Infecção na gengiva pode agravar Alzheimer
A relação da saúde bucal com as causas do Alzheimer está em processo de investigação, mas estudos já comprovam essa realidade
Um estudo recente publicado no Journal of Alzheimer’s Disease revelou que a bactéria Porphyromonas gingivalis, um dos principais agentes causadores da doença periodontal crônica, foi encontrada no tecido cerebral de pacientes diagnosticados com Alzheimer.
A pesquisa sugere que a infecção gengival pode desempenhar um papel importante no agravamento da degeneração cognitiva, associando doenças bucais à deterioração mental.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a doença periodontal afeta 50% dos adultos. No Brasil, a prevalência de inflamação gengival é uma das principais causas de perda de dentes em adultos, conforme o Ministério da Saúde. Em 2025, mais de 13 milhões de brasileiros estarão diagnosticados com doença periodontal, correspondendo cerca de 6,9% da população do país.
Davi Cunha, cirurgião-dentista, explica que a doença periodontal crônica é uma infecção progressiva e grave das gengivas e dos ossos que sustentam os dentes.
“Caso não seja tratada, ela pode resultar em perda dentária e, além disso, permitir que as bactérias da boca se espalhem por todo o corpo. Esse processo de disseminação pode contribuir para o desenvolvimento de doenças sistêmicas, como Alzheimer, diabetes e problemas cardíacos”, afirma.
A doença está diretamente associado a uma série de fatores do dia a dia, como higiene bucal inadequada, o acúmulo de placa bacteriana, o consumo frequente de alimentos ricos em açúcares e carboidratos fermentáveis, o tabagismo, a boca seca (xerostomia) e alterações no sistema imunológico.
“Esses fatores criam um ambiente favorável para o desenvolvimento de microrganismos nocivos, que podem provocar inflamações nas gengivas e evoluir para doenças periodontais. É fundamental manter hábitos de higiene oral adequados, o que ajuda prevenir o risco de doenças cognitivas graves”, diz.
Os sintomas mais comuns são: sangramento gengival durante a escovação ou o uso do fio dental, inchaço, vermelhidão, retração gengival, dor durante a mastigação, dentes amolecidos e mau hálito persistente, e em estágios mais avançados, pode haver formação de abscessos, perda óssea ao redor dos dentes e até a perda dentária.
“Diante desses sinais, é fundamental procurar avaliação profissional para diagnóstico e tratamento adequados, que depende da extensão e gravidade da infecção. Nos estágios iniciais, uma profilaxia profissional aliada à reeducação da higiene bucal costuma ser suficiente para controlar o quadro”, esclarece o cirurgião-dentista.
João Moreira, de 78 anos, foi diagnosticado com Alzheimer em 2022. Antes disso, ele já sofria com um quadro de piora neurológica, com convulsões e Acidente Vascular Cerebral (AVC). “Com o Alzheimer, a questão da higiene piorou, agravando mais ainda a doença. Ele tá ficando cada vez mais debilitado”, relata sua filha, Viviane Andrade, de 47 anos.
No caso do Alzheimer, Davi Cunha explica que essas bactérias liberam toxinas capazes de provocar uma resposta inflamatória no cérebro, o que pode acelerar processos degenerativos e agravar quadros de perda cognitiva.
“Esse achado abre portas para novas abordagens na prevenção e tratamento do Alzheimer, sugerindo que a manutenção da saúde bucal é uma ferramenta importante para proteger a saúde por completo”, finaliza.