Testamos: Realme Buds Air Pro tem cancelamento de ruído e pouca bateria
Modelo de fone totalmente sem fio (TWS) traz som satisfatório no segmento de entrada, mas duração da bateria decepciona; cancelamento de ruído do Realme Buds Air Pro é bom para a faixa de preço
01:45 | Fev. 10, 2022
O mercado dos fones de ouvido Bluetooth tem crescido constantemente nos últimos dois anos. Segundo a consultoria IDC, especializada no mercado de eletrônicos, os modelos True Wireless Stereo (TWS), totalmente sem fios, tiveram aumento de 26,5% nas vendas globais durante o terceiro trimestre de 2021, na comparação com o mesmo período do ano anterior.
O valor é quase o triplo que o de vestíveis em geral (que inclui, além dos fones smartwatches e pulseiras inteligentes, além de outras categorias), cujo crescimento foi de 9,9%. Ao todo, os fones TWS representam cerca de um terço deste mercado.
No Brasil, as principais marcas são Apple, Samsung e Xiaomi - esta última, líder no segmento. Outras marcas, porém, também disputam a preferência do consumidor com diversos produtos. Uma delas é a Realme, que atualmente oferece quatro modelos de fones sem fio no Brasil.
O TWS mais avançado da empresa é o Buds Air Pro. Por R$ 699, ele traz cancelamento ativo de ruídos, resistência à água IPX4 e promete até seis horas de bateria. No valor, ele está um tanto acima dos fones mais básicos, mas bem abaixo dos topos de linha.
Mas será que o Realme Buds Air Pro vale a pena? Testei o fone nas últimas semanas e conto abaixo tudo o que descobri.
Sobre o review: o Buds Air Pro foi cedido pela Realme por doação e não será devolvido à empresa. A fabricante não teve nenhuma influência no conteúdo do texto.
Realme Buds Air Pro: design, construção e conteúdo da caixa
O Buds Air Pro vem em uma caixa amarela de cor intensa. Outros produtos da Realme têm embalagens similares, e a tonalidade é tradicional da empresa.
Dentro dela está a case com os fones, um cabo (também amarelo) USB-C para USB-A, e três pares de borrachas para o ouvido, de tamanhos diversos, e mais um par já vem instalado. Há também um envelope com manual de instruções e um guia rápido sobre o melhor posicionamento dos fones no ouvido, escolha das borrachas, e lista dos comandos por toque.
A case de carregamento é de plástico brilhante, em formato oval. Ná frente está o logo da Realme e, acima dele, um LED indicador de carga. A porta USB-C fica na parte inferior. Há um botão na lateral: ao segurá-lo por três segundos com a tampa aberta, os fones entram em modo de pareamento.
O acabamento da case atrai marcas de dedo com facilidade, embora este fator seja menos reprovável em um item que, na maior parte do tempo, ficará guardado - fosse na traseira de um celular, por exemplo, o incômodo seria maior. A tampa abre com facilidade - excessiva, eu diria: diversas vezes, fui pegar a case e a tampa abriu ao mais leve toque da minha mão.
Os fones têm acabamento similar, e o kit pode ser comprado em branco ou preto. Nossa unidade veio nesta última. Eles são compostos de uma parte principal ovalada e as "pernas" comuns em vários modelos do tipo. Não há botões físicos, e o funcionamento do Realme Air Buds Pro é controlado por toques.
Realme Air Buds Pro têm funcionamento por toques
Como falado acima, o Realme Air Buds Pro é controlado por uma superfície sensível ao toque, que fica na parte superior das pernas. Eu particularmente não gosto dessa abordagem: ela torna muito fácil acionar alguma função de maneira acidental ao ajustar o fone no ouvido.
No entanto, é uma questão de preferência pessoal - muitas pessoas não gostam dos modelos com botões físicos, pois pressioná-los faz os fones serem empurrados para dentro do ouvido.
Os comandos por toque do Realme Air Buds Pro são:
- Play/pause - tocar em qualquer dos fones duas vezes inicia ou interrompe uma música;
- Avançar - tocar em qualquer lado três vezes passa para a próxima canção;
- Atender ligações - tocar uma vez em qualquer fone aceita uma chamada recebida;
- Rejeitar/desligar - tocar duas vezes em qualquer lado rejeita uma ligação recebida, ou desliga uma chamada que esteja em curso;
- Cancelamento de ruído - segurar por dois segundos em qualquer fone alterna entre os modos: transparência (microfones reproduzem o som ambiente), cancelamento de ruído ativado e cancelamento de ruído desativado;
- Modo para jogos - segurar ambos os lados por dois segundos ativa o modo para jogos, que reduz a qualidade do áudio, mas também diminui a latência (tempo que demora para o som ser transmitido).
Realme Buds Air Pro não é confortável na orelha
Parte do trabalho em analisar produtos de tecnologia envolve ler outras resenhas antes de escrever o review, caso alguma função ou detalhe do produto tenha passado desapercebida. Com o Realme Buds Air Pro, fiz isso para verificar as opiniões sobre o conforto dos fones no ouvido.
Para a minha surpresa, a grande maioria dos textos que encontrei elogia o formato, o encaixe e a fixação dos fones. Apenas uma pessoa teve experiência similar à minha: nada positiva. Sou acostumada a sentir dores no ouvido após usar modelos in-ear por muito tempo, mas neste caso foi mais intenso que o habitual.
Com o Realme Buds Air Pro, pela primeira vez em alguns anos usando fones do tipo, precisei, de tempos em tempos, retirá-lo do ouvido por causa do desconforto causado - não importando qual tamanho eu usasse nas borrachas de vedação. Em outros momentos, ele ficava frouxo, como se estivesse prestes a cair. Por fim, acabei com um arranhão na parte mais externa do ouvido após usar o fone por longos períodos.
Como disse, minha experiência foi algo que encontrei apenas um relato similar em todas as análises que li. Deste modo, minha recomendação é, se possível, testar o encaixe do fone antes de decidir comprá-lo.
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Bateria do Realme Buds Air Pro deixa a desejar
Segundo a Realme, o Buds Air Pro oferece até seis horas de bateria com o cancelamento de ruído desligado, ou cinco horas com a redução de sons externos ativada. Em ambos os casos, a medição é feita com o volume a 50%.
Esses números, porém, passam longe do que encontrei no uso cotidiano. Com o cancelamento de ruído ativado, e o som em cerca de 60%, o fone esquerdo perdia a carga em cerca de três horas - no melhor dia, consegui levá-lo a quatro horas de uso contínuo. O direito aguentava cerca de dez minutos a mais.
No carregamento, a empresa informa que a case adiciona mais três cargas. Pelas informações oficiais, os fones levam uma hora para ter a bateria totalmente reposta, e o tempo de carregamento da case + fones, quando a energia de todos tiver acabado completamente, é de duas horas.
Em relação ao tempo de carga, tanto dos fones individualmente quanto deles juntamente à case, as estimativas da empresa se cumpriram. A Realme também afirma que, com as três baterias (fones + case) completamente vazias, dez minutos de carregamento fornecem três horas de reprodução (com cancelamento de ruído desligado). Não cheguei a testar esta modalidade, mas, considerando a pouca duração que tive na carga completa, acho pouco provável que se cumpra.
Também notei diferença no total de cargas que a case supostamente oferece. Mesmo após carregar completamente todo o kit, com dois ciclos de usar os fones até a descarga completa e depois recarregá-los, a case me mostrava o indicador de LED vermelho (bateria abaixo de 20%), e o celular me dizia que a caixa tinha apenas 10% sobrando. Deste modo, das três cargas prometidas pela Realme com a bateria completa, consegui apenas duas.
Qualidade de som e cancelamento de ruídos do Realme Buds Air Pro são satisfatórios
Embora não seja destinado a audiófilos - os fones para este público custam consideravelmente mais caros - o Realme Buds Air Pro entrega um som de boa qualidade. O cancelamento ativo de ruído (ANC), por sua vez, promete reduzir sons externos em até 35 dB.
Não tenho como medir numericamente a potência do ANC, mas posso dizer que, pelo menos em boa parte, a promessa se cumpre. Ruídos como ventiladores, aparelhos de ar condicionado ou conversa de fundo em escritórios conseguem ser razoavelmente anulados. Barulhos mais altos, como teclados ou caminhões passando na rua, porém, ainda transparecem, mesmo na combinação do ANC com o cancelamento passivo, pela vedação das borrachas.
