Esteroides anabolizantes triplicam risco de infarto em homens, alerta estudo
Uso dessas substâncias está associado a uma maior incidência de problemas cardiovasculares como arritmias, cardiomiopatia e tromboembolismo
O uso de esteroides anabolizantes androgênicos aumenta significativamente o risco de desenvolver doenças relacionadas ao coração, triplicando a probabilidade de infarto, entre outros problemas, de acordo com uma pesquisa dinamarquesa publicada em fevereiro no periódico científico Circulation.
Esses anabolizantes são hormônios sintéticos similares à testosterona usados para aumentar a força e a massa muscular.
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No Brasil, seu uso para fins estéticos ou melhora do desempenho esportivo foi proibido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em abril de 2023.
Além do risco de infarto do miocárdio, o estudo mostrou maior incidência de tromboembolismo venoso, arritmias, insuficiência cardíaca e cardiomiopatia — nesse caso, o risco foi nove vezes maior.
Segundo os autores, embora o aumento da mortalidade e dos riscos ao coração de usuários de anabolizantes seja conhecido, faltavam dados desses problemas a longo prazo.
Para chegar ao resultado, eles examinaram um grupo de 1.189 homens que haviam sido pegos em exames de doping na Dinamarca entre 2006 e 2018. Os registros foram comparados aos de quase 60 mil homens da população geral.
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Esteroides anabolizantes: qual o efeito no corpo?
O uso dessas substâncias está associado a vários mecanismos que comprometem a saúde cardiovascular.
“Do ponto de vista fisiopatológico, promovem um estado pró-inflamatório com aumento do estresse oxidativo dos vasos, levando à redução da elasticidade arterial, além de promover aterosclerose coronariana acelerada com mudança do perfil lipídico [aumento do colesterol LDL, considerado ruim, e diminuição do colesterol HDL, o bom]”, explica o cardiologista Eduardo Segalla, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Isso pode contribuir para eventos cardiovasculares súbitos e maior risco de doenças cardiovasculares graves, como infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC) e arritmias devido ao envelhecimento acelerado dos vasos.
Além disso, o uso prolongado está associado à hipertrofia do músculo cardíaco com redução na função de bombeamento e relaxamento do coração, o que pode gerar disfunção do miocárdio e, consequentemente, cardiomiopatias hipertróficas, insuficiência cardíaca e morte súbita.
Os autores reconhecem que uma das limitações do estudo é a ausência de dados sobre o tempo de uso dos anabolizantes. No entanto, sabe-se que até pequenas doses podem causar efeitos colaterais — cresce a probabilidade de hepatite medicamentosa, infertilidade, impotência sexual, ansiedade, entre outros problemas.
Ao justificar sua proibição no Brasil, a resolução do CFM cita os riscos potenciais que mesmo doses terapêuticas podem desencadear, além da falta de estudos que demonstrem riscos, benefícios e segurança dessas substâncias. (Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein)