Testamos: Galaxy S23 Ultra, o topo da cadeia alimentar ainda evolui?
Apesar de não ser o modelo mais caro da Samsung, Galaxy S23 Ultra é onde estão as funções mais avançadas de celulares da empresa; preços começam em R$ 5.999
10:49 | Jun. 03, 2023
Matéria atualizada em 14/6/2023 para corrigir informações
Quando comecei a me interessar por tecnologia, ainda na adolescência, não era muito significativa a diferença entre a experiência oferecida por celulares topo de linha e os modelos mais baratos. As telas eram um pouco melhores; as câmeras, apesar de terem mais resolução, seriam consideradas igualmente inutilizáveis atualmente; a bateria durava dias em qualquer modelo, e por aí vai.
Claro, havia distinções: quem vivia naquela época lembra do clássico Razr V3, da Motorola, com design ultrafino e teclado de metal cortado a laser. Outro que seguiu objeto de desejo por anos foi o Nokia N95, que, em vez do design (não que fosse feio para os padrões da época, apenas tinha menos foco neste aspecto que o V3), centrava forças nas funções de smartphone, quando mal existiam smartphones.
No mesmo ano do modelo da Nokia, porém, foi lançado o primeiro iPhone, que mudou a concepção de como um celular deveria ser. Mesmo aparelhos que tinham funcionalidades avançadas, como o N95 - acesso à internet, câmera (para a época) potente, grande armazenamento (houve uma versão com 8 GB, quantidade que só o próprio iPhone rivalizava) e até mesmo aplicativos -, não eram mais o suficiente. Em poucos anos, os smartphones se tornaram a categoria dominante.
O Android foi responsável por grande parte desta popularização. Aparelhos Windows (primeiro a versão Mobile, excessivamente complicada, depois a Phone, que tinha potencial mas não decolou) não caíram no gosto popular, os BlackBerry eram focados demais no público corporativo, e os iPhones, embora desejados por muita gente, sempre tiveram preços proibitivos.
O ponto é: por ter sido pensado, desde o princípio, para uso em uma grande variedade de aparelhos, o Android podia oferecer experiências totalmente distintas. Quem comprasse um smartphone Motorola ou Sony, por exemplo, que custava quase o mesmo de um iPhone, teria poucas dores de cabeça. Quem dispunha de menos dinheiro levava para casa um modelo de entrada - os Galaxy Y foram amplamente populares, mas a maioria das fabricantes tinha dispositivos em todas as faixas de preço.
Com isso, por muito tempo, pegar os aparelhos mais baratos implicava em ter mais complicações que facilidades. Travamentos frequentes, funções faltantes (a câmera frontal só foi chegar a essa categoria entre 2012 e 2014, a depender da marca), aplicativos que não funcionavam... E os pontos negativos dos smartphones caros, como o gasto com internet móvel, a bateria de baixa duração e mesmo a insegurança de ter o aparelho roubado ou furtado, não deixavam de existir aqui.
A situação foi melhorando ao longo dos anos e, hoje, um aparelho de entrada novo tem funções, no mínimo, razoáveis. Dos intermediários em diante, pode-se dizer que não há adicionais estritamente necessários, pois no uso cotidiano são poucas as diferenças para um topo de linha.
Por um lado, isso é excelente: significa que a categoria atingiu maturidade suficiente para que as faixas de preço se distinguam pelas necessidades de uso. Não é necessário comprar um intermediário ou o modelo mais caro para que o smartphone seja sequer utilizável.
Por outro, traz o risco de estagnação. Certamente, uma tela dobrável ou painéis que cubram a frente inteira do aparelho são bons adicionais, mas, grosso modo, é difícil dizer qual foi a última grande mudança nos smartphones que trouxe ganhos reais aos usuários. Leitores de impressões digitais, múltiplas câmeras e resistência a água talvez sejam algumas funcionalidades significativas, mas não apostaria necessariamente nelas.
A cada ano que passa, essa situação fica mais nítida. A transição entre smartphones com bordas imensas e os atuais cuja frente é toda ocupada pela tela levou quatro anos - do quase-conceitual Mi Mix, da Xiaomi, em 2016, até o formato chegar a aparelhos mais baratos, em 2020.
No mesmo ano do Xiaomi foi lançado o LG G5, primeiro celular com duas câmeras (à exceção de alguns que capturavam fotos e vídeos em 3D, mas o uso era bem distinto). Ainda em 2023, um modelo de entrada com três lentes vai ter um sensor de profundidade, que não tira fotos, e um macro, cujas imagens são tão ruins que nem contam - ou seja, apenas uma câmera de fato.
Fiz uma introdução de 4.300 caracteres não por acaso. É preciso uma contextualização muito ampla para explicar que o Galaxy S23 Ultra, da Samsung, traz alterações tão sutis em relação ao seu antecessor que é pouco provável que o usuário médio perceba o que mudou.
