Vírus sincicial respiratório: o vilão quase desconhecido pela população

Pouco conhecido, o vírus sincicial foi a causa de 11,6% das mortes causados por síndromes gripais no Brasil neste ano

07:00 | Mai. 25, 2024

Por: Wilnan Custódio
Concepção artística de vírus (foto: mikael baima)

Síndrome gripal é um termo que se tornou bem mais comum no vocabulário da população por causa da pandemia de Covid-19. Porém, antes da epidemia global, quem tinha sintomas gripais falava que estava gripado ou resfriado, sem se preocupar em saber qual agente patogênico era a causa daquela enfermidade.

Um vírus respiratório conhecido pela população antes do evento da pandemia era o influenza, patógeno que causa gripe. Entretanto, outro vírus já disputava espaço com o influenza como principal agente causador de síndromes gripais, o vírus sincicial respiratório (VSR), que pertence a família de vírus Orthopneumovirus.

Segundo a médica Maria Enedina Scuarcialupi, pneumologista do Hospital Universitário Lauro Wanderley de João Pessoa, o VSR não é tão letal quanto os vírus influenza ou da Covid-19, mas ainda assim é mais grave que outros vírus que causam sintomas gripais. Os principais sintomas da infecção pelo vírus sincicial são febre e dificuldade de respirar, podendo causar prostração.

Em crianças e idosos, o quadro de sintomas pode ser potencializado devido às limitações do sistema imunológico durante essas fases da vida. O vírus também abre caminho para infecção bacteriana no hospedeiro, causando quadros de pneumonia no paciente.

“Teoricamente ele não era um vírus tão letal quanto o influenza e o coronavírus, mas aí tem esses momentos pontuais, ele ganhou força e se equiparou ao influenza e está com o potencial letal como em bebês e idosos”, frisa Maria Enedina, que também é professora da Faculdade de Medicina e Ciências Médicas da Paraíba.  

Vírus sincicial: doença não tem nome específico

Não há um nome específico para a síndrome gripal que é causada pelo vírus sincicial. “Ele causa uma gripe, é um dos agentes causadores de gripe. Gripe é uma doença provocada por um vírus que pode ser rinovírus, adenovírus, influenza, sincicial respiratório e coronavírus”, explica a médica Maria Enedina.

Segundo o boletim da Fiocruz com informações coletadas entre os dias 5 a 11 de maio, 56,8% dos casos de síndromes respiratórias eram causadas pelo VSR, enquanto 27,8% e 5,1% eram casos de influenza e Covid-19 respectivamente.

Com relação ao número de mortes registradas por síndromes gripais, influenza (A e B) e Covid-19 estão na frente dos números com 47,9% e 35,1% respectivamente, porém 13,4% das mortes foram causadas pelo vírus sincicial respiratório.


Aumento de Casos

Algumas questões e fatos podem ser apontados como as possíveis causas para o aumento do número de infecções por VSR. Segundo o médico Guilherme Henn os casos de infecções pelo VSR e outros vírus costumam aumentar durante os meses mais frios do ano em todo mundo, a depender da estação climática de cada continente e região. 

“No hemisfério os casos acontecem no final do ano e nos meses de inverno, que são os mais gelados quando nevam, já no hemisfério sul esses casos se concentram no primeiro semestre do ano. Quando a gente fala do Sul e do Sudeste do Brasil vai esfriar lá pra maio e junho, mas no Nordeste a gente tem o pico de casos no começo do ano entre fevereiro e abril porque os meses mais frios são os meses que chove” explica o profissional sobre a incidência de casos.

Com a pandemia de Covid-19, houve uma mudança no painel viral e na apresentação dos vírus, como explica a médica Maria Enedina. Ela diz que as “pessoas se isolaram não se vacinaram e os vírus vão se modificando, eles têm alteração genética anualmente e a maioria dessas alterações acontecem nas crianças”. Segundo ela que os vírus se modificam geneticamente para eles infectarem mais, e com as pessoas em confinamento, naturalmente estavam menos resistentes a outros vírus que também paravam de circular.

Quais os sintomas?

Os sintomas da infecção por VSR são praticamente indistinguíveis dos da Covid-19 e da influenza, segundo o médico Guilherme Henn, infectologista no Hospital São José em Fortaleza e professor do curso de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC).

São eles: resfriado, coriza, tosse, dor de garganta, febre baixa e até mesmo prostração. Dentre as pequenas diferenças, o médico cita a intensidade da febre, pois pacientes com Covid-19 e VSR tendem a ter febre mais baixa do que pacientes com influenza.

Uma outra característica do paciente com VSR seria o chiado no peito, causado pela presença de secreção. Apesar disso, o médico lembra que todos os vírus “podem assumir as características uns dos outros, sendo impossível só com base em sintomas ter certeza do diagnóstico”.

Qual o grupo de risco?

Enedina afirma que o vírus é mais comumente grave em crianças e em idosos: “Nos bebês, ele causa internação e provoca bronquiolite, que pode levar à morte.”

Nos idosos, o vírus pode levar a quadros de pneumonia bacteriana por causa da ação no pulmão do paciente. A infecção pode comprometer a imunidade local do pulmão, favorecendo a proliferação de bacterias, segundo a médica.

Existe vacina para o vírus sincicial respiratório?

Sim, foi desenvolvida uma vacina pela farmacêutica Pfizer, e já foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no final de 2023. Porém ela ainda não se encontra disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Enedina pede que a população continue a vacinação contra Covid-19 e contra influenza pois segundo ela "já vai treinando as defesas do sistema imunológico". A médica destaca que as quedas nos números de vacinação contra influenza e outras doenças foram intensificadas por campanhas de desinformação durante a pandemia de Covid-19.

“Os vírus estão encontrando as pessoas com menos resistência de uma forma mais fácil. As famílias estão com receio de todas as vacinas, não querem se vacinar e isso mudou o perfil dos vírus. Nisso, o vírus sincicial resolveu dar a cara”, relata a médica.

“Isso é muito sério, criou-se uma cultura que vacina mata. E (a vacina) não mata! A humanidade está envelhecendo graças às vacinas, porque senão morreríamos todos em torno dos 30 anos de idade. Dois eventos aconteceram na humanidade pra gente envelhecer, a descoberta da penicilina e às vacina” afirma a médica Maria Enedina.

Importância dos exames

É importante a realização do exame, tanto por causa da certeza dos medicamentos a serem utilizados para o tratamento, como para alimentar dados das secretarias de Saúde, pois são a partir desses dados que as políticas públicas em saúde são elaboradas, conforme explicou a médica Enedina.

Já segundo Guilherme Henn, é fundamental o exame para cravar por qual patógeno o paciente está infectado. Os sintomas são extremamente parecidos, pois as pequenas diferenças impossibilitam o diagnóstico sem exame.