Samsung traz linha 2023 de TVs ao Brasil; entenda mudanças

Televisores foram lançados em evento na última terça-feira, 6; linha de televisores tem versão Oled e, nos modelos mais avançados, preços de até R$ 80 mil

06:35 | Jun. 16, 2023

Por: Bemfica de Oliva
Samsung realizou evento na última terça-feira, 6, para lançar linha 2023 de televisores no Brasil (foto: Bemfica de Oliva)

Salvo exceções bem pontuais, atualmente a maioria das fabricantes de eletrônicos trabalha com um ritmo de lançamento anual para seus produtos - algumas indo mais a fundo e anunciando novas gerações a cada seis meses. Por isso, compreendo aqueles que, vendo de fora, não percebem a mudança importante acontecida na linha de televisores da Samsung para 2023.

Lançadas há alguns meses, as TVs tiveram o anúncio para o mercado brasileiro formalizado na última terça-feira, 6, em um evento para jornalistas em São Paulo (SP). Como habitual, grande parte do evento foi de fato muita conversa idealizada pelos departamentos de marketing. Mas, nas entrelinhas, havia algo bem significativo. Ou, na verdade, muitas coisas.

A volta das televisões Oled da Samsung

Começando do mais chamativo: a Samsung é uma das principais fabricantes, a nível mundial, de telas Oled - aquelas que apresentam "preto real", com melhor contraste e cores mais vívidas que as LCD convencionais. Até mesmo a Apple, sua maior concorrente em smartphones, usa painéis feitos pela sul-coreana. Por isso, é de se estranhar que, na última década, a empresa não tenha lançado televisores com esta tecnologia.

Em 2014, a Samsung anunciou que deixaria de vender TVs deste tipo "devido à baixa lucratividade" do segmento. Quem aproveitou a situação foi a LG: também grande concorrente da conterrânea - em eletrodomésticos, televisores, computadores e diversos outros nichos -, ela seguiu basicamente como a única empresa do ramo: Sony e Panasonic também desistiram, à época, de produzir painéis com Oled.

Outras empresas, como a TCL e diversas marcas europeias, seguiram vendendo televisores do tipo. Todas, no entanto, compravam os painéis da própria LG. À época, a questão era: o processo de fabricação usado pela LG era levemente mais barato, porém gerava telas de qualidade inferior. A Samsung (além de Sony e Panasonic), por sua vez, investiu em uma tecnologia com melhor imagem, mas custos mais altos.

O resultado foi que, desde então, uma fabricante deteve o monopólio de televisores Oled - não por práticas anticompetitivas, apenas por ninguém mais querer aquele nicho.

Enquanto isso, a Samsung divulgava os benefícios de suas outras tecnologias para TVs: painéis de "pontos quânticos", miniLED e microLED eram ditos pela fabricante como superiores aos modelos Oled. Em alguns pontos, isso é fato: o brilho das telas é maior, e elas não sofrem do efeito de burn-in (quando elementos estáticos da imagem, ao serem exibidos por muito tempo, deixam "manchas" na tela) tão sintomático dos modelos Oled.

Mas ambas as arquirrivais não dormiram no ponto. A Samsung focou na produção de telas Amoled menores e, ao longo dos anos, foi aumentando os painéis. Smartphones, depois tablets, notebooks, aparelhos com telas dobráveis... Até chegar, novamente, a TVs e monitores, em 2022.

A LG, por sua vez, foi aperfeiçoando o que já tinha. A tática foi melhorar a qualidade das TVs Oled, ao mesmo tempo em que buscava maneiras de tornar a fabricação mais barata. Ironicamente, os caminhos se cruzaram. Em 2022, as empresas anunciaram uma parceria inédita: até o fim deste ano, a Samsung deve lançar um televisor Oled... Com painel feito pela LG.

O motivo é que o modelo terá diagonal de 83", mas as fábricas da Samsung não são capazes de produzir painéis tão grandes. Já desde o ano passado, porém, ela voltou ao nicho de TVs Oled, com telas de produção própria, em tamanhos de 55, 65 e 77".

Me demoro no tema, aparentemente irrelevante para quem não é aficionado por tecnologia, por dois motivos. O primeiro é simples: quem usa celulares com telas Amoled - virtualmente todos os intermediários e carros-chefe dos últimos três anos ou mais - já se apaixona pelas imagens mais vívidas.

