Para não esquecer ninguém

Estudantes criam bengala e óculos para auxiliar pessoas com deficiência visual a conviver com obstáculos.

Quando comecei a tentar entender a bengala e os óculos para pessoas com deficiência visual, para escrever esse texto, a minha maior curiosidade estava na interação sensor que detecta obstáculos à frente e a forma como eles avisam ao usuário para que ele se proteja.

Conversei então com Marcelo Martins, mestrando em informática na PUC do Rio de Janeiro e graduado em Engenharia de Computação pela Universidade Federal do Ceará, que junto a Camila Diógenes, Johnny Marcos, Letícia Saraiva e Carlos Ferreira, quando estudantes da graduação, começaram a desenvolver projetos para participar de competições de inovação. Estamos falando do ano de 2016.

É + que streaming. É arte, cultura e história.

+ filmes, séries e documentários

+ reportagens interativas

+ colunistas exclusivos

A aptidão de Marcelo para buscar soluções de convívio com as atividades da vida diária para cegos vem do ensino médio – período no qual despertou para a ideia da bengala que levaria ao desenvolvimento na faculdade e materializaria, dessa forma, o equipamento inicial. É preciso dizer que a bengala já nasceu trazendo desafios, afinal a locomoção ficaria razoavelmente segura, mas apenas abaixo da linha da cintura. O que pra ele era pouco.

Com ajuda de futuros usuários, por meio de entrevistas, foram surgindo outras ideias. Uma delas tem a ver com o descrito no parágrafo anterior. Se da cintura para baixo estava garantido, como proteger o rosto? Dessa foram surgiu o smart glass que, como diz Marcelo, saiu de dentro da bengala. Essa compreensão de que um invento saiu de outro tem a ver com o conceito de “embarcado”, ou seja, os códigos de transmissão do que é captado pelos sensores e comunicado a um aplicativo no celular – equipamento responsável pela tradução dos obstáculos à frente para o usuário. A bengala e os óculos são produtos distintos com uma lógica parecida e que pode ser transferida de um meio para outro.

O primeiro invento
O primeiro invento (Foto: Divulgação)

“Em 2017 participamos de uma competição especial, a de sistemas embarcados da SBC (Sociedade Brasileira de Computação) com a bengala que recebeu menção honrosa. Em 2018 no Salão do Inventor da Feira do Conhecimento ficamos em primeiro lugar, desta vez com os óculos”, diz Marcelo. O software contido no celular e que gerencia o smart glass, aqui na história, surge com a colaboração de mais um estudante, Jeimison Lima.

Posicionamento da cabeça é uma ciência a mais que vem sendo desenvolvido para trazer mais segurança. Os testes efetivamente envolvendo PCD´s foram parados em função da pandemia, mas voltarão, eles garantem. Sobre organização administrativa, Marcelo dia que “ainda não é uma startup” e complementa que “estivemos nos corredores digitais, porém não demos continuidade porque a graduação pesou e não conseguimos. Mas gosto de pesquisa e gosto de ver o retorno social”.

Os óculos detectam de 3 a 80cm de distância de maneira ajustável e as barreiras são transmitidas ao usuário por meio do celular na forma de som ou vibração. Finalizo esse texto registrando que é importante a chegada ao mercado por vários motivos. Para que ajude quem precisa é um deles, mas também para que o filtro mercadológico potencialize a invenção e provoque outros estudantes a inventarem mais soluções para mais desafios cotidianos, de tal maneira que todo problema faça parte da lembrança de algum pesquisador.

E por falar em lembrança, esse texto não pode deixar de prestar reverências aos professores e orientadores Roberta Dutra, Wagner Al-Alam, Maria Simone Nunes, Paulo Aguilar e Andréia Libório. “Por favor não esquece ninguém”, relembra e finaliza Marcelo.

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar