Bate-papo com IA permite que usuário converse com versão de si mesmo no futuro
Os usuários devem responder a um questionário para que a IA do bate-papo crie uma versão do futura dos usuários. O POVO testou a ferramenta; confira
17:45 | Jul. 26, 2024
Conversar com uma versão de si mesmo no futuro pode até parecer uma ideia absurda demais, que foge da realidade. No entanto, essa é exatamente a proposta do projeto do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, com base no uso de Inteligência Artificial (IA).
A partir da utilização de um chatbot, a equipe responsável pelo projeto “Future You” propõe que seja possível que os usuários da tecnologia sejam capazes de falar com uma versão futura de si mesmos criada por IA.
Inspirações e objetivos do bate-papo com um “futuro eu”
O desenvolvimento do chatbot é fruto do trabalho de um grupo de integrantes do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e de outras instituições. O projeto é inspirado em estudos prévios que abordam elementos relacionados aos efeitos que essa tecnologia pode gerar na sociedade humana.
Um dos fatores estudados é o modo como o aumento da “autocontinuidade futura” pode ter influência sobre o comportamento, o desempenho acadêmico e a saúde mental dos usuários.
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Um dos objetivos da iniciativa é disponibilizar um bate-papo que possa auxiliar os usuários a desenvolverem ideias e comportamentos de longo prazo, o que pode ajudar no estreitamento no relacionamento com uma versão virtual e identificável de si mesmos.
Como funciona o bate-papo com seu eu do futuro?
A partir da IA generativa e do acesso ao chatbot é possível desenvolver um ou mais diálogos com seu “futuro eu”. Para isso, contudo, é preciso responder a um questionário com inúmeras pessoais, como experiências de vida marcantes e planos para o futuro.
Com essas informações, o sistema poderá fazer uma avaliação dos objetivos futuros, qualidades pessoais do usuário, pontos emocionais específicos, sendo possível a criação de um “futuro eu”.
Uma curiosidade é que, no chat, a imagem do perfil do "eu do futuro" do usuário é uma foto de si mesmo envelhecida, o que torna a experiência um pouco mais imersiva.
Seu eu do futuro pode não ser como você imagina
Existe a possibilidade de a sua versão futura não se parecer com você, já que se trata de uma IA generativa em treinamento, o que dificulta a criação de uma versão muito próxima da realidade.
Além disso, ela usa informações disponibilizadas pelo usuário, que podem ser imprecisas ou abrir espaço para mais de uma interpretação.
Tecnologia que permite usuário conversar com seu "eu do futuro" repercute nas redes sociais
Nas redes sociais, usuários comentam como é a experiência de utilizar o bate-papo para falar com uma versão futura de si mesmos. “Falei com meu ‘futuro eu’ hoje e foi uma experiência muito engraçada”, disse um.
“Acabei de experimentar #MITFutureYou... em que meu eu, supostamente, de 60 anos, fala comigo. É muito interessante de fazer, mas, se eu envelhecer tanto em pouco mais de 7 anos quanto a imagem que foi criada, eu ficaria bastante chocada”, relata outra internauta.
O que acontece com os dados fornecidos no questionário?
Os pesquisadores responsáveis pelo projeto informam que os dados fornecidos pelas pessoas que utilizarem o serviço serão salvos e usados anonimamente para a realização de pesquisas relacionadas ao contexto do serviço.
Eles destacam ainda que as versões futuras dos usuários criadas pela IA não são uma “profecia” ou uma previsão de eventos futuros, mas uma narrativa gerada por um modelo de linguagem ampla personalizada a partir das respostas do questionário.
O POVO testou: bate-papo com IA cria versão futura dos usuários
Ao acessar a plataforma do Future You, o usuário se depara com uma tela inicial, na qual há um aviso de que os dados coletados serão anônimos e utilizados para fins de pesquisa. Abaixo, há as opções de iniciar um novo acesso ou entrar em uma sessão pré-existente.
Os textos do site são originalmente em inglês, mas é possível traduzi-los (exceto o formulário inicial) para o português caso haja um tradutor automático no navegador em que a plataforma está aberta.
