Doar cérebro para estudo é possível; entenda como é o processo

Após a morte do boxeador Maguila, a decisão de doar seu cérebro para estudo gerou repercussão. Saiba mais sobre doação de órgãos

José Adilson Rodrigues do Santos, conhecido por Maguila, foi um dos maiores nomes do boxe e morreu na última quinta-feira, 24, por complicações devido à Encefalopatia Traumática Crônica (ETC). Maguila vivia contra a doença cerebral desde 2013 e decidiu doar o órgão afetado para estudo em 2018.

VEJA a origem do apelido do ex-boxeador Maguila

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Durante o velório, a esposa de Maguila, Irani Pinheiro, afirmou que, no dia da morte, o cérebro do ex-boxeador foi doado à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). O órgão irá para onde já estão os cérebros do ex-boxeador Eder Jofre e do ex-jogador da seleção Bellini.

A instituição de ensino estudará o caso de demência pugilística, nome popular para a doença, comum em atletas que sofrem impactos repetidos na cabeça. A seguir, entenda como é possível doar órgãos e corpos para estudos científicos no Brasil.

Maguila e a demência pugilística

O lutador vivia com a doença desde 2013 e preencheu uma declaração de interesse em doar o cérebro em 2018. A demência pugilística é comumente causada por frequentes traumas cerebrais, algo que esteve presente durante a carreira do lutador.

A Encefalopatia Traumática Crônica é uma doença degenerativa, ou seja, é agravada ao longo dos anos. Alguns dos sintomas mais frequentes são alterações motoras, dificuldade de fala e memória, além das mudanças de humor.

Irani Pinheiro comentou que o boxeador lutador apresentava comportamentos agressivos nos últimos anos, que eram causados apenas pela doença.

Posso ser doador de órgãos?

No Brasil há dois tipos de doadores de órgãos: doador vivo e doador falecido. Em ambos os casos é necessária a autorização familiar para que os órgãos sejam destinados para pesquisa ou para outra pessoa.

A doação de órgãos de pessoas em vida para transplante pode ser feita desde que o doador não tenha a saúde comprometida, seja maior de idade e ele, assim como a família, esteja de acordo com a situação. Parentes de até quarto grau e cônjuges podem ser doadores e receptores entre si. O mesmo não acontece com não parentes, sendo necessária autorização judicial.

Já na segunda classificação de doadores, acometidos por morte encefálica ou por parada cardiorrespiratória, os órgãos para transplante vão para pacientes da lista única. Esse registro é feito pela Central de Transplantes da Secretaria de Saúde de cada estado e controlado pelo Sistema Nacional de Transplantes.

Quais órgãos podem ser doados?

Em caso de doadores vivos, o médico avalia o histórico clínico e as doenças prévias para analisar os riscos da ação. Caso exista compatibilidade sanguínea e a situação não comprometa a vida do concessor, é possível doar um dos rins, parte do fígado, parte da medula ou parte dos pulmões.

Para os transplantes provindos de doadores falecidos, o Ministério da Saúde afirma que é possível a doação do coração, fígado, rins, pulmão, pâncreas e intestino. Também é permitido conceder tecidos para transplante – como córneas, válvulas, ossos, músculos, tendões, pele, cartilagem, veias, artérias, medula óssea e sangue do cordão umbilical.

SAIBA MAIS | Doação de órgãos: cidadãos podem manifestar vontade por meio de documento digital

Quais locais aceitam órgãos para estudo e como fazer?

A legislação também permite a doação de corpos e de órgãos para pesquisa científica pela Lei 8.501/92 e pelo artigo 14 do Código Civil, que valida a “disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte”, com objetivo científico ou altruístico. A premissa existe para que profissionais da saúde possam compreender a anatomia humana através dos estudos de cada caso de forma realista.

Para que a doação aconteça nessa situação, o doador pode manifestar a sua vontade ainda em vida, caso tenha mais de 18 anos, por meio de formulários específicos, disponibilizados em universidades que possuam o curso de Medicina.

Também é necessária autorização de familiares, que serão responsáveis por comunicar a instituição sobre a morte.

Por que doar órgãos para estudos após a morte?

Corpos doados são necessários em diversos cursos da área da saúde, já que a maioria deles têm o estudo anatômico em sua grade curricular. Se beneficiam da utilização de corpos reais cursos como:

  • Medicina
  • Enfermagem
  • Odontologia
  • Educação física
  • Psicologia
  • Fisioterapia
  • Fonoaudiologia
  • Farmácia

“Não existe tempo limite para o uso dos corpos doados. Eles são conservados com substâncias químicas e sua duração não tem tempo determinado, ou seja, eles podem colaborar para a formação de profissionais por muitos e muitos anos”, explica a USP.

A Universidade aponta ainda que “o estudo com corpos humanos ainda é imprescindível para uma formação de qualidade”. “Simulações e modelos são importantes, mas ainda não dão conta desta complexidade”, aponta.

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