Lançamento do primeiro iPhone completa 15 anos neste domingo, 9

Smartphone foi anunciado por Steve Jobs em janeiro de 2007, mudou rumos da Apple e definiu o mercado de celulares nos anos seguintes; veja marcos e curiosidades na trajetória do iPhone

22:44 | Jan. 09, 2022

Por: Bemfica de Oliva
Lançamento do primeiro iPhone completa 15 anos (foto: Blake Patterson/CC BY 2.0/Flickr)

Neste domingo, 9 de janeiro, o lançamento do primeiro iPhone completa 15 anos. Anunciado pelo fundador da Apple, Steve Jobs, em 2007, o aparelho gerou mudanças gigantescas na forma de usar celulares - algumas positivas, outras nem tanto.

O POVO separou alguns marcos e curiosidades sobre o iPhone - e o mercado de smartphones como um todo - nesta última década e meia. Confira abaixo.

2007: lançamento do primeiro iPhone

Em janeiro de 2007, a Apple reuniu jornalistas do mundo inteiro para fazer um anúncio "revolucionário". Embora hoje o departamento de marketing da empresa use o termo para quase qualquer material de divulgação dos produtos, o aparelho mostrado naquele dia realmente causou um impacto sentido até hoje na indústria de tecnologia.

Nos meses anteriores, uma série de rumores já indicava que a Apple se preparava para o anúncio de um celular. À época, porém, ninguém sabia como seria o aparelho. Conceitos criados por fãs imaginavam algo parecido com os modelos de iPod que a empresa fabricava - o que gerou propostas absurdas como uma com o teclado numérico no mesmo design da clickwheel (a "rodinha" dos iPods), lembrando os arcaicos telefones de disco.

O aparelho exibido naquele dia, porém, não tinha nada em comum com o design de outros produtos da Apple, muito menos com os conceitos imaginados pelos fãs. O iPhone anunciado por Jobs apresentava uma operação inteiramente no display sensível ao toque, à exceção do botão usado para voltar à tela inicial. O único elemento reaproveitado foi o conector dock para carregamento e transferência de dados, igual ao usado nos iPods.

Durante a apresentação, Steve Jobs mostrou - e criticou - alguns modelos da concorrência. Todos se baseavam em teclados QWERTY físicos e uma tela pequena logo acima. A Apple entendia que a digitação era importante, mas não deveria tomar espaço do celular o tempo inteiro. A solução encontrada pela empresa foi desenhar um sistema que fosse operado totalmente pelo toque, com o teclado aparecendo somente quando fosse necessário escrever algo.

É importante lembrar que telas sensíveis ao toque já existiam em diversos celulares à época. Embora quase todas fossem resistivas (tecnologia que tinha baixa sensibilidade, e a maioria dos celulares usava uma caneta stylus para operar o display), o LG Prada, anunciado cerca de um mês antes, também usava um painel capacitivo, como o do iPhone, e tinha uma interface feita para ser operada com os dedos.

Smartphones também já não eram uma total novidade: o primeiro aparelho do tipo a ganhar popularidade havia sido o BlackBerry 6230, lançado anos antes, em 2003 (que nem sequer foi o primeiro BlackBerry, mas os modelos iniciais eram apenas um misto entre pager e agenda eletrônica). O público para estes dispositivos, porém, era altamente restrito ao ramo corporativo.

O trunfo da Apple foi vender o iPhone não apenas como um aparelho voltado à produtividade, criado pensando em executivos, mas como um objeto de desejo. Havia um grande foco no design, na capacidade de multimídia e no uso de internet. Os aplicativos exibidos na tela inicial, por exemplo, incluíam câmera, galeria de fotos, Youtube e o navegador de internet.

A recepção ao primeiro iPhone foi mista. Enquanto muitos veículos especializados elogiaram a praticidade de uso do sistema e as inovações do design, outros criticaram limitações como a falta de suporte a aplicativos em Flash e Java, tecnologias dominantes nos celulares da época, a câmera, que tinha apenas 2 MP e não filmava, e a falta de suporte a redes 3G, que já eram comuns nos países em que o iPhone começou a ser vendido.

Em termos de público, porém, o produto foi um sucesso. Filas quilométricas se formaram em frente às lojas da Apple, na data de início das vendas do iPhone - fato que se repetiria em outras gerações do smartphone, e também com o iPad, em 2010.

Mais de 6 milhões de unidades do primeiro modelo foram vendidas, até o anúncio do iPhone 3G. Embora estes números hoje pareçam pouca coisa - somente no primeiro semestre de 2018, por exemplo, foram vendidos mais de 130 milhões de iPhones -, à época isso representava a criação de um mercado que praticamente não existia antes.

2008: iPhone 3G e App Store

O sistema iOS, dos iPhones, foi anunciado no primeiro modelo como "uma versão do Mac OS para celulares". Existia, porém, uma diferença importante: ao contrário dos computadores, não era possível instalar aplicativos no primeiro iPhone.

Isso mudou em julho de 2008. No mesmo evento em que a segunda geração do aparelho, chamada de iPhone 3G, foi anunciada, também foi lançada a segunda versão do sistema. Ela traria a mudança mais significativa para os usuários, com a possibilidade de baixar e instalar aplicativos de todo tipo.

A versão 3G do iPhone também resolveu uma das mais duras críticas ao aparelho: a falta de conexão à internet fora de redes WiFi. Embora tecnicamente o primeiro iPhone tivesse suporte a internet móvel, as velocidades eram extremamente limitadas, pelo uso de redes 2G. Em 2009, o iPhone 3GS resolveria o problema da câmera, com maior resolução e capacidade de gravar vídeos.

2010: iPhone 4 traz novo design e tela retina

A quarta geração do celular da Apple teve uma série de peculiaridades. Em termos técnicos, foi o primeiro grande redesign do iPhone, com bordas planas, moldura de alumínio, traseira de vidro e uma câmera para videochamadas (e selfies). Na frente, a nova tela Retina iniciaria a segunda "corrida do ouro" criada pelos iPhones: o aumento cada vez maior na resolução dos displays de smartphones (a primeira havia sido o próprio mercado de smartphones, que se tornou algo massivo, em comparação ao público de nicho que existia antes).

A tela Retina consistia em aumentar a definição do painel com o uso de mais pixels (os microscópicos pontos que formam uma imagem digital). Na distância que normalmente se usa um celular, o olho humano consegue discernir uma densidade de cerca de 300 ppp (pontos por polegada). O iPhone 4 trouxe um display com 326 ppp, e as empresas concorrentes começaram a lançar modelos com resoluções cada vez maiores: o atual recordista é o XZ Premium, da Sony, lançado em 2017, com 807 ppp, embora a maioria dos smartphones atuais use telas entre 400 e 500 ppp.

Outro ponto de virada, para contragosto da Apple, é que o iPhone 4 marcou a atual tendência, nas notícias de tecnologia, de vazamentos frequentes antes de produtos serem lançados. Um funcionário da empresa, com um protótipo quase finalizado do aparelho, esqueceu o celular em um bar. Outro cliente do local achou o dispositivo e o colocou à venda na internet, e o site Gizmodo, especializado em notícias de tecnologia, comprou o smartphone por US$ 5.000.

O portal publicou uma análise detalhada do smartphone, com fotos registrando o novo design meses antes do anúncio oficial. O Gizmodo chegou a ser processado pela Apple, e o repórter responsável pela matéria teve a casa vasculhada pela polícia, mesmo após o site ter cooperado com a fabricante para devolver o protótipo. Desde então, boa parte do conteúdo de veículos especializados em tecnologia se baseia em vazamentos de especificações, elementos de design e outros detalhes sobre produtos ainda não lançados.

Esse foi, também, o último iPhone anunciado por Steve Jobs. Alguns meses após o lançamento, o fundador da Apple deixaria o cargo de CEO da empresa para cuidar de um câncer no pâncreas, entregando a função ao atual presidente, Tim Cook. Em setembro de 2011, no dia seguinte ao lançamento do iPhone 4S, Jobs faleceu devido à doença.

2012: iPhone 5 traz a primeira mudança no tamanho de tela

Até o modelo 4S, lançado em 2011, a tela dos iPhones sempre tinha o mesmo tamanho, de 3,5" e proporção 4:3, similar às de televisores antigos. O iPhone 4, com o lançamento da Retina Display, aumentou a resolução, mas manteve as dimensões idênticas às das gerações anteriores. Isso mudou com o iPhone 5, que aumentou o painel para 4", com proporção 16:9 (a mesma da maioria dos notebooks e televisores atuais, e amplamente usada em filmes).

