Fisiculturismo e anabolizantes: médico explica riscos para saúde

Dr Carlos Mota, cardiologista especialista em esporte, explica os riscos e efeitos colaterais do uso de anabolizantes no fisiculturismo

O fisiculturista Matheus Pavlak, de apenas 19 anos de idade, foi encontrado morto em sua casa em Blumenau, em Santa Catarina, após sofrer uma parada cardiorrespiratória no último domingo, 1°. Este já é o terceiro caso de morte relacionada ao fisiculturismo em 2024.

Em junho, Cíntia Goldani, de 37 anos, morreu após um choque séptico decorrente de uma sepse pulmonar. Apenas dois meses depois, Antônio Souza, 26, morreu após sofrer uma parada cardíaca.

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Por que casos como esse são cada vez mais frequentes? Carlos Mota, cardiologista especialista em cardiologia do esporte do Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes (HM) explica os motivos que podem estar por trás disso e alerta para os riscos envolvendo a prática.

Fisiculturismo: riscos e consequências

Entre rotinas intensas de treino e dietas específicas para ganho de massa muscular, quem se dedica ao fisiculturismo nem sempre está ciente dos riscos que envolvem a prática do esporte.

O cardiologista Carlos Mota explica que para iniciar na prática é preciso, antes de tudo, realizar uma avaliação médica.

Neste processo, um teste ergométrico, ecocardiograma e eletrocardiograma podem ser realizados para atestar a capacidade do atleta para praticar o esporte com segurança.

“Muitos atletas estão fazendo atividades físicas sem fazer essa avaliação para participação. O que ocorre muitas vezes com os fisiculturistas é que, além de não fazerem essa avaliação, fazem modulações hormonais, com uso de anabolizantes.”

Fisiculturismo: o que são anabolizantes?

Os anabolizantes são hormônios sintéticos feitos a partir da testosterona, geralmente utilizados no tratamento de osteoporose, anemia e outras doenças.

Porém, pela capacidade de estimular novas fibras musculares, essa substância também é utilizada por atletas, visando o ganho de massa e a estética.

Considerado também um tipo de doping em modalidades esportivas como futebol, vôlei, atletismo e outros, por aumentar o desempenho dos atletas, o uso de anabolizantes é proibido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) para fins além do tratamento de doenças. 

Além disso, sua utilização inadequada pode ocasionar diversos problemas de saúde.

Fisiculturismo e anabolizantes: aumento da taxa de mortalidade

De acordo com um estudo realizado na Dinamarca e divulgado neste ano, o uso dessas substâncias sintéticas aumenta em 2,8 vezes o risco de morte.

Durante o período de 11 anos que compreende o estudo científico, foram acompanhados 1.189 usuários de esteroides e 59.450 não usuários, chamados de grupo controle.

Ao final do acompanhamento, foi constatada a morte de 33 usuários de anabolizantes e de 578 do grupo controle, resultando em uma taxa de mortalidade 2,81 vezes maior para os usuários de esteroides. 

Ainda, ao considerarem apenas as mortes não naturais, como acidentes, a taxa de mortalidade subiu para 3,64 vezes, em comparação com os não usuários.

Fisiculturismo: efeitos colaterais de anabolizantes no organismo

O médico Carlos Mota alerta para os efeitos dos anabolizantes. Veja abaixo:

Insuficiência renal

A aplicação de terapias hormonais como a testosterona, podem trazer implicações para a saúde dos rins.

A insuficiência renal acontece quando os rins perdem a sua capacidade de filtrar e eliminar substâncias tóxicas para o organismo.

Dentre os sintomas estão urina com espuma e pouca urina, cansaço frequente, inchaço das pernas e pés, diminuição do apetite, náuseas e vômitos, cãibras frequentes e outros.

Alterações no sangue

Um dos efeitos hematológicos do uso de anabolizantes é o aumento de hematócritos no sangue. Essa condição torna o sangue mais grosso, ao passo em que pode trazer implicações para a saúde do coração.

Os principais sintomas de hematócritos altos são coceira na pele, dor de cabeça, suor excessivo, visão turva, dupla ou com pontos escuros, zumbido nos ouvidos, fadiga, falta de ar e fraqueza.

O médico conta que em casos de pacientes que fizeram o uso de anabolizantes e que mostram valores muito elevados de hematócritos, é necessário realizar uma transfusão de sangue para corrigir a alteração sanguínea.

Problemas cardiológicos

As consequências cardíacas envolvem o crescimento do coração, causando a hipertrofia de vários setores do órgão, como os átrios e ventrículos.

De acordo com o cardiologista, essa condição “aumenta o risco de formar trombos que podem levar a um infarto agudo do miocárdio”.

Alterações nos órgãos sexuais

Carlos Mota destaca ainda as consequências do uso de anabolizantes nos sistemas reprodutores masculino e feminino.

De acordo com o médico, esse tipo de terapia hormonal nas mulheres pode ocasionar o aumento do clitóris, além do aparecimento de acnes e pelos. Nos homens, pode ocorrer a diminuição dos testículos, infertilidade e disfunção erétil.

É possível praticar o fisiculturismo de uma forma saudável?

A resposta é sim. Para isso, a primeira coisa que deve ser feita é uma avaliação antes de começar a atividade física, visando descartar doenças que representem potencial de risco à saúde ou à vida, caso o atleta inicie a prática.

O médico afirma que este é um cuidado a ser tomado antes de iniciar qualquer esporte ou atividade física, “independente da idade, do sexo, do tipo da atividade, se é uma criança, idoso ou um atleta de alta performance”.

Carlos Mota também reforça as consequências do uso de esteroides anabolizantes e contra indica a adoção dessa modulação hormonal para fins de desempenho e ganho de massa muscular.

Portanto, é possível realizar a prática do esporte de maneira saudável e ainda assim obter bons resultados, desde que os devidos cuidados sejam tomados e que os anabolizantes estejam fora da equação.

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