Quem olha uma televisão com diagonal dez ou 15 vezes maior, porém, fica simplesmente hipnotizado. Assista um filme no televisor Amoled de um amigo e, ao voltar para casa, sua smart TV de alguns milhares de reais vai parecer pouca coisa melhor que uma tela de tubo dos anos 1990.

O segundo é a relevância de trazer os produtos ao Brasil. Embora os primeiros modelos do retorno da Samsung às TVs Oled tenham sido lançados em 2022, e não tenham chegado ao País, eles foram um "test drive" da fabricante para saber se o mercado teria abertura. Apenas os Estados Unidos e alguns países da Europa receberam os modelos, em quantidades relativamente baixas (para o tamanho da indústria - considere que, a título de exemplo, 95% dos lares brasileiros têm pelo menos uma televisão).

Para 2023, o Brasil recebe os modelos mais avançados de televisões da Samsung (incluindo as TVs Oled, mas não limitando-se a elas) apenas três meses após eles chegarem à Coreia do Sul. Quem acompanha a qualquer nível notícias sobre tecnologia sabe o quanto as empresas se dedicam a disponibilizar os produtos mais avançados em seus países de origem.

O que a Samsung quer no mercado brasileiro?

Este movimento, é importante pontuar, não ocorre de forma isolada no portfólio da empresa. Desde 2022, smartphones da Samsung chegam ao Brasil na mesma semana em que são anunciados globalmente - há quatro ou cinco anos, isso podia demorar um semestre inteiro. Monitores, computadores - e agora TVs - ainda não estão no mesmo nível de lançamentos simultâneos, mas a distância tem reduzido a passos largos.

Só quem pode responder, de fato, à pergunta do intertítulo, são os executivos da Samsung - e desconfio que não tenham muita vontade de falar abertamente do assunto quando a concorrência tem ouvidos atentos. Mas, pela experiência no ramo, me coloco a considerar algumas possibilidades.

Sobrevivemos à pandemia, agora é hora de viver

A primeira é que os clientes estão mais abertos. Até meados de 2022, praticamente todo lançamento de eletrônicos que cobri mencionava "as necessidades que as pessoas descobriram na pandemia" - e, como já pontuei em algumas análises de produtos, isso é uma realidade concreta. Passando menos tempo na rua, é normal que se comece a ter demandas que não eram tão significativas antes.

Uma cadeira mais confortável para trabalho e estudos, um celular que rode vários aplicativos de delivery ao mesmo tempo para comparar preços ao fazer um pedido, e, certamente, TVs de melhor qualidade para o cinema em casa. Com a economia dando sinais de recuperação, essas demandas saem do nível de luxo e passam a ter alguma possibilidade de espaço no orçamento.

E é um efeito cascata: quem precisou se virar desde 2020 com aulas à distância pelo celular, agora pode estar considerando um notebook; quem ouvia músicas apenas no YouTube, desejando maior controle sobre as playlists e assinando um serviço de streaming; quem já ia gastar alguns milhares de reais em uma TV intermediária, talvez ache uma boa ideia aumentar um pouco a parcela e pegar um modelo mais avançado.

Parece algo fora da realidade quando consideramos que, há alguns meses, pessoas formavam filas em açougues para receber doação de ossos. Mas o adolescente que sofreu para passar o ensino médio fazendo as tarefas em um smartphone certamente terá um aumento na qualidade de vida (e de aprendizagem) se, ao entrar na faculdade, tiver um computador para esta função.

Na Samsung, particularmente, é uma questão que venho acompanhando há algum tempo, e de fato o discurso se alinha à prática. Ainda que, recentemente, eu tenha tecido duras críticas à falta de inovação nos celulares topo de linha da empresa, ao analisar modelos intermediários, notei a estratégia de levar as funcionalidades avançadas, gradualmente, aos aparelhos mais baratos - não que a indústria como um todo não faça o mesmo, mas o ritmo com que a marca aplica isso é mais notável.

E vale para outras categorias: o televisor mais avançado anunciado na semana passada, QN900C, custa assustadores R$ 80 mil (quando conto que a TV mais cara da Samsung, lançada em 2022, custa literalmente R$ 1 milhão, recebo olhares incrédulos iguais aos que eu mesma ainda tenho sobre o tema), e tem bordas tão finas que, à distância do sofá para assistir um vídeo, parece que a imagem está flutuando na parede.

Esta mudança física chegando aos modelos de base, na linha Crystal UHD, pode significar para uma família que a TV nova caberá naquele rack da sala que é repassado há gerações, em vez de gerar mais um gasto a quem só queria assistir à novela e ao futebol com uma imagem melhor.

Empresas ainda são empresas, mercado ainda é mercado

Mas nem tudo pode ser analisado apenas sob essa ótica pueril. As fabricantes querem lucrar, e isso envolve estratégias. Aqui chego à segunda conjectura sobre as escolhas da Samsung.

Na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2021, de onde tirei a estatística sobre os lares brasileiros com televisores, há outro dado importante: 99,5% das casas brasileiras possuem pelo menos um smartphone - que tomaram o lugar dos computadores, mas também das TVs, como plataformas prioritárias no consumo de conteúdo.

E - algo ainda pouco falado nas análises da mídia de tecnologia - cabe lembrar que a disputa pelo terceiro lugar no mercado brasileiro de smartphones segue aberta.

Marcas como Oppo, Realme e TCL, que tentam batalhar por uma parcela dos consumidores que a LG deixou ao encerrar a fabricação de celulares, usam táticas como preços menores (ou nem tanto) e caixas com muitos acessórios para atrair potenciais clientes.

A Samsung, líder de mercado e com um portfólio mais abrangente, usa outras táticas. Uma delas é o fortalecimento da marca, em uma estratégia de marketing quase subliminar - que não é exclusividade da marca, cabe pontuar, e sim uma prática da publicidade como um todo, há décadas.

Mas vejamos: ao passar por um varejo de eletrodomésticos, há lava-louças da Samsung com espaço de destaque na fachada. Na vitrine da loja de computadores, notebooks da marca. O quiosque de celulares tem uma fileira toda apenas de smartphones Galaxy. Esta onipresença deixa o nome da empresa em evidência na mente do consumidor, em algo que se retroalimenta: quanto mais ele lembrar de uma categoria de produtos da fabricante, mais se lembrará das outras.

Junto a isso, está a "formação de ecossistema", expressão batida há mais de década na boca de entusiastas de tecnologia, mas que tem dado resultados com o consumidor médio. Exemplificando: quem tem um iPhone consegue ter experiências de uso muito melhores com um computador, um tablet, um smartwatch e fones de ouvido, se todos estes produtos forem também da Apple. No jargão da área, a integração é feita de forma "automágica".

No quesito de diversidade de produtos, a Samsung vai um tanto além. Há todas as categorias que mencionei acima, mas também robôs aspiradores de pó, eletrodomésticos, e, voltando ao ponto central deste texto, televisores. Não por acaso, parte da exposição feita aos jornalistas foi justamente o uso das TVs como uma "central de comando" destes produtos, com a tela grande exibindo os aparelhos conectados e o celular realizando o controle das funcionalidades de cada um.

Em que pese que a Samsung não é a única a investir nessa tática: a Xiaomi é outro exemplo notável - além da própria Apple, apesar de ter menos categorias de produtos para a integração. A Motorola tem trabalhado algo similar, embora de forma limitada, entre os smartphones topo de linha e computadores ThinkPad, da Lenovo (empresa dona da Motorola).

E, por fim, a diferenciação dos produtos. Se há televisores (não apenas Oled) da Samsung, da LG, da TCL, da Sony, entre tantas outras, o que as marcas fazem para se destacar da concorrência?

Uma das apostas da Samsung, nas TVs, é a linha Lifestyle. Cada modelo oferece funcionalidades únicas - entre a própria linha e entre os televisores da marca como um todo - para atender públicos extremamente nichados, e também demarcar uma posição de diferencial.

Os modelos The Frame, por exemplo, usam painéis foscos e têm iluminação distinta, além de molduras intercambiáveis que simulam quadros. Quando não estão sendo usadas para transmitir o episódio mais recente da sua série favorita, elas entram no "modo arte", exibindo quadros diversos, de artistas clássicos e contemporâneos.

Na teoria a ideia pode parecer até boba, mas, vendo pessoalmente, o efeito é impressionante. Tive dificuldade de acreditar que alguns dos modelos em exposição eram realmente TVs. Me incomodou, no entanto, que há uma seleção limitada de obras, sendo necessário assinar um serviço mensal da Samsung para liberar o acesso a todas as pinturas.

A The Sero, por sua vez, tenta "imitar" um smartphone conectado ao televisor. Com uma base giratória, a TV pode mudar automaticamente do modo paisagem (horizontal), mais utilizado, para a posição retrato (vertical), como nos displays de celulares. Quem sempre sonhou em assistir vídeos do TikTok na tela grande finalmente terá esta oportunidade.