Na qualidade sonora, o aplicativo Realme Link - do qual falaremos mais à frente - tem uma opção chamada Bass Boost+, que amplia os graves. Não há, porém, equalizador dedicado - é necessário usar, quando disponível, o do próprio aparelho que está transmitindo o áudio.
Em "24 Hours Awake", da banda cearense Plastique Noir, há um bom equilíbrio entre o grave da batida, o médio-grave da voz e o médio-agudo da guitarra. O Bass Boost+ ampliou o baixo, que é notável, mas não muito, sem o uso dessa opção. Todavia, o restante dos sons ficou abafado, parecendo uma gravação de qualidade extremamente baixa.
Com muitos graves, em "Monólogo ao Pé do Ouvido", de Nação Zumbi, a opção igualmente deixou toda a música com muito menos energia. Com ela desativada, porém, a amplitude da orquestra percussiva, as cordas e a voz de Chico Science soaram em boa harmonia.
A versão ao vivo e orquestrada de "Santa Felicidade", de Nenhum de Nós, foi a que mais sofreu no teste do modo de graves ampliados. Com forte presença de cordas friccionadas (principalmente violino e violoncelo) e instrumentos de sopro, o Bass Boost+ trouxe três problemas: tirou o destaque dos instrumentos eruditos, que têm tanta importância nesta versão quanto a voz de Thedy Correa; removeu a sonoridade específica de um show ao vivo, deixando com a aparência de uma gravação (ruim) de estúdio, e falhou em dar o devido aumento em graves, como os surdos e trombones.
A grosso modo, a sonoridade do Realme Buds Air Pro é satisfatória para quem não precisa da máxima qualidade nas músicas. O modo que promete destacar os graves, porém, muito mais atrapalha que ajuda, deixando as canções sem vida e sem aumentar decentemente os tons baixos.
Realme Buds Air Pro: aplicativo, conexão e funcionalidades
Como boa parte dos fones TWS disponíveis no mercado, o Realme Buds Air Pro tem um aplicativo que permite realizar alguns ajustes. As configurações, porém, são básicas, não fornecendo controle sobre muitas funções.
No primeiro espaço, pode-se checar o nível da bateria de ambos os fones e da case - embora as versões mais recentes do Android tragam essa opção integrada ao sistema. Logo abaixo fica o modo do cancelamento de ruído, com uma opção para alternar os modos presentes no controle por toques. Escolhi desativar o "transparente", por me ser pouco útil.
Em seguida estão os controles de som. Não há muito aqui, apenas o Bass Boost+, que, como disse acima, é pouco útil, e a opção de aumentar o volume máximo dos fones. Como pontuei anteriormente, não há um equalizador dedicado.
Mais abaixo estão o modo de jogos, do qual falarei em seguida, e a detecção de uso, que pausa automaticamente o som ou vídeo ao retirar um dos fones do ouvido. Para quem usa o acessório no trabalho, por exemplo, essa opção me parece mais prática que o modo de transparência.
Por fim, é possível personalizar alguns controles na superfície sensível ao toque do Realme Buds Air Pro. Podem ser alterados os toques duplo e triplo em cada lado, e deste modo é possível escolher até quatro comandos entre as opções play/pause, avançar faixa, retroceder faixa, assistente de voz e redução de ruído. Também é possível desativar totalmente os toques.
A conectividade do Realme Buds Air Pro é um dos pontos que mais me agradou. Uso, no meu computador, Linux para trabalho e Windows para jogos, e estou frequentemente com dois celulares ativos, o de uso cotidiano e algum que esteja fazendo review. Para acessórios Bluetooth, isso pode ser um pesadelo.
Meu fone do dia-a-dia, um Anker Soundcore Life P2, sofre com a variedade de aparelhos, e a cada uso em qualquer desses dispositivos, preciso ir nas configurações, "esquecer" o fone e pareá-lo novamente. Com o Realme Buds Air Pro isso não ocorreu: além de se conectar automaticamente ao aparelho correto, estive com nada menos que cinco celulares no tempo que usei o fone, e ele alternou entre todos sem a menor dificuldade.