Mas, se eu simplesmente escrevesse isso, estaria sendo injusta com a Samsung. A fabricante não é, de longe, a única a desacelerar no ritmo de avanços. Tampouco está fazendo pior que a média: tanto no cenário global quanto no brasileiro, muitas marcas têm investido em alterações cosméticas drásticas nos lançamentos 2021-2022-2023 para disfarçar a falta de novidades significativas.
A Samsung, ao menos, mantém o design relativamente conciso nos topos de linha desde a família Galaxy S20, em vez de maquiar aparelhos que apresentam poucas alterações ano a ano. A exceção óbvia são os modelos Ultra: em 2020 e 2021, o aparelho era uma versão ainda maior dos S20/S20+ e S21/S21+, respectivamente. Para 2022, porém, a mudança foi maior, com bordas retas, arranjo diferente das câmeras, entre alguns detalhes adicionais.
Isso ocorreu porque, em 2021, a fabricante não lançou, no meio do ano, os tradicionais Galaxy Note, conhecidos pela caneta para interação com a tela e funções voltadas a produtividade. O S22 Ultra, sete meses depois, ocupou este lugar no portfólio da Samsung, e o S23 Ultra mantém este perfil para 2023.
E o que, afinal, mudou nas versões Ultra do Galaxy S22 e S23? Ano passado, estive seis meses com o topo de linha da Samsung, em um review de longo prazo. Em 2023, até o momento já é um mês com o aparelho em mãos, suficiente para saber o que houve de novidade. Conto abaixo tudo o que descobri, confira!
Sobre o review: recebi o S23 Ultra para análise em 26 de abril. O aparelho será devolvido após os testes, e a Samsung não teve influência no conteúdo deste texto.
Parâmetros de comparação: meu celular de uso cotidiano é um Realme 8 Pro. Durante os testes, estive também com os seguintes aparelhos: Oppo Reno7 e Realme 10 Pro+.
Samsung Galaxy S23 Ultra: especificações e disponibilidade
- Tela: 6,8", Quad HD+ (1.440 x 3.088 pixels, proporção 19,3:9), 120 Hz, Amoled, brilho de 1.200 nits (normal) e 1.750 nits (máximo)
- Câmeras:
- 200 MP, f/1.7, 23 mm, sensor de 1/1,3", autofoco a laser, estabilização ótica, imagens finais de 12,5 MP (principal)
- 10 MP, f/2.4, 69 mm, sensor de 1/3,52", foco automático, zoom de 3X, estabilização ótica, imagens finais de 12 MP (teleobjetiva)
- 10 MP, f/4.9, 230 mm, sensor de 1/3,52", foco automático, zoom de 10X, estabilização ótica, imagens finais de 12 MP (teleobjetiva)
- 12 MP, f/2.2, 13 mm, sensor de 1/2,55", foco automático, estabilização eletrônica (grande-angular)
- 12 MP, f/2.2, 26 mm, sensor de 1/3,24", foco automático, sem estabilização (frontal)
- Bateria: 5.000 mAh, carregamento cabeado de 45 W, carregamento sem fio de 15 W, carregamento sem fio reverso de 4,5 W
- Memória: 256 GB, 512 GB ou 1 TB de armazenamento; 12 GB de RAM
- Conexões: 5G, Bluetooth 5.3 e WiFi 6e (sem fio); entrada USB-C (cabeado)
- Processador: Qualcomm Snapdragon 8 Gen2 for Galaxy (octa-core, 4 nm)
- Acabamento: Gorilla Glass Victus 2 na tela e na traseira, moldura em alumínio aeroespacial. Disponível em preto, creme, verde (musgo) e violeta (quase lilás) no Brasil.
No momento em que este review era escrito, a versão com 256 GB de armazenamento do S23 Ultra podia ser comprada no varejo online, em lojas confiáveis, por R$ 5.999 à vista ou a prazo.
Caixa do Galaxy S23 Ultra: os carregadores voltaram (apesar de não parecer)
A versão inicial do review incluía, nesta parte, observações sobre a falta de carregador na caixa do Galaxy S23 Ultra. Após a publicação, a Samsung entrou em contato comigo para que a informação fosse corrigida.
Segundo a empresa, parte das unidades fornecidas para testes vem diretamente da matriz, na Coreia do Sul, antes que o aparelho seja lançado no Brasil. A prática, comum no ramo, permite que alguns veículos publiquem reviews no mesmo dia do anúncio oficial do smartphone, para que o consumidor possa ler análises dos produtos, além dos materiais de marketing, feitas pela imprensa especializada.
