Crianças podem ser psicopatas? Como identificar transtornos

Caso de menino no Paraná que matou 23 animais levou internautas a citarem traços de psicopatia; entenda se crianças podem ou não ser psicopatas

22:18 | Out. 15, 2024

Por: Penélope Menezes
Crianças podem ser psicopatas? Entenda transtornos que afetam crianças e adolescentes (Imagem meramente ilustrativa) (foto: Freepik)

A gravação de um menino de 9 anos invadindo uma fazendinha em Nova Fátima (PR) e matando 23 animais de pequeno porte causou revolta entre os internautas. O caso aconteceu no último domingo, 13.

A Polícia Civil e o Conselho Tutelar acompanham a situação, mas usuários nas redes sociais levantaram comentários relativos à psicopatia. “A troco de quê? Fortes traços de psicopatia, um criminoso”, declarou perfil no X (antigo Twitter).

Por outro lado, seguindo os critérios utilizados atualmente, crianças não são diagnosticadas como "psicopatas".

Entenda os motivos e outros comportamentos disruptivos que podem ser identificados durante a infância e adolescência.

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O que é psicopatia?

O termo “psicopatia” não é listado oficialmente no 5º volume do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5). A condição pode ser vista, diz o psiquiatra Daniel Krämer, como “uma forma mais intensa e específica de Transtorno de Personalidade Antissocial (TPA)”.

“Embora o TPA e a psicopatia compartilhem diversas semelhanças, a psicopatia apresenta um componente afetivo e interpessoal mais acentuado, que não é contemplado nos critérios diagnósticos do TPA no DSM-5”, completa.

As características relacionadas à psicopatia podem remeter a um conjunto de traços, descritos pelo psiquiatra como grandiosidade, egocentrismo, manipulação, emoções superficiais, impulsividade e tendência a desrespeitar normas sociais.

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Crianças podem ser psicopatas?

De acordo com Krämer, crianças não recebem um diagnóstico de “psicopatas”. Isso se dá pelo fato de “suas personalidades ainda estarem em desenvolvimento e ao potencial de mudança de tempo”.

Por outro lado, é possível identificar traços de insensibilidade emocional durante a infância, como falta de empatia, indiferença em relação aos sentimentos alheios e ausência de remorso ou culpa.

“A identificação precoce desses comportamentos pode ser vital para intervenções preventivas”, destaca Krämer.

Transtornos que afetam crianças e adolescentes

Entre os comportamentos disruptivos que podem afetar crianças e adolescentes, estão o Transtorno Desafiador Opositivo (TDO) e o Transtorno de Conduta (TC).

Transtorno Desafiador Opositivo (TDO)

“O TDO se manifesta por um padrão persistente de comportamento negativista e desafiador em relação a figuras de autoridade”, começa o profissional.

Os sintomas devem durar, pelo menos, seis meses para serem considerados. Nesse período, o comportamento é caracterizado por personalidade irritável e argumentativa, com tendências vingativas.

“Crianças com TDO costumam ter dificuldades em controlar seu temperamento, desobedecem e enfrentam problemas significativos em suas relações com pais, professores e colegas”, explica o psiquiatra Daniel Krämer.

“Além disso, é comum que o TDO ocorra junto a outros transtornos psiquiátricos, como TDAH e transtornos de humor”, afirma.

Transtorno de Conduta (TC)

O Transtorno de Conduta (TC) é considerado mais grave, caracterizado por comportamentos repetitivos que violam os direitos de outros ou normas sociais.

“Os sintomas incluem agressões a pessoas e animais, destruição de propriedade, engano e violações severas de regras”, indica Krämer. “O TC pode apresentar subtipos diferentes, dependendo da idade em que os comportamentos começaram e sua gravidade”.

“O TDO geralmente surge mais cedo na infância e pode preceder o TC em alguns casos, mas nem todas as crianças com TDO desenvolvem TC”, alerta o psiquiatra.

A longo prazo, a intervenção precoce e o tratamento adequado são essenciais para a melhoria dos resultados.

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