jornal NY Times o maior trote virtual da história. Ganhador do MTV VMB 2010 na Categoria Webhit do Ano, com Justin Biba, uma colab com o canal de humor Galo Frito e Helio de la Peña do Casseta e Planeta. Entusiasta em Bitcoin, Fundador da Economia Circular de Bitcoin de Jericoacoara. 

 

OP - Como está a evolução do Praia Bitcoin?

FM - O experimento foi iniciado dia 8 de setembro (de 2021), um dia depois do Bitcoin se tornar moeda de curso legal em El Salvador. Desde então configuramos mais de 120 carteiras para usuários locais, e temos 14 estabelecimentos aceitando Bitcoin como forma de pagamento.

OP - O PIX é um concorrente da sua ideia (mesmo sabendo que as concepções são diametralmente opostas), do ponto de vista da usabilidade digital, da prática do dia a dia?

FM - O PIX não é um concorrente, pois o Bitcoin através da Lightning é um meio de troca muito mais eficiente, que não depende de intermediários. Além disso também, as frações de Bitcoin recebidas pelos usuários, são inconfiscáveis e irrastreáveis, protegendo a privacidade do usuário. Pude concluir, inclusive tecnicamente que o Bitcoin é um sistema financeiro mais barato, mais rápido, mais inovador e mais inclusivo, um avanço para humanidade na sua busca pela paz, uma onda que se espalhará gradativamente em todo mundo.

OP - Pode explicar o que é a Lightning Network ?

FM - A Lightning Network, em português Rede Relâmpago, é uma outra camada acima do Bitcoin, acelerando a taxa em que o bitcoin é enviado. É conhecida por seus pagamentos rápidos e baratos, mas o protocolo da segunda camada também pode oferecer mais privacidade do que os pagamentos on-chain, já que as transações lightning não são publicadas na blockchain do Bitcoin - a análise tradicional da blockchain é praticamente impossível. A Lightning Network é capaz de processar milhões a bilhões de transações por segundo em toda a rede. As transações de Bitcoin na rede principal são muito seguras, mas apenas aproximadamente 7 transações por segundo podem ser processadas e podem levar 10 minutos ou mais para serem totalmente confirmadas, gerando um problema de escalabilidade.

Nas transações através da Lightning Network as pessoas enviam Bitcoins de um lado para outro sem a necessidade de esperar que cada transação seja incluída em um bloco de Bitcoins.

OP - A experiência de El Salvador - noticiada como uma oficialização da moeda digital - vem influenciando sua ideia de tornar a cripto “popular” em Jeri?

FM - Após analisar os efeitos da iniciativa realizada em El Zonte e a forma que o Bitcoin estava sendo utilizado em El Salvador, percebi que o experimento poderia ser replicado em qualquer localidade e decidi replicá-lo no Brasil, na Vila de Jericoacoara, interior do Ceará, onde moro desde fevereiro de 2020. Nosso objetivo não é transformar a Cripto popular, mas sim apenas o Bitcoin. Não recomendamos outras criptomoedas, que basicamente são falsificações do Bitcoin.

OP - As pessoas em Jeri - nativos inclusive - incorporaram a ideia de ter para investir ou para usar os bitcoins?

FM - As pessoas em Jeri - nativos inclusive - incorporaram a ideia.  Fazemos um trabalho educacional gradativo. Não recomendamos que as pessoas invistam, mas sim pratiquem o conceito de "Mineração Social", ou seja, receber o bitcoin como forma de pagamento e acumular frações de bitcoin para o futuro, inclusive incentivando a economia local fazendo pagamentos diretamente em Bitcoin sem converter para moeda fiduciária.

OP - São Paulo não seria um local melhor para esse experimento? Mais desenvolvimento e economia mais forte?

FM - Não. O experimento Praia Bitcoin, inspirou-se no Bitcoin Beach, de El Zonte, onde toda história do Bitcoin em El Salvador começou. Uma vila de pescadores, com 3000 habitantes e um point de surf. Apesar de ser um dos destinos turísticos mais populares do planeta, em Jericoacoara não temos um único caixa eletrônico. A maioria dos nativos e trabalhadores locais possui contas bancárias com serviços básicos, mas não possui cartão de crédito e nunca fez investimentos, de certa forma, excluindo-os do sistema financeiro tradicional. Fomos esquecidos pelos bancos, mas agora temos Bitcoin.

Em uma grande cidade, seria impossível replicar o experimento, pois, tudo que construímos aqui foi a base do relacionamento e com foco no trabalho social de educação financeira

OP - Um mundo sem regulação bancária é um mundo melhor?

FM - Na verdade, a regulação bancária é necessária, mas a maneira que foi construída a economia nos tirou o direito do dinheiro real e todos somos enganados com a moeda, literalmente. Então pouco adianta uma regulação bancária, se a base da economia que é o "dinheiro de papel" está fadado ao fracasso.

Portanto, antes de falar em regulação bancária, temos que resolver o problema da emissão desenfreada da moeda. O bitcoin concerta isso... Ano após ano, os bancos divulgam seus balanços com lucros extraídos da sociedade, usurpando de todos os portadores fiéis do dinheiro fiduciário tradicional que só desvaloriza. Enquanto isso, por outro lado, o governo equilibra os pratos, imprimindo o dinheiro, emitindo títulos, aumentando juros e sambando com o câmbio, sempre à revelia, desfavorecendo a população mais vulnerável com menor poder aquisitivo. Do que adianta a regulação bancária? Já sei, serve o interesse dos poucos banqueiros que temos no mundo, no Brasil então o poder é ainda mais concentrado.

OP - Queria que você falasse um pouco mais sobre “mineração social”. No que isso consiste?

FM - Mineração social é um conceito o qual introduzo no meu livro, "Economias Circulares Padrão Bitcoin", em fase de financiamento coletivo aqui https://economiaspadraobtc.praiabitcoin.org/ que consiste em organizar grupos de pessoas em torno de instituições sociais projetadas para atender os interesses comunitários, criando soluções para resolver problemas de interesse local, torna-se a ferramenta ajudar as pessoas próximas a adotarem o padrão Bitcoin. Aqui está um exemplo de uma ação de mineração social que acabou de ser lançada
https://oficinadearte.praiabitcoin.org/

Querendo saber mais, ou contribuir com o projeto Praia Bitcoin, acesse https://donate.praiabitcoin.org/.

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