Estas unidades, no entanto, vêm com o pacote vendido naquele país, que não inclui o carregador. Após serem devolvidas à Samsung, elas são repassadas para que outros jornalistas também façam testes, além de novos lotes, já com a caixa oferecida no varejo brasileiro, que vem com o acessório.
Como tanto os celulares que vieram da Coreia do Sul quanto os brasileiros ficam em circulação para os testes, existe a possibilidade de que seja entregue uma unidade de review sem o acessório. Foi o que ocorreu com O POVO: embora eu não tenha recebido o Galaxy S23 Ultra antes do lançamento, o aparelho que me foi enviado era deste primeiro lote. Por isso, como está na foto acima, não há carregador na caixa.
No entanto, a empresa pontua que, desde agosto de 2022, todos os smartphones vendidos pela Samsung no Brasil incluem o carregador - inclusive os modelos topo de linha, das famílias S e Z. De fato, o Z Flip4, que testei recentemente veio com o pacote completo.
Deste modo, retirei o trecho sobre a ausência do carregador. Abaixo, mantenho um paragráfo com pontuação que fiz sobre a tendência de caixas "minimalistas" em conteúdo, uma vez que é um problema ainda existente em outras marcas. Deixo aqui, porém, a retratação sobre o caso da Samsung em específico.
O Brasil é um país de iPhones com linhas pré-pagas e capas de camelô, e, zero julgamentos com quem prioriza o aparelho em si frente a questões como um bom plano de dados ou uma case de marca renomada - esta jornalista não faz muito diferente com seus celulares. O ponto é: por aqui, ter um carregador na caixa ainda é importante. Em todas as faixas de preço.
De resto, a caixa do Galaxy S23 Ultra é exatamente o esperado: papel-cartão preto, papelada obrigatória e um acessório para abrir a bandeja de chips (dois de operadora, sem slot para cartões de memória MicroSD). Na frente, uma silhueta do aparelho, na cor escolhida - faz pouca diferença no modelo preto, mas é um toque interessante para as outras opções.
Design: Galaxy S23 Ultra está com bordas mais retas... E é isso
Nos modelos regular e Plus, a linha Galaxy S23 teve uma mudança visual pequena, mas mais notável: a "ilha" das câmeras, que era integrada à moldura lateral dos aparelhos, deixou de existir. No S22 Ultra esse elemento de design já era distinto, e a alteração foi apenas no nas bordas das lentes, agora milimetricamente mais grossas - apenas o suficiente para que você precise comprar uma capa nova caso esteja vindo do modelo anterior.
Para além disso, só o que mudou foram as bordas. Embora seja algo observável em outros aparelhos recentes da Samsung - recentemente comparei os dobráveis Z Flip3 e Z Flip4, e o mais recente também reduziu as curvas na moldura -, aqui a alteração é mais uma consequência de outro aspecto. A tela, embora siga curva, está menos curva. Como a Samsung mantém a simetria entre frente e verso, a parte traseira também foi redesenhada, e, deste modo, as laterais estão mais retas.
A da direita, aliás, traz os botões de volume e liga/desliga. Na parte de cima há apenas um microfone secundário, na esquerda não há nada, enquanto a borda inferior traz muitos elementos: dois microfones, a bandeja de chips, a entrada USB-C e os alto-falantes. Ah, claro, aqui também está o slot da caneta S Pen. A ponta que fica para fora do aparelho vem na mesma cor que a moldura, enquanto o corpo é sempre preto, independente da cor.
Falando nelas, as opções são preto, creme (com bordas douradas) verde-musgo e violeta (que, na verdade, é lilás). A moldura da tela em si é sempre preta, mas o elemento é tão fino que mal se nota - apesar de ser levemente mais grosso que no antecessor. A loja oficial da Samsung tem cores exclusivas, além das oferecidas no restante do varejo.
Sobre a tela: são 6,8", com as já mencionadas bordas curvas nas laterais, e a câmera frontal em um orifício circular centralizado. acima dele, uma abertura quase invisível abriga o alto-falante de chamadas e os sensores de proximidade e luminosidade.
A qualidade de construção do Galaxy S23 Ultra é primorosa. A sensação tátil é de um aparelho bem feito, seguro e sólido. Aliás, bote sólido nisso: com 234 gramas, ele pesa nas mãos e no bolso (tanto o físico quanto o monetário, neste último). Recomendo redobrar o cuidado ao usá-lo na cama, ele pode fazer um estrago se cair no rosto.
Galaxy S23 Ultra tem tela igual ao antecessor, e isso é ótimo
Grosso modo, a tela do Galaxy S22 Ultra é a melhor que já usei em um smartphone. Por isso, ela estar virtualmente inalterada (salvo pela curvatura menor) não é uma má notícia, pelo contrário.