Embora hoje celulares com painéis de 6" ou mais sejam comuns, à época a decisão da Apple de aumentar a tela do iPhone foi recebida com chacota. Modelos da concorrência já tinham displays maiores, mas, enquanto vivo, Steve Jobs insistiu diversas vezes que 3,5" era o tamanho ideal. Segundo ele, era o máximo que permitia às pessoas alcançar qualquer local da tela com o polegar, e portanto não havia motivos para fazer aparelhos maiores. Com a morte do fundador, a Apple escolheu seguir as tendências do mercado.

O iPhone 5 trouxe outras mudanças significativas. A traseira era de alumínio, pela primeira vez desde o iPhone original. As partes superior e inferior deste lado seguiam de vidro, para melhorar a recepção do sinal - o iPhone 4 havia sido duramente criticado por perder a conexão com facilidade e, embora atualizações de software tenham diminuído o problema, que foi resolvido totalmente no modelo 4S, a história deu origem à famosa declaração de Steve Jobs: "vocês estão segurando o celular do jeito errado". No iPhone 5, este problema não ocorreu.

Outra diferença em relação aos modelos anteriores foi o novo conector Lightning. Menor e com encaixe dos dois lados, o cabo é usado até hoje nos iPhones, no iPod Touch e na versão de entrada do iPad (os modelos mais caros do tablet da Apple usam conector USB-C).

No ano seguinte, o iPhone 5 foi retirado de linha e substituído pelo modelo de entrada 5c, com especificações idênticas, mas corpo de plástico. O sucessor de fato foi o iPhone 5S, que manteve um design similar e inaugurou o leitor de impressões digitais Touch ID. O 5S foi, também, o primeiro iPhone com suporte a redes 4G, e trouxe o flash duplo, com uma luz branca e outra amarelada, tendência que hoje também é comum em diversas marcas de smartphone. Os dois tons acendem com intensidade variável de acordo com a luz do ambiente, para captar melhor os tons de pele das pessoas fotografadas.

Em 2014, pela segunda vez, a Apple lança dois modelos de celular ao mesmo tempo: os iPhones 6 e 6 Plus marcam outra mudança nos tamanhos de tela. O modelo regular cresce para 4,7", enquanto o Plus vai a 5,5". Após anos criticando a fragmentação do Android, e dando como principal exemplo a quantidade de tamanhos diferentes dos displays, a Apple havia chegado em ponto parecido: entre iPhones, iPods Touch e iPads, eram oito diferentes tamanhos e resoluções de tela.

Em 2015, os modelos 6S e 6S Plus trouxeram poucas novidades. Alguns meses depois, porém, veio o iPhone SE, com componentes similares ao 6S, mas design igual ao do 5S. Em 2020, a segunda geração do iPhone "menos caro" foi introduzida, com especificações similares às do iPhone 11 (de 2019), mas design igual ao do iPhone 8 (de 2017). Rumores indicam um terceiro iPhone SE a ser lançado em 2022, mas não há definição se o design seguirá o mesmo, ou se ganhará a aparência dos modelos mais atuais.

Em setembro de 2016, uma das decisões mais polêmicas em termos de design: os iPhones 7 e 7 Plus foram anunciados sem a entrada para fones de ouvido padrão, de 3,5 mm. A empresa ofereceu duas soluções: fones que se encaixavam diretamente na entrada lightning (incluídos na caixa), ou acessórios com conexão por Bluetooth.

A primeira alternativa recebeu críticas por não permitir que o aparelho fosse carregado ao mesmo tempo que se escutava música pelos fones, enquanto a segunda envolvia comprar um acessório novo, que precisaria ser recarregado constantemente.

Junto ao celular sem entrada padrão para fones, a Apple anunciou as vendas dos seus fones com Bluetooth, os AirPods. O movimento foi criticado como uma forma de forçar os clientes a comprar os fones para poderem ouvir música enquanto carregam o smartphone, mas as vendas foram um sucesso. Mais uma vez, a concorrência seguiu o movimento da empresa: pouquíssimos celulares são lançados com a entrada de 3,5 mm atualmente.

2017: iPhone X traz maior mudança no design desde o primeiro modelo

Para marcar os 10 anos desde o primeiro modelo, a Apple anunciou nada menos que três celulares de uma só vez, em 2017. Enquanto o 8 e o 8 Plus mantiveram o design regular, o iPhone X marcou a maior mudança na aparência dos smartphones da empresa desde o lançamento original.

