TikTok será banido nos Estados Unidos? Entenda decisão de Biden
Banido ou vendido? Decisão da rede social pode afetar a presença da empresa em território norte-americano após projeto de lei sancionado por Biden
19:53 | Abr. 24, 2024
Um projeto de legislação destinado a forçar a ByteDance, a empresa chinesa responsável pelo TikTok, a vender a sua propriedade do aplicativo nos Estados Unidos ou ser banida no país foi aprovado pelo presidente Joe Biden nesta quarta-feira, 24.
A decisão vem após projeto de lei ser aprovado na Câmara e no Senado, com o objetivo de estipular um prazo equivalente a um ano para que a empresa encontre um comprador. A medida foi considerada no mesmo dia em que o Congresso votou um pacote de ajuda para Ucrânia, Israel e Taiwan.
A Casa Branca já havia apresentado esforços contra o aplicativo em 2023, ao solicitar que o TikTok fosse excluído de todos os dispositivos governamentais. No mesmo ano, a rede social celebrou mais de 150 milhões de usuários mensais nos EUA.
O CEO do TikTok, Shou Zi Chew, compartilhou uma gravação no perfil da própria rede social, em resposta à decisão de Biden. “Não se enganem, isso é um banimento: Um banimento do TikTok e um banimento de vocês e de suas vozes”, alertou o singapurense.
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TikTok x EUA: e se o app for banido?
Na distribuição global do aplicativo até janeiro de 2024, dados da Statista colocam os Estados Unidos como líderes de audiência do TikTok: cerca de 150 milhões. Na sequência, a Indonésia apresenta 126 milhões de usuários, enquanto o Brasil, em terceiro, alcança quase 99 milhões.
“A forma que o usuário consome o conteúdo no TikTok é diferente, por exemplo, do que ele consome em outros, como Instagram, Facebook, e Snapchat”, indica Bruno Lessa, professor do programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade de Fortaleza (Unifor).
“É, de certa forma, um benchmarking, aquela plataforma referência nos EUA, principalmente entre um grupo jovem, de 18 a 25 anos”, completa.
O profissional avalia um impacto ainda maior aos criadores de conteúdo, no caso de um banimento do TikTok em território norte-americano. “Inclusive, temos o termo ‘tiktoker’, aquela pessoa que trabalha exclusivamente ou principalmente na plataforma, e tem com ela a sua fonte de sustento, de enriquecimento”.
“Esse público, mais especificamente os criadores, vão ser profundamente afetados e vão ter que procurar outras plataformas para conseguir monetizar o seu conteúdo”, diz.
A situação não é novidade: em 2020, quando o governo do primeiro-ministro Narendra Modi baniu o TikTok da Índia, os criadores do país precisaram se adaptar à nova realidade e migrar para outras redes pré-existentes, que ofertavam uma experiência similar.
Um ano após o banimento, a criadora de conteúdo Shivani Kapila revelou em entrevista ao portal India Today que a sua reação inicial foi de descrença. Kapila havia deixado o emprego como profissional de Recursos Humanos (HR) para se dedicar totalmente ao TikTok, antes do app ser retirado.
“Pude ver todo o trabalho árduo que me rendeu 10 milhões de seguidores desaparecendo de vista como se nunca tivesse existido”, desabafou ao veículo indiano.
Seguindo o choque inicial, Shivani agora pode ser encontrada no Instagram, com mais de 1 milhão de seguidores, e no YouTube.
TikTok x EUA: escalada de tensões
Para Lessa, a decisão de um possível banimento sinaliza uma escalada nas tensões que se agravam desde 2016 nas relações comerciais entre os Estados Unidos e a China.
“É bem provável, inclusive, que a China responda, de certa forma. E isso vai impactar, uma vez que China e Estados Unidos, mesmo com essas tensões, são parceiros comerciais muito próximos”, diz o profissional.
“As empresas de tecnologia chinesas têm, sim, um papel estratégico, mas não é menor ou não é menos relevante do que o papel que as empresas norte-americanas, como a Google, como a Apple, a Meta, também têm”, considera.
Em sua avaliação, essas empresas são consideradas ativos estratégicos nas políticas internas e externas de seus países, além de sua influência na geopolítica como um todo.
“Não só as empresas de tecnologia, no âmbito dessas plataformas, mas se pensar o quão estratégica é para a indústria automobilística, nas suas cadeias complexas, essa competição no cenário de veículos elétricos, como a gente vê, por exemplo, a Tesla e a BYD”, acrescenta.
TikTok x EUA: o cenário para as empresas de tecnologia
“As outras empresas, fora desse eixo dos dois países, vão enfrentar uma série de desafios”, começa Bruno Lessa. Entre eles, está a adaptação a marcos regulatórios diversos — “que não são apenas diferentes, mas potencialmente conflitantes”.
“E isso tem muito potencial para minar a colaboração e consequentemente minar, reduzir, o potencial inovador que as empresas têm, uma vez que um caráter fundamental da inovação é a colaboração”, alerta.
Considerando que as empresas de tecnologia obedeçam aos marcos regulatórios de cada potência, implica-se uma mudança drástica de suas operações — “o tipo de pessoal, o tipo de fornecedor” —, o que pode encarecer as operações ao torná-las mais complexas.
“O problema não são essas grandes empresas trilionárias, são aquelas empresas satélites que pretendem entrar nesses mercados. Vai afetar diretamente a escalabilidade que as empresas vão ter”, completa.
TikTok x EUA: conheça a ByteDance
Operando em Pequim, na China, a ByteDance ou Beijing ByteDance Technology Co. Ltd foi fundada em 2012 por Yiming Zhang e Rubo Liang. A receita global estimada para a empresa é de US$ 110,00 bilhões, de acordo com dados da Statista.
Em 2016, a companhia lançou o “irmão mais velho” do TikTok, conhecido como Douyin. Os dois aplicativos compartilham a logo e o objetivo de apresentar vídeos curtos aos seus usuários, mas o “primogênito” se restringe ao país de origem.
TikTok é o único aplicativo da ByteDance nos EUA?
O TikTok não é a única propriedade da chinesa ByteDance, que também é dona do aplicativo de edição de vídeo CapCut. A plataforma foi a segunda da empresa a alcançar a marca de US$ 100 milhões em gastos do consumidor no iOS e no Google Play em 2023, segundo informe da Data.ai.
TikTok já foi banido em outro lugar?
O TikTok foi banido da Índia em junho de 2020, ao lado de mais de 58 aplicativos de origem chinesa, após conflito na fronteira com a China. Entre as motivações, o governo de Narendra Modi citou questões de segurança cibernética.
As autoridades do Paquistão também já baniram o aplicativo pelo menos quatro vezes de seu país, citando preocupações com a promoção de “conteúdo imoral”.
No Canadá e Nova Zelândia, representantes seguiram o exemplo dos EUA e baniram o aplicativo em dispositivos emitidos pelo governo.
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