Por padrão, o Galaxy S23 Ultra exibe os elementos da interface na resolução 1080p. Isto pode ser trocado nas configurações, se o consumo adicional de bateria não for uma preocupação. A diferença não é muita, mas, caso você queira ter absolutamente a melhor experiência, vá em frente. Eu, particularmente, recomendo a alteração: o gasto de energia não aumenta de forma tão significativa, e, se você vai pagar por um celular com tela de resolução maior, melhor fazer o dinheiro valer, não é?
A taxa de atualização também continua em 120 Hz. Sendo um painel Dynamic Amoled 2X, a frequência da tela é variável, podendo ser reduzida para até 10 Hz em situações que a tela fique totalmente estática. Também é possível mudar essa configuração, mas apenas para baixo: as opções são o modo adaptativo ou travar o display em 60 Hz.
Em termos de qualidade de cor, novamente, a experiência é a melhor possível. As configurações disponíveis são "natural" (sRGB) e "vívido" (próximo ao DCI-P3), além de mudanças para cores mais frias ou mais quentes - nas opções avançadas é possível alterar a intensidade dos canais vermelho, verde e azul.
A funcionalidade de redução de luz azul, para diminuir o impacto da tela na saúde ocular, funciona de forma mais profunda que em outros aparelhos: a interface tem as cores adaptadas, em vez de simplesmente ser aplicado um filtro de cores mais quentes "por cima" da imagem.
O único ponto onde não haver mudanças do Galaxy S22 Ultra para o S23 Ultra é algo negativo, em termos de tela, é no brilho. Não que 1.200 nits de média e 1.750 de pico sejam ruins, mas... Mas a própria Samsung fornece painéis mais brilhantes para a Apple usar nos principais concorrentes da família Galaxy S. Portanto, é se de estranhar a falta de mudanças aqui. Ainda assim, o display fica confortável de se usar em ambientes escuros, e altamente legível mesmo sob luz solar direta - e, cabe lembrar, no Ceará a luz solar direta é bastante intensa.
Câmeras do Galaxy S23 Ultra: você disse QUANTOS megapixels?
Duzentos. Duas vezes cem, quatro vezes cinquenta, vinte vezes dez. É megapixel pra caramba. Isto é, na lente principal.
Na traseira a grande-angular e as duas teleobjetivas (3X e 10X) continuam idênticas às do S22 Ultra. E elas já eram iguais às do S21 Ultra. A olho de peixe, aliás, vem desde o S20 Ultra. São quatro anos seguidos mantendo o mesmo sensor!
Tudo bem, a câmera principal do S22 Ultra também era a mesma desde o modelo de 2020, mas, convenhamos, a urgência em atualizar um sensor de 108 MP não é tão grande. Embora algumas especificações sigam se destacando, como a presença de *foco automático em todas as lentes traseiras*, não dá para negar que a concorrência está se mexendo onde a Samsung estagnou.
Um excelente exemplo é o Xiaomi 13 Ultra. O aparelho da fabricante chinesa tem quatro câmeras de 50 MP. Enquanto o sensor principal tem especificações finais similares, mas um pouco abaixo, das do Samsung, as lentes teleobjetivas e a grande-angular dão um banho no aparelho da sul-coreana. O S23 Ultra tem uma vantagem concreta de que o zoom ótico vai até 10X, enquanto o 13 Ultra só chega a 5X antes da ampliação se tornar digital, mas _é possível_ usar uma câmera com 10X de zoom ótico e sensor maior que 10 MP.
Na galeria abaixo estão as fotos em ambiente bem iluminado. O zoom das imagens é de 0,6X (grande-angular), 1X (principal), 3X (teleobjetiva) e 10X (teleobjetiva). Também há imagens com ampliação digital de 30X e 100X: raramente publico fotos com zoom que não seja ótico, mas a Samsung se orgulha do pós-processamento nestes casos, e deixo ao leitor a opinião final.
O modo retrato é um elemento à parte. Ao selecionar a opção, com as câmeras traseiras, pode-se escolher entre a lente principal ou a de 3X para a foto. Em ambos os casos, a "mágica" da Samsung funciona incrivelmente bem, com excelente separação entre objeto e fundo.
