Testamos: Google Wifi tem bom alcance e configuração fácil, mas cobra caro

Roteador da Google pode usar tecnologia mesh para cobrir grandes áreas, e se integra a outros produtos Google via aplicativo; valores começam em R$ 999 para uma unidade

A pandemia de Covid-19 pode estar diminuindo de intensidade, mas o consumo de internet nos lares segue em alta. Seja para encontros virtuais com amizades e família, trabalho, estudo ou diversão, diversos aparelhos ligados à rede ao mesmo tempo permanecem como realidade.

Neste cenário, muitas pessoas podem procurar equipamentos que melhorem a cobertura e velocidade de conexão em casa. Ainda que a maioria dos provedores de internet forneça modems com rede Wifi embutida, o produto nem sempre pode dar conta da demanda de uma família.

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Não à toa, diversos tipos de roteadores, para atender públicos variados, estão presentes no mercado brasileiro. A mais recente adição é o Google Wifi, lançado na última quinta-feira, 14.

Apesar de ser mais conhecida pelos serviços online, a Google também fabrica equipamentos físicos, como smartphones, caixas de som e até câmeras de segurança. O Google Wifi é um dos modelos de roteador da empresa, e chegou ao Brasil por R$ 999 - ou R$ 1.999 no kit com três unidades.

O valor não é barato, mas o equipamento promete trazer funções de segurança, facilidade na configuração e bom alcance. Será que vale o preço? Testei o Google Wifi nos últimos dias e conto abaixo o que descobri, confira.

O Google Wifi foi fornecido por empréstimo pela Google, e será devolvido após os testes. A fabricante não teve envolvimento no conteúdo desta análise.

Google Wifi: conteúdo da caixa e design

Caixa do Google Wifi vem com folhetos explicativos, cabos de rede e energia, além do roteador
Caixa do Google Wifi vem com folhetos explicativos, cabos de rede e energia, além do roteador (Foto: Bemfica de Oliva)

O Google Wifi vem em uma caixa de boa qualidade, com informações básicas sobre o uso do produto já na parte de fora. Dentro da embalagem estão o roteador, um cabo de rede e um de energia. Há também folhetos de garantia, manual de instruções, entre outros papéis menos importantes.

Todo o equipamento segue uma estética minimalista, e não é por acaso: o Google Wifi é feito para "se mesclar" com a decoração do ambiente. Quanto menos chamativo, melhor. A ideia me agrada um bom tanto, especialmente em comparação com outros roteadores caros, que vêm com tantas antenas que lembram uma nave espacial.

O roteador é um cilindro branco, com cerca de 7 cm de altura e 10 cm de diâmetro. Um vinco percorre toda a lateral, e há uma luz indicadora de status na parte da frente, dentro desta ranhura. O cabo de rede incluído é plano - lembra aqueles fones de ouvido com fio que supostamente não enrosca. O da tomada, por sua vez, é no formato tradicional. Ambos também são brancos.

Na parte de baixo do Google Wifi há três entradas: a de energia e duas de rede, uma para receber a conexão do modem de internet e outra para ligar a algum dispositivo que só conecte via cabo, como grande parte dos computadores de mesa. Aqui está, também, uma etiqueta com as instruções de configuração que falarei a seguir

Configuração do Google Wifi é rápida e feita por aplicativo

Para conectar o roteador à internet e configurar o nome da rede e a senha, é preciso baixar o aplicativo Google Home - disponível para Android e iOS. Após instalar o app, caso não tenha outros equipamentos integrados da Google, é necessário configurar uma nova "casa", sob a qual serão agrupados o roteador e quaisquer aparelhos Google que sejam configurados no futuro.

Com isso feito, basta tocar no botão "+" e escolher o tipo de dispositivo que será adicionado. Para facilitar o processo, o aplicativo tem um leitor de QR Code, com o código de configuração na etiqueta que fica na parte inferior do Google Wifi.

É preciso apenas seguir alguns passos simples e autoexplicativos: dar um nome ao equipamento, outro à rede, definir a senha e, por fim, informar em que cômodo o roteador será instalado. Não é preciso abrir páginas no navegador, procurar senhas e nomes de usuário escondidos em algum lugar do manual, conectar com cabo ao computador, nada do tipo.

Ao concluir a configuração, a luz na frente do Google Wifi mudará para um tom de azul turquesa. A partir deste momento, ele estará pronto para uso.

Alcance do Google Wifi é bom, mas não surpreendente

Google Wifi ajudou a eliminar pontos cegos pela casa, embora não com grande velocidade
Google Wifi ajudou a eliminar pontos cegos pela casa, embora não com grande velocidade (Foto: Reprodução/Speedtest)

A função fundamental de um roteador é fornecer internet sem fios. E isso o Google Wifi faz de forma bem razoável. A promessa da fabricante é cobrir até 110 m² com o equipamento.

Moro em um sobrado com aproximadamente 40 m² (11,5 x 3,5 m) em cada andar. Meu modem fica a cerca de dois metros da frente da casa, no andar de cima, no centro da parede. É um modelo Nokia G-140W-H, da Oi Fibra, com redes Wifi de 2.4 e de 5 GHz, em um plano de 200 mbps de download e 60 mbps de upload.

Nesta configuração, consigo pegar a velocidade total da internet no andar de cima inteiro. No térreo, o download cai para cerca de 80 mbps na sala (imediatamente abaixo do escritório, onde fica o modem) e 50 mbps na cozinha, que é ao lado. A área de serviço e o banheiro anexo, ambos ao fundo, são os únicos pontos cegos da casa.

