Dia dos Pais: como respeitar o luto em datas comemorativas

A psicóloga Eugênia Viana, especialista em luto, explica como o processo funciona e traz dicas de como passar pelo Dia dos Pais enquanto vivencia a perda

Seja para um almoço caseiro ou um dia na praia com a família e amigos, a maioria das pessoas aproveita as datas comemorativas, como o Dia dos Pais, para dar uma pausa na rotina e descansar. No entanto, esses momentos podem ser difíceis para aqueles que vivem o luto por um ente querido.

A psicóloga Eugênia Viana destaca a importância de falar sobre o tema e explica como esse processo funciona. Em conversa com O POVO, a especialista em luto orienta como passar por datas comemorativas enquanto vivencia a perda.

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Luto: "uma resposta natural"

Para entender como o processo do luto funciona e como lidar com ele, é preciso primeiro saber o seu significado.

“O luto nada mais é do que a resposta natural a uma ameaça de perda ou a uma perda concreta de algo ou de alguém muito significativo na nossa vida. É um processo particular; cada pessoa reage de uma forma diferente a essa experiência”, explica Eugênia.

Se apresentando de diversas formas ao longo da vida, o luto muda a cada experiência de perda vivenciada. Também é composto por altos e baixos, com oscilações de humor, comportamento e emoções.

“Ora o enlutado tá mais voltado para a dor dessa perda, ora ele tá mais voltado para reconstrução da sua vida a partir da ausência”, conta a psicóloga.

Dessa forma, o luto representa a tentativa de adaptação a uma nova realidade e, por isso, demanda muita energia da pessoa enlutada. Além disso, é necessário entender que “é um processo que não tem um tempo para acontecer, para acabar, mas que precisa ter paciência e respeito”.

Como respeitar o luto no Dia dos Pais

Datas comemorativas podem ser mais difíceis para aqueles que perderam alguém, principalmente, quando o ente querido é o homenageado da data.

Eugênia explica que isso acontece porque “esses dias reavivam a dor da perda, o sentimento de tristeza e a saudade”. O bombardeio de homenagens e comemorações compartilhados nas mídias sociais também contribui para isso.

A psicóloga explica que, muitas vezes, a pessoa enlutada ainda não está preparada para participar dessas festividades e comemorar a data. Por isso, ressalta o quão importante é perceber as próprias emoções e validar aquilo que está sentindo, respeitando seus limites para decidir se participa ou não dos eventos.

Reconhecido isso, a orientação é buscar aquilo que faz sentido para si. Seja realizar um ritual para honrar a memória de quem se foi ou optar por fazer algo totalmente fora do comum. A decisão deve ser pessoal e pautada pela forma como a pessoa se sente a respeito disso.

Como viver o luto?

Apesar de ser uma questão complexa, algumas estratégias podem ajudar a passar pelo luto de uma forma mais leve. Confira algumas orientações de Eugênia Viana, psicóloga clínica e hospitalar, especialista na temática.

> Permita-se

Tentar evitar ou ignorar os sentimentos não é a forma adequada de lidar com o luto. É essencial se permitir sentir, encarar e reconhecer os sentimentos.

“Se permita vivenciar essa dor, a tristeza e todas as emoções que possam surgir”, orienta a psicóloga.

> Busque uma rede de apoio

Eugênia reforça ainda a importância de compartilhar as experiências e as emoções com alguém de confiança, firmando uma rede de apoio para os dias difíceis.

Seja com amigos, familiares, em grupos de apoio ou mesmo com um profissional de saúde, falar sobre o que sente pode contribuir para aliviar a carga do processo.

> Cuide de si

Apostar no autocuidado e estabelecer uma rotina também podem fazer parte de uma estratégia eficaz.

“Tente manter hábitos saudáveis, como uma alimentação equilibrada, prática de exercícios físicos e sono adequado”, lista Eugênia. “Buscar atividades que sejam prazerosas, relaxantes... Tudo isso pode ajudar também a enfrentar o luto.”

> Mantenha a memória

“É importante também que você encontre formas significativas de manter a memória desse ente querido, que façam sentido para você”, ressalta.

Atividades como escrever uma carta e participar de atividades que a pessoa apreciava ou que faziam juntos podem ser uma forma de homenagear aquele que se foi e manter viva sua memória.

> Seja paciente

Eugênia destaca que o luto “é um processo que leva tempo” e que representa “uma jornada única para cada pessoa, sem um tempo determinado para acontecer”.

Então, a partir desse entendimento, é preciso considerar a não linearidade do processo e ter paciência para vivê-lo.

Como respeitar o luto do outro?

A chave é a empatia. Eugênia aponta que “estar aberto para a pessoa enlutada se expressar e se colocar disponível para ajudá-la no que for preciso é a melhor forma de acolher alguém durante o processo de luto”.

Isso pode ser colocado em prática ao acolher os sentimentos, as emoções e até mesmo o choro da pessoa enlutada. Resolver alguma tarefa para o outro ou simplesmente fazer companhia para não ficar sozinho também podem ser formas de mostrar respeito.

Luto: o que não fazer?

A psicóloga conta que, para lidar com alguém de luto e de fato acolher seus sentimentos, se deve deixar o julgamento para trás.

Julgar suas emoções, sua maneira de lidar com a situação ou o seu comportamento diante da perda é algo que jamais deve ser feito. Tentar ditar a forma como a pessoa enlutada deve agir também é uma postura a ser evitada.

“Falar sobre a morte é uma forma de dar atenção à vida”

Assim como outras temáticas envolvendo as emoções e a saúde mental, o luto é muitas vezes visto como um tópico a ser deixado de fora da conversa.

Eugênia conta que “as pessoas evitam e acham que falar sobre isso de alguma forma atrai mais ainda as perdas e a morte, quando, na verdade, a experiência de luto é algo natural e inevitável.”

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“Falar sobre a morte é uma forma de dar atenção à nossa vida também. Quando a gente olha para a nossa morte, para a morte do outro, a gente entende que a vida tem valor. E quanto mais a gente fala sobre o tema, mais a gente se familiariza e torna isso o mais natural possível”, completa a especialista.

Por fim, Eugênia enfatiza que "nunca estamos preparados para perder alguém que a gente ama muito ou algo que é muito significativo na nossa vida". "Investir na saúde física, psicológica, espiritual e social é uma forma de se preparar para viver esse processo"

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