A estabilidade da conexão no Realme Buds Air Pro, por sua vez, foi satisfatória na maior parte do tempo. Morando em um sobrado, algumas vezes deixava os fones ligados ao computador, no andar de cima, e precisava atender à porta, no térreo, ainda com eles no ouvido. Nessas situações, os fones seguiram conectados e sem pausar o áudio.
O único problema que tive, neste aspecto, foi às vezes um dos lados emitir o aviso sonoro de que havia desconectado. No mesmo segundo, porém, ele voltava a reproduzir o conteúdo, sem precisar ligá-lo manualmente ao dispositivo. Essa situação, mais comum quando os fones estavam com pouca bateria, não deve causar mais que um leve incômodo, e é pouco frequente.
Por fim, o modo de jogos funcionou adequadamente. Testei os fones com Asphalt 9, Free Fire e PlayerUnknown's Battlegrounds (PUBG). Em todos os três títulos, o atraso no som era virtualmente imperceptível. Muitas pessoas usam este modo também para assistir filmes e séries, pois muitos fones têm um delay significativo que atrapalha a experiência em vídeos. No Realme Buds Air Pro, isso não foi necessário, pois mesmo sem o uso do modo de jogos o atraso em vídeos não foi problema.
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Realme Buds Air Pro é bom? Vale a pena? Quais as alternativas?
Com som de qualidade satisfatória, bom cancelamento de ruídos, e conectividade estável, o Realme Buds Air Pro começa como uma opção interessante para quem busca fones TWS acima dos modelos de entrada, mas não tem dinheiro para gastar nos topo de linha.
No entanto, a baixa autonomia frente à concorrência, com modelos que duram até oito horas por carga, traz pontos negativos. O desconforto que senti com o formato dos fones também deve ser levado em conta, embora esta questão varie muito para cada usuário.
O ponto fundamental, a meu ver, é o preço: hoje, o Realme Buds Air Pro segue sendo vendido pelos mesmos R$ 699 cobrados no lançamento, em maio de 2021. Há ofertas por cerca de R$ 500 em marketplaces online, mas são unidades importadas, que não contam com a garantia da Realme no Brasil.
Nessa faixa de preço, a concorrência é acirrada. Há diversos modelos da JBL, dos quais destaco o Reflect Mini NC. Embora o cancelamento de ruídos neste modelo seja menos intenso que no da Realme, ele entrega melhor encaixe, mais bateria e configurações mais avançadas pelo aplicativo da fabricante. No varejo online, o JBL Reflect Mini NC pode ser encontrado entre R$ 550 e R$ 600.
A Samsung tem duas opções com preços próximos: Galaxy Buds 2 e Buds Pro. O primeiro traz som vivo e excelente bateria, com ofertas a partir de R$ 699. O segundo adiciona certificação IPX7 contra água e carregamento sem fio na case, mas o preço alto faz com que só seja indicado em promoções - atualmente, é possível encontrá-lo por R$ 729. Ambos têm configurações pelo aplicativo Galaxy Wearables, e integração profunda com outros dispositivos da Samsung.
Há ainda opções de Xiaomi, Huawei, entre outras, o que pode ser um bom sinal. A existência de muitos concorrentes implica que o Realme Buds Air Pro é um fone versátil, atendendo a uma série de públicos: quem precisa de fones mais básicos, mas quer funcionalidades além dos modelos de entrada; pessoas que têm cancelamento de ruído como prioridade; e até quem busca um modelo com qualidade de som satisfatória sem gastar muito dinheiro.
Na minha visão, o Realme Buds Air Pro é excelente para quem continua trabalhando de casa, seja seguindo em quarentena, seja por ter um emprego home office. A conexão estável permite andar pelo imóvel sem preocupações, e o cancelamento de ruídos vai remover a distração dos sons cotidianos durante o expediente. A baixa autonomia de bateria, porém, não me permite indicar o modelo para quem precisa usar transporte público diariamente: é possível que, ao chegar no trabalho, a carga dos fones já esteja em menos da metade.
Por fim, as condições de compra precisam melhorar. Após quase um ano do lançamento, o preço do Realme Buds Air Pro não caiu um centavo sequer, enquanto concorrentes são oferecidos constantemente em promoções. Além disso, o único lugar que segue vendendo o Realme Buds Air Pro é a loja oficial da empresa na Shopee, então é difícil sequer achar os fones no varejo.