Na frente havia uma tela de borda a borda... Ou quase isso. Um grande entalhe no display abrigava, além da câmera de selfies, um mecanismo complexo de reconhecimento facial. Embora a escolha pelo design peculiar, que é usado até os modelo atuais, seja criticada, ela foi necessária para abrigar os componentes usados no chamado FaceID, que substituiu o TouchID, uma vez que o único botão na frente do aparelho foi aposentado.

A navegação passou a ser completamente por gestos, para substituir a ausência do botão Home. A tela, do tipo Oled, trouxe cores mais vívidas e melhor contraste que as dos modelos IPS LCD anteriores - apesar de os displays de iPhones sempre terem sido reconhecidos como alguns dos melhores entre os smartphones.

Junto aos modelos 8 e 8 Plus, o iPhone X também foi o primeiro a oferecer duas mudanças significativas na bateria. A velocidade de recarga, após anos estagnada em 10 W, ganhou um aumento de 50% - embora o total de 15 W ainda fosse baixo comparado a soluções de outras marcas, que alcançavam potências até duas vezes maiores. Também foi a primeira vez que os iPhones tiveram suporte a carregamento sem fio, usando o padrão Qi, que é adotado por todas as outras fabricantes.

2020: iPhones Mini dão mais opções de tamanhos... Mas não fazem sucesso

A mais recente das novidades significativas nos celulares da Apple foi no lançamento da linha iPhone 12, em 2020. Foram, ao todo, quatro modelos anunciados: 12, 12 Mini, 12 Pro e 12 Pro Max, com três tamanhos de tela (12 e 12 Pro usam o mesmo display). O modelo menor, supostamente, deveria atender a uma parcela dos consumidores que não se contenta com as telas imensas dos smartphones atuais - incluindo os da Apple.

No entanto, o iPhone 12 Mini fez pouco sucesso. Apesar de ter ganhado um sucessor, anunciado junto ao restante da família iPhone 13, em setembro de 2021, analistas de mercado indicam que, para este ano, a Apple não pretende anunciar um modelo compacto. As mudanças devem se concentrar na tela, que seguirá os tamanhos regular e Max (nomenclatura que vem substituindo o Plus desde 2018), e deve aposentar o entalhe (reduzido nos modelos de 2021), que será trocado por um orifício para a câmera frontal.

Aos 15 anos, iPhone continua criando tendências no mercado de celulares

Goste-se ou não dos celulares da Apple - e dos produtos em geral da empresa -, é inegável que o iPhone vem ditando rumos do mercado de celulares desde seu lançamento. Em alguns casos os resultados são positivos; em outros, questionáveis.

O primeiro modelo deu a largada no que é o atual mercado de smartphones. Antes um equipamento com pouco destaque, salvo para determinados nichos, o celular se tornou parte central da vida das pessoas, e a Apple é possivelmente a principal responsável por isso. Foi com o lançamento do iPhone que a internet passou a se desvincular do computador, nos acompanhando em qualquer lugar e a todo momento.

Até o lançamento do iPhone 4, com a tela Retina, não havia muito esforço das fabricantes em relação à qualidade de imagem nos displays. Esta tendência também pode ser creditada à Apple, embora ela não seja mais a principal empresa neste quesito.

Em outros momentos, cabe pontuar, a fabricante também ficou para trás em relação a determinadas tecnologias. Um excelente exemplo é a velocidade de carregamento: além de os iPhones serem conhecidos desde sempre pela duração mediana da bateria, os modelos mais recentes vão até 27 W, enquanto concorrentes entregam potência quase cinco vezes maior em alguns aparelhos.

Também é válido lembrar de tendências iniciadas pela Apple e adotadas por outras marcas, mas que são altamente impopulares entre os consumidores. O fim da entrada de 3,5 mm para fones de ouvido é um dos maiores exemplos, junto com a decisão de não enviar mais carregadores na caixa do celular.

O infame entalhe na tela também pode ser colocado nesta categoria, embora a maior parte dos smartphones já tenha partido para soluções menos invasivas, como os orifícios circulares para a câmera frontal - nenhuma outra marca tem um sistema de reconhecimento facial tão avançado quanto a Apple, cabe pontuar, o que dificulta a redução do "notch" dos iPhones.

O fato é que inovação sempre foi uma marca dos produtos da Apple. No lançamento do primeiro iPhone, 15 anos atrás, isso se provou verdade. Atualmente, continua sendo válido.

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