Ao editar as imagens, é também possível alterar o ponto de foco. Na galeria abaixo incluí apenas algumas versões de cada imagem, mas consegui contar sete opções para as fotos, a ver:
Foto do arbusto
- Arbusto
- Areia imediatamente atrás do arbusto (até a folha na parte esquerda, ao centro)
- Areia um pouco mais atrás (após a folha na parte esquerda, ao centro)
- Arbustos em segundo plano (na mesma profundidade do poste à esquerda)
- Arbustos em terceiro plano (próximos à pessoa sentada)
- Carro no fundo, à direita
- Prédio verde, ao fundo
Foto das espadas de São Jorge
- Espadas de São Jorge
- Areia imediatamente atrás das folhas
- Areia mais ao fundo, mas à frente dos arbustos, lixeira e poste
- Arbustos, lixeira e poste
- Pessoas sentadas mais à frente (vestindo calças) e busto à direita
- Pessoas sentadas ao fundo
- Carros ao fundo, à esquerda
A lente frontal, por algum motivo, foi piorada em relação às gerações anteriores. As versões Ultra de Galaxy S20, S21 e S22 traziam um sensor de 40 MP. Tudo bem que a resolução era desnecessariamente alta (vários modelos da linha Edge, da Motorola, têm 60 MP na câmera de selfies), mas é estranho que tenha baixado para 12 MP - a mesma que no S23 e no S23+, porém nos anos anteriores eles tinham sensores de 10 MP, então nos modelos menores a alteração, diferente do Ultra, foi um upgrade.
Ao menos o foco automático segue aqui - na maioria dos concorrentes, incluindo os Edge, ele é fixo. Apesar disso, não é possível mudar o ponto de foco das fotos tiradas no modo retrato. Há (tanto para imagens regulares quanto as com fundo borrado) a opção "selfie em grupo", que deixa a foto mais ampla.
Como em todos os aparelhos Samsung com este modo, ele não usa uma lente grande-angular: a selfie "normal" que é cortada, enquanto a de grupo usa o sensor inteiro. A função é ativada automaticamente caso haja mais de uma pessoa na foto, mas também pode ser selecionada manualmente.
Fechando as imagens diurnas, o Galaxy S23 Ultra não possui uma lente macroscópica dedicada. Ao tirar fotos de objetos muito próximos, o aplicativo da câmera fornece uma opção de "otimização de foco". Na prática, o aparelho apenas transfere a captura para a grande-angular (0,6X), aplicando zoom digital para que a imagem saia aparentemente em 1X.
Este tipo de "truque" é visto em diversos momentos. Para as teleobjetivas, a captura é feita com zoom digital do sensor principal, em vez da ampliação ótica. Na lente de 10X, a distância-limite é cerca de 20 cm, enquanto na de 3X fotos a menos de 12 cm passam a ser um corte digital da câmera de 200 MP.
No meu teste do S22 Ultra, notei inconsistências com as fotos da Lua, que aparentavam ter passo por alguma interferência no pós-processamento para adicionar detalhes às imagens do satélite natural. No modelo atual, observei situação similar ao capturar uma imagem com outro objeto no mesmo enquadramento e outra sem.
Tanto a questão das fotos macroscópicas, do zoom ótico alternando para o digital, quanto esta das imagens da lua, me parecem ter o mesmo fundamento. Minha suspeita era de que isso envolvesse entregar para o usuário algo diferente do que de fato é capturado.
Não é que haja algo fundamentalmente errado nas ações em si. De fato, em determinada distância, a abertura necessária para conseguir um zoom ótico de 10X não permitirá focar nos objetos, e um corte digital de outros sensores apresenta resultados melhores. Isto não é um problema.
As questões que me preocuparam eram duas. Primeiro, que o processo seja feito sem transparência, de modo que o dono não saiba o que seu aparelho está fazendo com as imagens. Segundo, que os elementos da imagem final não fossem originados da câmera, mas aprimorados artificialmente.
Conversei com a Samsung a respeito da escolha, e recebi retorno em ambos os questionamentos. Sobre a troca de lente nas imagens macroscópicas, a empresa pontua que o S23 Ultra faz, de fato, uma escolha automática da lente que será usada.
Há duas maneiras, porém, de definir manualmente as configurações dos sensores. No aplicativo padrão da câmera, existe o modo Pro. Quem deseja controles ainda mais aprofundados pode baixar o aplicativo Expert Raw na Galaxy Store, que entrega ajustes avançados. O app é gratuito e oficial da própria fabricante, estando disponível para alguns modelos S, Note e Z Fold.
Sobre as fotos da Lua, minha hipótese de uso de inteligência artificial se confirmou. Segundo a Samsung, no entanto, o que ocorre é que a câmera captura várias imagens, juntando-as em uma só para a composição final, e há um aprimoramento em "detalhes da qualidade e das cores".
A empresa afirmou, porém, que não são adicionadas sobreposições visuais, e todos os elementos que compõem a foto final são originados apenas dos sensores do celular. O usuário pode desativar o aprimoramento por IA nas configurações da câmera.
À noite é quando o S23 Ultra mostra de fato a diferença que faz ter quase o dobro de pixels para trabalhar que seu antecessor. Explico: todas as câmeras com quantidades "extremas" de megapixels - 48, 64, 108 e, mais recentemente, 200 - trabalhando usando uma tecnologia chamada pixel-binning.