Clicando no botão de iniciar, surge um formulário do Google, no qual o usuário deve se atentar aos termos de participação e pode ou não conceder o uso dos dados coletados para estudos e pesquisas.
Em seguida, uma série de questões sobre seus sentimentos, suas emoções e sua percepção de si devem ser respondidas. Findadas as respostas, o usuário deve enviar o formulário e digitar na caixa de texto na parte inferior da página a senha fornecida ao final da pesquisa pré-estudo.
Após isso, inicia-se o questionário para “construir” seu “eu do futuro”. O site pede inicialmente informações básicas sobre o usuário e as perguntas se tornam mais complexas a medida que o usuário avança nos questionário.
As questões vão desde a orientação sexual até a descrição de momentos marcantes da vida do usuário, pedindo detalhes de momentos em que tenha sido preciso tomar alguma decisão difícil. É solicitado inclusive que a pessoa tente se imaginar com 60 anos de idade.
É importante salientar que quanto mais detalhes forem fornecidos pelo usuário no questionário que precede o bate-papo, mais fidedigna será a versão futura de si no chat.
Ao finalizar as respostas, uma conta deverá ser criada, com nome de usuário, senha e e-mail vinculado, para então se ter acesso ao chat com a IA. Se houver interesse, a pessoa pode adicionar uma foto de perfil.
A foto deve ser com o rosto do usuário bem visível. Assim, a imagem será “envelhecida” por inteligência artificial para criar uma versão futura da pessoa com base no rosto da fotografia.
Por fim, ao clicar no botão “iniciar bate-papo”, o chat com seu “eu do futuro” estará aberto e será possível conversar com ele. Perguntas, dúvidas e reflexões podem ser pontos chave para desenvolver um diálogo com a IA.
O POVO testou chat de IA que simula seu “eu do futuro”: veja pontos positivos e negativos
O POVO testou a plataforma “Future You” e listou os aspectos positivos e negativos da experiência com o bate-papo de IA.
Pontos positivos:
1. Qualidade das perguntas: As perguntas no questionário são pertinentes e se justificam pela proposta da plataforma de criar uma versão mais próxima da realidade do usuário;
2. Incentivo à autoanálise: A estratégia de estimular o usuário a fazer uma autoanálise é, até certo ponto, eficiente em distanciar a percepção das outras pessoas sobre si e abrir espaço para respostas mais autênticas;
3. Coerência: O “eu do futuro”, de fato, é fiel às informações coletadas, conecta cada uma delas e cria narrativas coerentes e coesas, embora nem sempre verdadeiras;
4. Informações novas: O conteúdo da conversa não se restringe apenas aos dados captados no questionário, mas “arrisca” um pouco para novas possibilidades que, não necessariamente, foram mencionadas pelo usuário nas respostas às perguntas anteriores ao chat.
Pontos negativos:
1. Restrição linguística: O formulário da pesquisa pré-estudo (em que estão os termos de participação) é disponibilizado apenas na língua inglesa e não permite tradução automática no navegador;
2. Respostas longas: As perguntas que antecedem o chat demandam respostas consideravelmente extensas e tomam um tempo significativo do usuário, o que poderia ser evitado caso as perguntas fossem mais segmentadas e com focos específicos;
3. Previsibilidade: Apesar de trazer algumas possibilidades novas, o chat é previsível e parece ter receio de inovar nos cenários, aproximando-se do clichê. Grande parte do que a IA diz nas mensagens do bate-papo é apenas uma repetição das respostas do próprio usuário no questionário;
4. Prolixidade: A IA, por vezes, pode desviar do assunto quando uma pergunta é feita e se alongar em respostas desnecessárias ou incoerentes.
Poder falar com uma versão futura de si mesmo é algo que, de fato, chama a atenção e gera curiosidade em quem tem acesso. O mais importante é estar ciente dos termos de participação e ter ciência do uso das informações fornecidas.
Os benefícios de uma experiência como essa também devem ser levados em consideração, já que, a partir dela, é possível desenvolver uma visão mais atenta de si mesmo e das próprias qualidades e defeitos.