Astronautas treinam em vulcão das Canárias

Com seus campos de lava, crateras e fluxos vulcânicos, a geologia de Lanzarote tem uma estranha semelhança com a da Lua e de Marte

10:33 | Nov. 11, 2022

Por: AFP
O astronauta alemão Alexander Gerst (D) fica no cume de um antigo vulcão durante um programa de treinamento para aprender a explorar a Lua e Marte no Parque Nacional de Timanfaya, nas Ilhas Canárias de Lanzarote, em 10 de novembro de 2022 (foto: DESIREE MARTIN / AFP)

Ajoelhado na beira de uma cratera profunda, Alexander Gerst pega uma amostra de rocha vulcânica com um cinzel e a coloca cuidadosamente em um saco plástico. "Você se sente como se estivesse na superfície da lua", diz.

Este astronauta alemão de 46 anos, membro da Agência Espacial Europeia (ESA), está na Terra. Neste caso, no parque natural de Los Volcanes, em Lanzarote, uma das ilhas do arquipélago espanhol das Canárias, localizado na costa noroeste da África.

Com seus campos de lava, crateras e fluxos vulcânicos, a geologia de Lanzarote tem uma estranha semelhança com a da Lua e de Marte, tanto que a ESA e a NASA há anos enviam astronautas a esta ilha para treinamento.

"Este lugar tem tipos de lava muito, muito semelhantes aos encontrados na Lua", diz Alexander Gerst à AFP, que vê a ilha espanhola como um "campo de treinamento único".

Gerst, que realizou duas missões na Estação Espacial Internacional (ISS), é um dos doze astronautas que participaram no curso de formação Pangea, ministrado pela ESA em Lanzarote.

Assim denominado em referência à Pangea, o supercontinente que antecedeu a separação dos atuais continentes, este programa visa dotar astronautas, engenheiros espaciais e geólogos com as competências necessárias para que possam realizar expedições a outros planetas.

Os estagiários aprendem a identificar amostras de rochas, coletá-las, realizar análises de DNA de microrganismos in situ e relatar seus resultados ao centro de controle da missão.

 

"Aqui, eles encontram as condições às quais devem se acostumar na exploração do terreno", explica o diretor técnico do treinamento, o italiano Francesco Sauro.

Um exercício em tamanho real considerado essencial para preparar os astronautas para trabalharem sozinhos em um ambiente remoto.

"Se temos um problema, temos que resolvê-lo nós mesmos", afirma Alexander Gerst à AFP.

Este especialista em geofísica participou do treinamento da Pangea com Stephanie Wilson, uma das astronautas mais experientes da NASA. Ambos são possíveis candidatos para as próximas missões lunares tripuladas da agência espacial americana.

Chamado de Artemis, este ambicioso projeto visa levar astronautas de volta à Lua em 2025, pela primeira vez desde 1972.

No entanto, alguns especialistas consideram esse prazo irreal, dadas as restrições orçamentárias que pesam sobre a NASA.

Doze astronautas pisaram na Lua durante seis sucessivas missões Apollo entre 1969 e 1972. O retorno ao satélite da Terra é considerado um passo necessário antes de uma possível viagem a Marte.

Para a ESA e a NASA, a paisagem de Lanzarote, feita de montes retorcidos de lava, também oferece a oportunidade de testar os "Mars Rovers", os veículos de controle remoto projetados para se mover na superfície do planeta vermelho.

A geografia única de Lanzarote deriva de uma erupção vulcânica que começou em 1730 e durou seis anos. Considerado um dos maiores desastres vulcânicos da história, devastou mais de 200 quilômetros quadrados de terra, ou cerca de um quarto da ilha, onde vivem hoje 156 mil habitantes.

Embora existam outras regiões vulcânicas, como o Havaí, que poderiam ser usadas para missões de treinamento, Lanzarote tem a vantagem de ter pouca vegetação devido ao seu clima desértico.

"Existem muitos tipos de rocha vulcânica em Lanzarote. E estão nuas, não há árvores", diz à AFP Loredana Bessone, responsável italiana do projeto Pangea.

"Você pode enxergar muito longe, como se estivesse na lua", ressalta.

As Ilhas Canárias contribuem para a exploração espacial de outra forma: abrigam um dos maiores telescópios ópticos do mundo, o "Great Canary Telescope" (GTC).

Instalado em um pico na ilha de La Palma, escolhido por causa de seu céu sem nuvens e poluição luminosa relativamente baixa, este telescópio gigante é capaz de detectar alguns dos menores e mais distantes objetos do Universo.