É fácil entender como ela funciona: o sensor junta diversos pontos que formam a imagem - os pixels - em um só. Deste modo, um único pixel recebe informação de vários pontos. Em fotografia digital, mais informação significa mais luz. E mais luz significa melhor qualidade de imagem. Assim, um sensor de 48 MP que junte quatro pixels em um vai ter imagens mais nítidas que um de 12 MP do mesmo tamanho, ainda que a foto final de ambos tenha os mesmos 12 MP.
Os sensores de 108 MP trabalham com pixel-binning de 9 pontos (3x3 pixels formam um na imagem final), contra 4 pontos (2x2) dos que trabalham com 48 ou 64 MP. Nos caso das câmeras de 200 MP, são 16 pixels (4x4) formando a cada ponto da foto resultante. Imagens noturnas se beneficiam especialmente desta técnica, uma vez que, à noite, quanto mais luz uma câmera consegue captar, mais detalhada será a foto, com menos pontos de penumbra.
E é o que se vê na galeria acima. O S23 Ultra produz boas imagens com o sensor principal, mesmo sem ativar o modo noturno. Com a função selecionada, a qualidade fica ainda melhor: o nível de detalhes aumenta, as luzes ficam menos estouradas, e as partes escuras se tornam ainda mais distinguíveis. Mas não é uma diferença tão drástica quanto a maioria dos smartphones, em que fotos sem esta opção são praticamente inutilizáveis.
Bateria do Galaxy S23 Ultra parece boa no papel e é ótima na prática
Outro aspecto que não mudou da última geração para esta foi a bateria. A célula ainda conta com os mesmo 5.000 mAh de capacidade - aliás, algo que vem desde o S20 Ultra.
À exceção do modelo de 2021, cuja recarga com fio era a 25 W, a velocidade de carregamento do S23 Ultra também segue idêntica nos últimos quatro anos: 45 W pelo cabo, 15 W por indução, e com a possibilidade de completar a bateria de outros dispositivos, mas a lentos 4,5 W.
Observação: após a publicação do review, a Samsung me contatou a respeito do processo de recarga, e foi acertado o envio de um carregador de 45W da própria empresa para que os testes sejam refeitos. Quando concluir as análises, atualizarei o trecho abaixo, em itálico. Por ora, adicionei algumas informações para contextualizar como o processo foi realizado.
Neste aspecto, a crítica fundamental vai para a dificuldade em alcançar os 45W. Não é falta de compatibilidade: o Super Fast Charging da Samsung é exatamente a mesma coisa que o USB-PD, o padrão aberto para carregamento rápido.
A questão é que, na prática, a potência máxima é usada por pouco tempo no ciclo de carregamento da bateria. Logo após passar dos 20%, a velocidade cai significativamente. Com isso o tempo de recarga do Galaxy S23 Ultra não é muito melhor com um carregador de 45 W quando comparado a um de 25 W (padrão na maioria dos aparelhos Samsung).
Veja abaixo os tempos de recarga da bateria do S23 Ultra. Foi usado um carregador compatível com USB-PD, de 65 W, partindo de uma bateria totalmente vazia.
- 15 min: 16%
- 30 min: 33%
- 45 min: 47%
- 60 min: 64%
- 90min: 94%
- Carga completa: 1h47min
Os números impressionam, mas por um péssimo motivo. Na primeira meia hora de teste, o S23 Ultra estava desligado, como sempre faço ao analisar a velocidade de recarga dos celulares. Ao ver um valor tão baixo para o tempo, estranhei. Pensei que poderia haver alguma limitação no carregamento rápido e liguei o smartphone.
O cenário, no entanto, não mudou. A meia hora seguinte resultou em mais 31% de carga, chegando aos 64%, e só. Para encher completamente a bateria do S23 Ultra foi necessário esperar uma hora e 47 minutos. A marca é muito ruim. Ruim para um smartphone topo de linha, ruim para um aparelho que diz suportar 45 W de potência, e, sinceramente, ruim para qualquer aparelho lançado em 2023.
A Samsung é conhecida por ser conservadora com a velocidade de carregamento dos seus aparelhos. Ainda assim, os números são significativamente piores que os do antecessor. Em 15 minutos o S22 Ultra foi a 29%, com 58% na marca de meia hora, 82% em 45 minutos e 94% em uma hora, praticamente o dobro do alcançado pelo modelo atual.
Apesar de não ter usado um carregador específico da Samsung, escolhi um acessório totalmente compatível com as especificações USB-PD, do mesmo modo que o S23 Ultra. A fonte de alimentação usada é da Asus, de 65 W, com cabo embutido (não-destacávek) e as seguintes especificações de voltagem e corrente:
- 5 V / 3 A - 15 W;
- 9 V / 3 A - 27 W;
- 15 V / 3A - 45 W;
- 20 V / 3,25 A - 65 W.
