Evento em Fortaleza debate mulheres na área de tecnologia

Byte Girl foi realizado neste sábado, 22, na Capital; palestras abordaram temas como empreendedorismo, lideranças femininas na área de TI e ações de inclusão

Fortaleza sediou neste sábado, 22, a sétima edição do Byte Girl. O POVO acompanhou a programação do evento, que discutiu a participação feminina no mercado de tecnologia, na parte da manhã.

Criado em 2015, o Byte Girl é idealizado por uma equipe liderada por Ana Paula Lourenço, que trabalha com desenvolvimento. Durante a faculdade, Ana Paula notou a baixa participação de mulheres nos cursos de Tecnologia da Informação (TI), e começou a conversar com pessoas sobre o problema.

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Alguns meses depois surgia a primeira edição do evento. Desde então, centenas de pessoas - apesar de ser focado no público feminino, o Byte Girl não é restrito apenas a mulheres - acompanham, ano a ano, as palestras e debates realizados.

Em 2020, por causa da pandemia de Covid-19, não houve realização do Byte Girl. O evento foi retomado em 2021, em formato online e com programação reduzida. Este ano, ele volta ao presencial. O encontro é menor que em outras edições, segundo Ana Paula, para "analisar o comportamento do público" com o relaxamento das restrições de saúde.

Byte Girl 2022 traz palestras sobre tecnologia e projeto para inclusão feminina

O Byte Girl de 2022 foi aberto com uma palestra de Dayane Fernandes. Representando a Energimp, uma das patrocinadoras do evento, ela apresentou tecnologias usadas para operação remota de usinas de energia eólica.

Em seguida subiu ao palco Geissy Alencar. Analista de infraestrutura de TI e proprietária de uma pet shop online, ela deu dicas de como migrar entre carreiras, do trabalho assalariado para a abertura do próprio negócio.

Com apresentação remota, Ana Neri, gerente de operações para a América Latina na startup de recursos humanos Livelo, falou sobre marketing pessoal e empregabilidade na área de tecnologia. A gestora apresentou noções de como se diferenciar no mercado de trabalho de TI, ganhando destaque na disputa por vagas.

Gabriela Thé, gerente de projetos na Pague Menos, que patrocina o evento pelo braço de inovação PMenos Lab — braço de inovação da empresa —, trouxe a expertise com a gestão para falar sobre lideranças femininas na TI. Além de apresentar os cases da empresa, ela pontuou sobre a importância da criação de referências para mulheres na área, e os obstáculos ainda enfrentados por este grupo.

Izequiel Norões, que é professor, analista de sistemas e fundador da União Cearense de Gamers, realizou apresentação sobre Web3 e metaverso. O palestrante falou sobre tecnologias que possibilitam um futuro descentralizado para a internet, e como a realidade virtual pode ser usada neste contexto.

Fechando as apresentações da manhã, Kelen Ferreira e Ariany Almeida mostraram o projeto "Meninas Digitais do Vale", que atua com a inclusão de mulheres na área de tecnologia no Vale do Jaguaribe. As ações, extensão dos cursos de tecnologia no campus da Universidade Federal do Ceará (UFC) em Russas, promovem a participação feminina na TI e servem como rede de articulação e apoio para mulheres que trabalham no ramo.

Veja fotos do Byte Girl 2022

 

Fundadora do Byte Girl fala sobre representatividade feminina na tecnologia e ações do projeto

Conversamos com Ana Paula Lourenço, criadora do evento, no intervalo de almoço do Byte Girl. Confira abaixo perguntas e respostas sobre a atuação de mulheres na TI, como o Byte Girl se envolve com outros projetos, e ações previstas para o futuro.

O POVO: Você pode começar falando um pouco sobre o histórico do evento?

Ana Paula: O Byte.Girl existe desde 2015. Eu fazia o curso de redes de computadores na faculdade. De 60 alunos, só seis eram mulheres. Então me perguntei: "onde estão essas mulheres de tecnologia?". Reuni uma galera e a gente começou a organizar o evento. Como já estava muito em cima de março, a gente pegou outro mês emblemático para as mulheres, outubro. A gente começou a preparação do evento, cujo objetivo era reunir mais mulheres na área de tecnologia.

Mas o objetivo não era fazer o evento restrito a mulheres, a gente nunca fechou as portas para homens. Em todas as edições, sempre vieram homens, mas a maioria é sempre de mulheres. O evento foca na entrada e na permanência da mulher na área de tecnologia. Qual o nosso diferencial? O evento foca em palestrantes mulheres. Você vai ver no palco mulheres, vez por outra um homem ou uma palestra mista. Então é isso: o evento foca no público feminino, mas não fecha para homens, e trata de palestrantes mulheres.

OP: O Byte Girl existe desde 2015. Estamos na primeira edição presencial desde o começo da pandemia. Como foi a transição do modelo presencial para o online, e de volta a encontros em pessoa? Houve mudanças no público do evento, no foco da programação?

AP: Em 2020, quando a gente estava na pandemia, a nossa equipe, do Byte.Girl, não sabia lidar com os meios de transmissão online. A gente não tinha canal no YouTube, lives... Muita gente veio para dentro do Instagram fazer lives, e a gente ficou um pouco perdido. Então, em 2020, a gente não teve ação.

Em 2021 a gente já começou a fazer alguns eventos online. Fizemos um Byte.Girl com três palestras só, pela manhã, para não ficar maçante para o público e também porque a gente estava aprendendo. Nós não nos adaptamos ao online. A gente acha que perde, sabe, aquele convívio com o público, de você estar ali, trocando networking... Não tem uma resposta imediata, só através de perguntas por texto. A gente queria mesmo presencial.

Quando, em 2022, foram flexibilizadas as normas de saúde, a gente decidiu fazer uma edição mais curta. Esta é a nossa menor edição, em torno de 130 pessoas, mas penúltima edição teve 400 pessoas. Como estamos voltando da pandemia, queríamos ver como o público se comportava.

OP: Você tem notado mudanças no mercado de tecnologia no Ceará no âmbito da igualdade de gênero, desde o começo do Byte Girl? Há mais debates sobre a participação feminina nas empresas e nas lideranças, equiparação salarial, outros temas relacionados?

AP: A gente está fazendo eventos desde 2015, batendo muito nessa tecla de ter mais mulheres na área de tecnologia. A gente vem observando outros eventos, como o InfoGirl, na UFC em Quixadá, voltado às mulheres do próprio campus, tratando dessas temáticas também.

Pelo que eu pude observar, tenho muito contato com pessoas das áreas de gestão e de TI, também, é que a gente tem conseguido melhorar. Não conseguimos chegar no 100%.

Tem muita empresa ainda no Ceará que não tem uma igualdade salarial entre gêneros na área de tecnologia. Eu mesma já trabalhei em empresas assim, e pedi minha demissão quando percebi que meu salário era incompatível com o de um homem que estava do meu lado, executando a mesma função. A gestão não conseguiu explicar por que eu recebia menos, e pedi minha demissão.

A gente tem observado que há uma constante, especialmente no que tange a startups. São empresas mais novas, muito focadas em tecnologia, que estão tentando igualar salários, até mesmo para o pessoal de desenvolvimento, não apenas para os gestores. A gente tem percebido uma melhora, mesmo.

OP: Logo antes do almoço, houve a apresentação do Meninas Digitais no Vale. O Byte Girl tem trabalhado ações deste tipo, para além do evento em si? Pode falar sobre?


AP: Ao longo do ano, nosso time da organização geralmente recebe convite para fazer palestra em outros eventos de tecnologia, até mesmo fora do Ceará. Eu mesma já rodei o Brasil todo fazendo palestras de tecnologia, em eventos como a Campus Party, em São Paulo, que é o maior evento de tecnologia do Brasil e um dos maiores do mundo.

Além disso, a gente executou, no primeiro semestre de 2022, uma ação mais social. A gente montou toda a produção de um curso de webdesign para pessoas carentes, em Acaraú. Fomos procurados por uma empresa - que é uma das patrocinadoras do evento.

Nós escrevemos o documento do curso, treinamos os instrutores e executamos o projeto em cinco meses. Foi muito bem aceito e, embora não fosse direcionado apenas a mulheres, a participação feminina foi de 60%.

Para o futuro, a gente vai seguir palestrando em outros eventos, e estamos projetando alguns modelos de cursos, online e presenciais, com patrocínio de empresas, para passar sem custos ao público. A ideia é seguir focando em grupos vulneráveis, geralmente no interior do Estado.

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