Uma limitação do Google Wifi é que a primeira unidade precisa ser ligada por cabo a um modem ou roteador. Não há a opção de usar o equipamento como repetidor ou extensor de sinal, a não ser que se compre mais de um - falarei mais disso abaixo.

Deste modo, o Google Wifi ficou praticamente no mesmo local que o modem, alguns centímetros abaixo pois o receptor da internet fica preso à parede, enquanto o roteador estava na minha mesa de trabalho. Foi com esta configuração que fiz os testes.

No andar de cima, sem surpresas: o Google Wifi mantém, assim como o modem da Nokia, velocidade total no andar inteiro. No térreo, as velocidades também foram similares, mas na cozinha a conexão oscilou entre 50 e 60 mbps.

A vantagem foi nos pontos cegos. Ao andar da cozinha para a área de serviço, a conexão no modem cai rapidamente, e no banheiro não há sinal. Com o Google Wifi, tive acesso em todos os locais da casa. Não foi algo incrível, no entanto: cerca de 4,5 mbps de download e menos de 2 mbps de upload, onde antes não havia conexão.

Google Wifi tem modo mesh, que amplia alcance do sinal

Como dito, uma limitação importante do Google Wifi é que ele precisa ser ligado por cabo ao modem, mesmo que haja um roteador embutido. Grande parte - talvez a maioria - dos provedores de banda larga no Brasil concede aos clientes equipamentos que já têm conexão Wifi própria, no entanto.

Com isso, para o cenário de muita gente, o Google Wifi será redundante. Sem a capacidade de funcionar como um extensor de sinal sem fio, a instalação será feita ao lado de um equipamento que, provavelmente, já tem a própria rede Wifi. Nem a facilidade de configuração do aparelho da Google conta muitos pontos aqui, afinal de contas o modem habitualmente já tem a rede sem fio configurada na hora da instalação.

Isso não significa que o Google Wifi seja inútil para uma parcela significativa dos consumidores, no entanto. Tão fácil quanto configurar a primeira unidade é adicionar novos equipamentos à rede, pelo aplicativo Google Home. Neste formato, os roteadores adicionais servem como extensores de sinal para o primeiro dispositivo.

Esta tecnologia, chamada Mesh, permite configurar várias unidades para garantir a cobertura de sinal em espaços amplos. No meu caso, uma segunda unidade na cozinha (a Google enviou apenas um para os testes) poderia ter garantido velocidade total da conexão até mesmo onde meu roteador atual tem ponto cego. Quem tem uma casa com quintal poderia, por exemplo, deixar um Google Wifi na sala e outro na área externa.

Já pensando nestas possibilidades de uso, a Google vende o equipamento na unidade, ou em um kit com três - com valores de R$ 999 e R$ 1.999, respectivamente. Não é o único roteador com tecnologia Mesh disponível no Brasil, todavia - falaremos disso mais à frente.

Google Wifi tem funções adicionais e de segurança

Outro diferencial do roteador está nas funções adicionais. Pelo aplicativo Google Home é possível, entre outros ajustes, realizar testes de velocidade da internet, e definir equipamentos que terão prioridade na conexão. Uma televisão ou console de videogame que estejam fazendo streaming de filmes em alta resolução ou em jogos online, por exemplo, podem ter preferência em relação a celulares que ficarão apenas acessando redes sociais.

Há também algumas funcionalidades de segurança. Pode-se criar uma rede para convidados, que fica separada da conexão Wifi principal dos moradores, e são feitas atualizações automáticas no sistema do roteador, que podem mitigar falhas exploradas para crimes virtuais. Segundo a Google, o aplicativo de gerenciamento também dá dicas para melhorar o desempenho da conexão, embora eu não tenha recebido nenhum aviso do tipo nos dias testando o produto.

Google Wifi é bom? Vale o preço? Quais as alternativas?

Com valor unitário de R$ 999, é difícil recomendar o Google Wifi sem hesitação. Mesmo no kit com três unidades, estamos falando de gastar o preço de um celular mediano em um jogo de roteadores.

Para além disso, a concorrência traz diversas alternativas ao Google Wifi - todas, inclusive, mais baratas. Em alguns casos, o kit com três chega a custar menos que uma unidade do roteador da Google.

Os principais concorrentes são o D-Link Covr (R$ 700 a R$ 800 o kit com três) e o TP-Link Deco M4 (R$ 1.100 a R$ 1.500 o kit com três). Intelbras (Twibi, R$ 400 a R$ 600 o kit com duas unidades) e Tenda (Nova MW6, R$ 900 a R$ 1.100 o kit com três) são outras fabricantes com opções de preço menor.

De vantagem em relação a estes produtos, o Google Wifi promete entregar maior alcance em cada roteador, além da facilidade de configuração. Quem tem outros dispositivos Google, como equipamentos da linha Nest ou Chromecast, também se beneficia de controlar todos os equipamentos pelo mesmo aplicativo.

A pergunta que fica é: com um preço tão acima das outras opções, o Google Wifi vale a pena? Apesar de ser um bom produto, eu diria que não, ao menos no valor cobrado no Brasil.

No País, o ecossistema Google tem apenas três outros produtos: Nest Mini, Nest Audio e Chromecast. Nos Estados Unidos, por exemplo, são mais de 15 - incluindo vários dispositivos que podem ter mais de uma unidade pela casa, como detectores de fumaça, câmeras de segurança, termostatos e caixas de som.

Deste modo, não consigo indicar o Google Wifi frente a alternativas mais baratas, quando o maior diferencial frente à concorrência, que é a integração com outros equipamentos da empresa, não existe no Brasil para compensar o preço. Quem sabe em alguns anos este cenário mude.

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