O acessório da Asus atende às especificações USB-PD, e tem um modo específico de corrente e voltagem compatível com o modo de potência máxima do S23 Ultra. Isto deveria significar que o aparelho receberia todos os 45 W que suporta. Os testes com o S22 Ultra foram feitos com um carregador Samsung, porém de 25 W.
O S23 Ultra, ao menos, compensa o fiasco da recarga com uma excelente duração de bateria. Coloquei o smartphone sob condições intensas de uso, tirando-o da tomada às 6h30min.
Em um dia em que o aparelho foi usado o tempo inteiro como roteador, com diversas fotos e vídeos, além de jogos, às 5h30min - ou seja, 23 horas depois - ele ainda tinha 16% sobrando. Ao contrário do carregamento, aqui o S23 Ultra merece elogios por segurar com tranquilidade uma situação que desgasta severamente a bateria.
Performance: S23 Ultra é o melhor que se consegue no Android
O Galaxy S23 Ultra usa uma versão modificada do processador Qualcomm Snapdragon 8 Gen2, chamada "for Galaxy". É, não é um nome muito criativo.
E tampouco a diferença é gritante: o núcleo Cortex-X3, de performance, toda a 3,36 GHz em vez de a 3,2, um adicional de apenas 5% na velocidade. Não entendeu nada da frase anterior? Tudo bem. O aumento é tão pouco que não vale a pena sequer explicar os detalhes técnicos.
O que não significa, no entanto, que o aparelho tenha performance ruim. Pelo contrário: mesmo com somente 5% de aumento em relação aos concorrentes diretos, o Galaxy S23 Ultra é o melhor smartphone Android atual em termos de especificações.
E isso se reflete no uso cotidiano. Não há um engasgo, um travamento, um problema ínfimo que seja de performance. No meu teste do Galaxy S22 Ultra, pontuei que ativar a função de RAM virtual causava uma queda significativa no desempenho. Aparentemente a Samsung resolveu este problema.
Na parte de conexões não há muito o que trazer de novidade. Desde 2021, todos os topos de linha da Samsung oferecem 5G - os modelos 2020 e 2019 tinham a função como opcional. A qualidade da rede é boa, sem problemas de sinal, mas nada além do esperado.
S Pen: caneta do Galaxy S23 Ultra também não mudou
Sim, isso está ficando repetitivo, mas lá vai: a stylus do Galaxy S23 Ultra não traz novidades em relação ao modelo do ano passado. Neste caso não é sequer um "não traz _muitas_ novidades", é nenhuma, mesmo. Os modelos são idênticos, com 4.096 níveis de pressão, conectividade Bluetooth, funcionalidades sem precisar encostar na tela e todo o pacote. E, mais uma vez: manter-se como está não é algo ruim.
Os aplicativos de notas (incluindo a possibilidade de escrever na tela desligada) e desenho seguem presentes. Há também funções que podem ser usadas sem encostar a caneta no display, como ações rápidas (uma captura de tela ou pausar a música, por exemplo).
Ao remover a S Pen do Galaxy S23 Ultra do slot, um menu com atalhos aparece. Ele fica minimizado em um ícone de caneta, que pode ser movido na tela ou dispensado até a próxima vez que a caneta for usada.
Galaxy S23 Ultra: em time que está ganhando não se mexe ou falta de ideias leva à estagnação?
No atual estado da indústria de smartphones, sou defensora da ideia de que, para uma mesma linha de aparelhos, lançar modelos novos todo ano não é estritamente necessário. Claro, as empresas querem lucrar com as vendas, mas realmente vale investir tempo e dinheiro em pesquisa e desenvolvimento para se conseguir avanços tão tímidos?
Para as fabricantes aparentemente sim. Não satisfeitas, algumas marcas agora adotam um ciclo de lançamento semestral: no espaço de um ano, uma mesma família recebe duas gerações novas.
A pergunta que fica é: qual a vantagem? Apenas tentar se destacar da concorrência dizendo que lança mais aparelhos? Porque há quase nada de diferença significativa entre uma geração e outra, neste esquema.
Não à toa, o tempo médio em que os usuários permanecem com um smartphone aumentou. Esta tendência é a mesma em diversos países, com situações econômicas variadas, e perpassa todas as faixas de preço.
Simplesmente a questão é: se você tem um smartphone novo, adquirido pouco após o lançamento, comprar o sucessor direto é um desperdício de dinheiro. Muitas vezes, aliás, é possível pular duas (ou três, para aparelhos com ciclo semestral) gerações sem que se perca nenhuma funcionalidade relevante.
O Galaxy S23 Ultra é um exemplo nítido disso. Das cinco câmeras, três são idênticas. A tela mudou muito levemente na curvatura, e o design está diferente apenas na medida para que seja preciso comprar capas novas. A S Pen é a mesma - sem absolutamente nenhuma mudança. Opções de memória e armazenamento seguem iguais, e o processador foi atualizado apenas porque a Qualcomm também lança novos modelos todo ano, e pegaria mal lançar um topo de linha com o mesmo componente do antecessor.
Há novidades? Com certeza. O sensor de 200 MP, embora na prática não seja algo de outro mundo (o que não significa de forma alguma que é ruim), chama atenção desde o número. Há ainda grandes mudanças em... Em... É, ok, não há grandes mudanças.
A linha Galaxy S é, para smartphones não-dobráveis, o topo da cadeia alimentar no Android. Há alguns concorrentes que competem com o Samsung em pé de igualdade, ou até mesmo superando levemente, na maioria dos aspectos, mas nunca em todos.
Por isso, seria loucura dizer que usar o S23 Ultra foi uma experiência ruim para esta repórter. E não será também para você que lê esta matéria. A questão não é essa.
A questão é: com tão poucas alterações quando comparado ao antecessor, sequer é preciso pensar muito se quem tem um S22 Ultra deve adquirir o novo modelo. Não, não deve. Mesmo que dinheiro não seja dificuldade, só o tempo gasto para configurar o aparelho novo e as dores de cabeça caso haja problemas para transferir arquivos e preferências já é o suficiente para não recomendar a troca.
E vou além: mais do que não fazer sentido comprar um S23 Ultra se você possuir um S22 Ultra, não faz sentido a Samsung ter lançado o S23 Ultra quando existe o S22 Ultra. Claro, a fabricante não é a única culpada pelo ritmo frenético com que novos smartphones são lançados. Grande parte dos concorrentes comete o mesmíssimo pecado de anunciar aparelhos extremamente parecidos com seus antecessores.
O caso do S23 Ultra, porém, me soa caricato. Nada do que é feito pelo modelo novo é impossível de realizar com o antigo - absolutamente nada. Nem mesmo é realizado com uma dificuldade adicional notável, sequer realizado de maneira perceptivelmente pior.
Por isso, para listar os concorrentes e alternativas ao Galaxy S23 Ultra, manterei a lista bem sucinta. O primeiro - e maior - competir é... O Galaxy S22 Ultra.
O topo de linha da Samsung do ano passado tem duas distinções principais: o processador mais antigo e a câmera de 108 MP. O primeiro item levará tantos anos para que a diferença seja sentida, que até lá o aparelho já terá passado por mais um ou dois donos, ou estará jogado em uma gaveta há tempos. O segundo pode ser percebido já atualmente, mas a vantagem do novo modelo é *muito* mais sutil do que "200 é quase o dobro de 108" faz parecer - e você ainda leva um sensor melhor para selfies.
Sabe qual é a maior vantagem, no entanto? No momento em que escrevo este review, o S22 Ultra de 256 GB sai por R$ 4.500 à vista ou R$ 5.000 a prazo, em lojas confiáveis do varejo online. Contra os respectivos R$ 6.200 e R$ 6.300 do S23 Ultra, são até mil e setecentos reais de diferença por smartphones que são basicamente o mesmo.
Com este dinheiro é possível comprar um carregador de 45 W da Samsung, uma case também oficial da empresa e uma película - da própria marca, tendo compatibilidade garantida com o leitor de digitais sob a tela. Fechando o pacote, dois anos de garantia estendida.
Em seguida vem o arquirrival da linha Galaxy S, o iPhone. O modelo 14 Pro Max, mais recente e que mais se aproxima da proposta do S23 Ultra, custa R$ 2 mil a mais pela mesma quantidade de armazenamento. O restante das diferenças, no entanto, é mais subjetivo, ainda que no papel elas pareçam mais concretas.
Nesta mesma faixa de preço, mas também dentro de casa, está o Galaxy Z Fold 4. A favor do dobrável contam as duas telas, com a interna sendo bem maior, e o fator futurístico de usar um smartphone com a tela flexível. Todos os outros elementos são melhores no S23 Ultra.
Estas são as opções, ao menos no mercado brasileiro. Como pode-se notar, não há espaço no topo para muitos concorrentes. Mas, se a Samsung seguir com a tática de não mudar virtualmente nada no aparelho e cobrar caro pelo modelo mais novo, outros competidores podem disputar este espaço.
O Samsung Galaxy S23 Ultra 5G possui a capacidade de reconhecer os objetos enquadrados em uma cena e selecionar automaticamente a melhor lente em casos de close-up. No entanto, se você deseja ter um controle criativo mais avançado sobre as configurações da câmera, como ISO e velocidade do obturador, recomenda-se utilizar o modo Pro disponível no aplicativo nativo Câmera ou o aplicativo Expert Raw, que pode ser baixado gratuitamente na Galaxy Store. Essas opções permitem ajustar manualmente as configurações da câmera para obter resultados personalizados e mais profissionais.