Entenda porque pressão 12 por 8 passou a ser considerada alta

Estudos cardiovasculares indicam a pressão 12 por 8 como alta; entenda as novas diretrizes, o que mudou no diagnóstico e no tratamento da hipertensão

00:16 | Out. 26, 2024

Por: Danielle Christine
Estudos cardiovasculares indicam pressão 12 por 8 como alta (foto: iStock / stefanamer)

As diretrizes de 2024 da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC) marcam mudanças significativas em relação às diretrizes anteriores de 2018, incluindo uma nova abordagem para a definição e o tratamento da pressão arterial (PA).

Com os novos estudos, a PA "12 por 8", antes conhecida como normal, foi definida como a nova "pressão alta".

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A pressão arterial é a pressão que o sangue exerce nas paredes das artérias. A medição da PA pode ser feita com esfigmomanômetros manuais, semi-automáticos ou automáticos. 

Pressão 12 por 8: entenda o que é mmHg

MmHg é a medida usada para indicar quantos milímetros o mercúrio sobe no medidor do aparelho.

Quando a pressão está 12 por 8, por exemplo, significa a medida de 120x80 mmHg, onde 120 é a pressão nos vasos, quando o coração se contrai, e 80 é a pressão nos vasos, quando o coração relaxa.

Agora, esses números indicam atenção para cuidados cardiovasculares. Com as mudanças, o ideal passa a ser de “12 por 7” (ou 120/70 mmHg).

Pressão 12 por 8: entenda a pesquisa

As pesquisas foram desenvolvidas pela ESC e endossadas pela Sociedade Europeia de Endocrinologia (ESE) e pela Organização Europeia de AVC (ESO). A apresentação das diretrizes aconteceu durante o Congresso Europeu de Cardiologia, em Londres, no Reino Unido, no dia 30 de agosto de 2024.

Além de apresentar como se deu o processo de pesquisa, os professores palestrantes explicaram o o motivo da mudança, como isso interfere no gerenciamento dentro e fora dos consultórios, quando devem iniciar os tratamentos, como fazê-los e quais são as novas metas para melhora da saúde mundial.

Novas diretrizes da pressão arterial

As mudanças refletem o crescente entendimento de que o risco cardiovascular (RCV) está associado a níveis de PA de forma contínua, e não apenas nos limiares tradicionais de hipertensão. Isso resultou em algumas modificações. Agora, a pressão arterial é dividida em três categorias principais:

  • PA Não Elevada: PA sistólica (PAS)
  • PA Elevada: PAS entre 120–139 mmHg ou PAD entre 70–89 mmHg, uma categoria adicionada para identificar indivíduos em risco, mesmo que não alcancem os critérios de hipertensão. Esta categoria reconhece que mesmo elevações leves na PA podem estar associadas a um aumento no risco de doença cardiovascular (DCV).
  • Hipertensão: Definida como PAS 140 mmHg ou PAD 90 mmHg, o que reflete os limiares tradicionais, mas inclui agora uma meta mais rigorosa de PAS para adultos em tratamento medicamentoso, visando 120–129 mmHg, dependendo da tolerância.

Conforme o material da ESC publicado pela Universidade de Oxford, há benefícios em reduzir a PA em níveis que tradicionalmente não eram considerados hipertensivos, especialmente para pacientes de alto risco.

Outra mudança importante nas diretrizes é a ênfase em medições da PA fora do ambiente clínico, como monitoramento ambulatorial ou domiciliar, para melhor rastrear a pressão arterial ao longo do tempo e identificar casos de hipertensão mascarada ou de efeito “jaleco branco” (quando a PA é elevada apenas no consultório).

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As novas diretrizes da ESC de 2024 introduzem uma abordagem de gestão mais personalizada, focada no risco individual de cada paciente e nas preferências pessoais, de acordo com o texto do estudo disponibilizado no site da Universidade de Oxford. Ao todo, o material contém 106 páginas.

Estratégias de monitoramento pessoal

Os pacientes são incentivados a participar ativamente no gerenciamento da sua própria PA, por meio de monitoramento domiciliar e uso de dispositivos validados para rastrear os níveis de PA ao longo do tempo.

Esse monitoramento fora do ambiente clínico ajuda a obter leituras mais precisas e contínuas, fornecendo uma visão mais completa do estado de saúde do paciente.

Acompanhamento com profissionais

As diretrizes enfatizam a importância de um cuidado colaborativo entre cardiologistas, médicos de atenção primária e outros especialistas, como endocrinologistas e nefrologistas, especialmente para pacientes com hipertensão resistente ou comorbidades, como diabetes e doenças renais.

Uso da telemedicina e tecnologia

As consultas por telemedicina e o uso de aplicativos de smartphone conectados a dispositivos de PA são incentivados, pois facilitam a comunicação entre pacientes e profissionais de saúde, permitem um acompanhamento mais contínuo e melhoram a adesão ao tratamento.

Decisões compartilhadas

O gerenciamento individual agora se baseia em decisões compartilhadas entre médico e paciente, considerando as metas de PA, os riscos associados, a tolerância ao tratamento e as preferências do paciente.

Isso visa aumentar a adesão ao tratamento e garantir que o plano terapêutico seja o mais adequado possível para cada indivíduo.

Adesão ao tratamento

Para reduzir a pressão arterial de forma eficaz, as diretrizes reforçam a importância da adesão ao tratamento. É sugerido que profissionais usem estratégias de entrevista motivacional para ajudar pacientes a entender a importância do controle da PA e manter a continuidade do tratamento.

Além disso, dispositivos de medicação de dose única (combinando várias drogas em um único comprimido) podem ser recomendados para melhorar a adesão e simplificar o regime medicamentoso.

A orientação agora é que cada paciente tenha um plano de tratamento personalizado, ajustado não apenas à sua condição clínica, mas também às suas necessidades e realidade diária.

Quando iniciar o tratamento medicamentoso

Para hipertensão confirmada (140/90 mmHg), recomenda-se iniciar a terapia medicamentosa imediatamente, junto com mudanças no estilo de vida, para reduzir o risco cardiovascular.

Para PA elevada (120/80 mmHg), foram indicadas mudanças no estilo de vida em três meses. A implementação do tratamento farmacológico para esses indivíduos visa prevenir a progressão para a hipertensão e reduzir o risco de complicações cardiovasculares.

Novas metas de PA com tratamento

  • Meta geral para adultos: As novas diretrizes estabelecem uma meta de PA sistólica (PAS) de 120–129 mmHg para a maioria dos adultos em tratamento, desde que o paciente tolere bem essa meta.
  • Metas mais flexíveis: Em pacientes com sintomas de hipotensão ortostática, aqueles com idade igual ou superior a 85 anos, ou com fragilidade moderada a severa, uma meta mais leniente de PA pode ser adotada.
  • Reavaliação e monitoramento contínuo: Uma vez que a PA esteja controlada e estável, é recomendada uma reavaliação anual para monitorar a pressão e outros fatores de risco cardiovascular.

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