Em live de sete horas, projeto brasileiro discute acessibilidade no desenvolvimento de jogos
No Ceará, um desenvolvedor de jogos criou um canal no Youtube para ensinar ferramentas tecnológicas, como modeladores de personagens em 3D, para a comunidade surda
14:27 | Jul. 31, 2020
A discussão da acessibilidade em jogos eletrônicos tem ganhado espaço entre jogadores e desenvolvedores nos últimos anos. Grandes empresas, como a Microsoft e a Sony, gigantes no mercado dos videogames, tem destinado esforços para criar uma experiência mais inclusiva aos jogadores com algum tipo de deficiência. A disponibilização de um “modo daltonismo” e o desenvolvimento de um controle adaptado são alguns dos exemplos feitos com esse objetivo.
O projeto Able Gamers Brasil busca discutir essa demanda no mercado brasileiro, especialmente com os desenvolvedores e jogadores com alguma deficiência. Christian Bernauer, idealizador do projeto no País, relata que vários jogadores o procuram surpresos com a possibilidade de poder jogar videogames. “Há pessoas que relatam que queriam jogar com seus filhos, com amigos, mas não conseguem. É muito importante ouvir a experiência dessas pessoas para criar jogos melhores”, argumenta.
Neste sábado, 1º, a partir das 13 horas, a instituição fará uma live de sete horas para divulgar a causa. Com participação de nome famosos no mundo dos games, o evento contará com histórias de destaque de superação de streamers com alguma deficiência que conseguiram transformar o mundo dos jogos eletrônicos em uma fonte de prazer e até mesmo na sua profissão, como uma fonte de renda. Será a quarta edição do evento, que conseguiu arrecadar R$ 10 mil nos três primeiros anos.
A maratona poderá ser acompanhada pelo site oficial do evento, assim como por meio do canal da Twitch TV do blog Nós Nerds. Títulos como Gears of War 5 e Overcooked 2 serão jogados durante a transmissão, que também contará com o uso do Xbox Adaptive Controller. O aparelho permite que os jogadores façam adaptações necessárias nos controles para conseguir jogar.
No Ceará, o desenvolvedor de jogos Paulo Costa, 30, resolveu criar um canal no Youtube voltado ao ensino de ferramentas tecnológicas para a comunidade surda. Em vídeos sem áudio e totalmente em Libras, ele resolveu compartilhar os conhecimentos que permitem a modelação de personagens em 3D para jogos, por exemplo. “A ideia é criar um material que seja exclusivo para pessoas surdas e não apenas adaptado para elas. Muitos querem aprender e essa é uma maneira de trazê-los para esse cenário”, argumentou.
A ideia de Paulo é, além de ensinar as funções das plataformas, explicar como as pessoas podem ganhar dinheiro com esse conhecimento. Além dos vídeos no Youtube, ele pretende criar cursos online e presenciais para ter o conteúdo mais sistematizado. Ele está arrecadando recursos para o projeto através do site Apoia.se. “O português que a gente escreve é muito diferente do que eles entendem. Eu tenho a informação, sou fluente em Libras, e quero contribuir de alguma forma”, disse.
Evento cearense discutiu acessibilidade no mundo do desenvolvimento de jogos
A situação para a acessibilidade no desenvolvimento de jogos no Estado está começando a mudar, conforme explica a designer Loana Russo, graduada em Sistemas e Mídias Digitais pela Universidade Federal do Ceará. Ela afirma que a discussão para criar jogos mais inclusivos tem surgido nas universidades e vem conquistando espaço em eventos que reúnem desenvolvedores locais.
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Um exemplo foi o chamado “Bootcamp da diversidade”, promovido pela Associação Internacional de Desenvolvedores de Jogos em Fortaleza (IGDA Fortaleza), durante este mês de julho. Loana foi palestrante em um dos quatro dias de evento e falou sobre a acessibilidade visual. O evento, com atividades voltadas para desenvolvedores, contou ainda com uma palestra sobre tecnologia assistiva, responsável por garantir assistência ou adaptação para pessoas com deficiência.
“Segundo o Censo de 2010, são quase 46 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. Além do lado da empatia com esses jogadores, a criação de jogos mais inclusivos também pode ser uma boa oportunidade de negócio para os desenvolvedores”, defendeu a designer. "Queremos trazer as pessoas com deficiência para o centro dessa comunicação e estimular os designers a terem ideias criativas sobre isso”, concluiu.
Serviço
Quarta edição de evento de acessibilidade gamer, promovido pela Able Gamers Brasil
Quando: neste sábado, entre 13h e 18 horas.
Onde: no site oficial do evento ou por meio do canal da Twitch TV do blog Nós Nerds
Campanha para financiamento da Escola Digital Para Surdos, canal do Youtube criado pelo desenvolvedor Paulo Costa
Por meio da plataforma do Apoia.se, neste link.