Os projetores The Freestyle e The Premiere são... Bem, projetores. Com excelente qualidade de imagem, é importante pontuar, e características próprias. O primeiro é focado em portabilidade, tendo um formato compacto, além de uma bolsa para transporte e a possibilidade de ser alimentado por carregadores portáveis.

O segundo, do tamanho de um aparelho de DVD dos anos 2000 (ou, para os mais antigos, de um vídeo-cassete), consegue projetar uma imagem de 100" estando a 11 cm da parede - ou gigantescas 130" a 24 cm. Ambos incluem alto-falante integrado e funções de smart TV.

Nota-se que, individualmente, nenhum destes modelos é inovador a ponto de desbancar toda a concorrência. A ideia aqui, ao que parece, foi criar produtos chamativos, que sejam "memoráveis" aos seus respectivos públicos-alvo, e ajudem tanto a consolidar uma percepção sobre a Samsung na mente do consumidor quanto atrair vendas para os modelos mais, digamos, convencionais.

TVs para quem só quer assistir TV

E, fechando este texto, um breve apanhado destes televisores para o consumidor que, no fim das contas, busca apenas a melhor qualidade de imagem e som que caiba no seu orçamento.

Aliás, vários orçamentos. Mencionei acima modelos que, grosso modo, você espera encontrar na mansão de alguém que tenha o próprio jatinho (ou vários). Mas há opções para nós, mortais, também.

Começando dos orçamentos mais básicos, a linha Crystal UHD 4K tem preços que partem de R$ 2.200 à vista ou a prazo, e tamanhos de 43 a 85", em dois modelos: CU7700 e CU8000. Nos destaques ficam o design fino - o painel tem apenas 2,5 cm de espessura, e, lembremos, estes são os modelos mais baratos - e a base ajustável.

Logo acima estão os televisores QLED 4K. Aqui, os diferenciais são a certificação Pantone da fidelidade de cores e a tecnologia de upscaling (imagens em resolução menor são transformadas em 4K por inteligência artificial). Com tamanhos de 50 a 85", os modelos começam em R$ 3.000 à vista ou R$ 3.200 a prazo.

Já chegando nas opções mais caras, a linha Neo QLED 4K tem tamanhos de 43 a 85" e traz, para este ano, a tecnologia de painéis e os processadores usados nos modelos 8K de 2022. A Samsung classificou os modelos como "televisores gamer", inclusive com um espaço dedicado a jogos no evento, destacando funções como o gaming hub, que oferece possibilidades de customização para partidas multiplayer ou individuais, e a alta taxa de atualização, chegando a 144 Hz nas QN90C de 43 e 50".

O topo de linha fica com as Neo QLED 8K. Enquanto o upscaling das QLED mais básicas usa 20 redes neurais (sistemas de processamento que funcionam de forma similar ao cérebro humano), as mais caras trabalham com 64 conexões deste tipo e inteligência artificial para a funcionalidade - algo necessário, em especial, quando se considera a dificuldade de encontrar conteúdos produzidos nativamente em 8K.

Visualmente, os modelos QN800C e, principalmente, QN900C, impressionam pela sensação de que a imagem está flutuando na parede. Os preços, que começam em R$ 13 mil para os modelos deste ano, também são de cair o queixo.

Para encerrar pelo começo, a linha Oled vem em um único modelo, a S90C, com tamanhos de 55 e 65". Como falei há alguns parágrafos, é difícil explicar a sensação visual de observar as imagens em um painel Oled deste tamanho.

No press release, a Samsung pontua que usou o tempo fora deste nicho para conseguir "insights valiosos", destacando a já mencionada luminosidade da tela. Segundo a fabricante, o televisor usa inteligência artificial para "escanear a imagem e potencializar o brilho" - na apresentação dos produtos, contudo, os executivos da empresa afirmaram que os modelos Neo QLED ainda são melhores neste aspecto, e que a ideia é dar ao consumidor a opção de escolher entre o contraste infinito ou imagens mais claras.

Funções dos outros modelos 4K estão presentes aqui, como o upscaling, a taxa de atualização de 144 Hz e o gaming hub. A S90C de 55" sai por R$ 6.650 à vista e R$ 7.000 a prazo, enquanto a versão de 65" custa, respectivamente, R$ 11.400 e R$ 12 mil. Os valores, especialmente para o tamanho menor, não ficam muito acima dos cobrados por modelos Neo QLED de mesma resolução.

A repórter viajou para o evento a convite da Samsung