Sharenting expõe crianças e ameaça saúde mental, apontam pesquisadores

Sharenting expõe crianças e ameaça saúde mental, apontam pesquisadores

Estudo alerta para riscos psicológicos, de privacidade e segurança digital provocados pelo excesso de exposição infantil nas redes sociais

O hábito de pais publicarem fotos, vídeos e informações sobre seus filhos nas redes sociais, conhecido como sharenting, representa uma ameaça à saúde mental, à identidade digital e à segurança das crianças.

A constatação é de pesquisadores da Universidade Cesumar (UniCesumar), em Maringá (PR), que analisaram os impactos bioéticos da prática e publicaram os resultados na revista Bioética nesta sexta-feira, 11.

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Sharenting: estudo analisou mais de 70 trabalhos internacionais

Os pesquisadores realizaram uma revisão de literatura com 73 estudos publicados entre 2016 e 2023, em inglês, espanhol e português. Os dados revelam que mais de 80% das crianças em países ocidentais já têm presença online antes mesmo de completarem dois anos.

A análise foi dividida em quatro grandes eixos: privacidade e segurança digital, implicações psicológicas e culturais, dinâmica social e familiar e resposta legal e social.

Sharenting: riscos vão de fraudes a conflitos familiares

Entre os principais perigos apontados estão o uso indevido de informações para fraudes e crimes digitais, como roubo de identidade e disseminação de imagens em redes de pedofilia.

Há também impactos emocionais. Crianças e adolescentes podem se sentir envergonhados, invadidos ou frustrados ao perceberem que sua privacidade não foi respeitada pelos próprios pais.

O compartilhamento não consensual de conteúdo também gera atritos familiares, especialmente quando outros membros, como avós, publicam imagens dos netos sem autorização dos pais — fenômeno chamado de grand-sharenting.

Sharenting: comportamento dos pais molda gerações futuras

Segundo os pesquisadores, o comportamento dos pais na internet influencia diretamente a forma como os filhos percebem a exposição digital. Crianças que crescem em ambientes onde o sharenting é comum tendem a replicar essa prática no futuro, perpetuando o ciclo de exposição.

Além disso, expressões carinhosas, hashtags e rótulos como #MiniChef ou #PrincesinhaDoPapai, muito comuns nas redes, podem reforçar estereótipos e limitar a construção da identidade da criança, impondo expectativas externas desde cedo.

Outro ponto de alerta do estudo é o uso comercial da imagem infantil. Muitos influenciadores transformam seus filhos em personagens de campanhas publicitárias, em busca de parcerias com marcas e engajamento nas redes. Essa exposição mercadológica, segundo os autores, exige regulamentações mais rígidas.

Sharenting: direito à privacidade já é reconhecido em alguns países

Em países como a França, filhos já podem processar os pais por violação de privacidade. A União Europeia, por meio do Regulamento Geral de Proteção de Dados, reforça o “direito ao esquecimento”.

No entanto, os pesquisadores destacam que o problema também é cultural e não apenas jurídico. Há uma contradição entre o discurso dos pais, que afirmam se preocupar com a segurança dos filhos, e suas ações nas redes.

Sharenting: soluções exigem esforço coletivo

Lucas França Garcia, autor do estudo ao lado de Sophia Ivantes Rodrigues e Leonardo Pestillo de Oliveira, explica:

“Há consequências para o desenvolvimento pessoal, como o atravessamento da exposição na constituição da identidade, e ao nível psicológico, assim como violação da privacidade, potencialização de fraudes digitais, exposição ao uso da imagem em propagandas, cyberbullying e pedofilia.”

Para ele, o combate a essa realidade exige mobilização conjunta. “É necessária uma abordagem colaborativa entre legisladores, educadores, pais e sociedade civil para formular e implementar políticas que efetivamente protejam as crianças no ambiente digital, respeitando a liberdade de expressão e a participação social.”

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