Vermes de Chernobyl imunes à radiação podem auxiliar em pesquisas contra o câncer
Segundo pesquisadores da NYU, a descoberta pode ajudar a entender as diferentes probabilidades de sofrer os efeitos de agentes cancerígenos. Entenda
14:10 | Mar. 11, 2024
Pesquisadores descobriram que vermes que vivem perto da usina de Chernobyl, na Ucrânia, parecem ser imunes à radiação. É o que aponta uma pesquisa sobre o reparo do DNA, feita pela Universidade de Nova York.
No estudo, foram analisados indivíduos de uma espécie para estudar sobre a predisposição genética para o câncer em humanos. O artigo, cujo título afirma que “a exposição à radiação ambiental em Chernobyl não afetou sistematicamente os genomas ou os fenótipos de tolerância a mutagênicos químicos dos vermes locais”, foi publicado na edição de março de 2024 da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas).
Ao analisar os seres que vivem na área atingida pela radiação no acidente nuclear de 1986, os pesquisadores perceberam que alguns animais apresentaram diferenças em relação aos de outros lugares.
É o caso dos nematódeos — vermes com DNA simples e reprodução rápida — úteis para compreensão de fenômenos biológicos básicos. Para a surpresa dos estudiosos, não foi possível detectar danos por radiação nos genomas desses vermes. A descoberta sugere que eles são excepcionalmente resistentes.
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Como os cientistas estudaram os vermes em Chernobyl?
Os pesquisadores da Universidade de Nova York coletaram vermes Oscheius tipulae de amostras de solo, frutas podres e outros materiais orgânicos em áreas com diferentes níveis de radiação na Zona de Exclusão de Chernobyl.
O professor Matthew Rockman, co-autor do estudo, explicou por que esses seres são utilizados para a pesquisa: “Esses vermes vivem em todos os lugares e vivem rapidamente; por isso, passam por dezenas de gerações de evolução enquanto um vertebrado típico continua se desenvolvendo”, disse em entrevista ao Daily Mail.
Porém, mesmo que esses vermes não sejam afetados pela radiação, não significa que a área estudada esteja segura, segundo Sophia Tintori, líder da pesquisa.
Afinal, como a pesquisa com vermes em Chernobyl está relacionada com o câncer?
Os resultados dão aos pesquisadores pistas sobre como o reparo do DNA pode variar de indivíduo para indivíduo. Apesar da simplicidade genética dos nematóides, as descobertas podem levar a uma melhor compreensão dessa variação natural nos seres humanos.
“Agora que sabemos quais cepas de O. tipulae são mais sensíveis ou mais tolerantes a danos no DNA, podemos usar essas cepas para estudar por que diferentes indivíduos têm maior probabilidade do que outros de sofrer os efeitos de agentes cancerígenos”, explica Tintori ao Daily Mail.
A forma como os diferentes indivíduos de uma espécie respondem aos danos no DNA é uma prioridade para os pesquisadores sobre câncer, que procuram compreender porque é que alguns humanos com predisposição genética desenvolvem a doença, enquanto outros não.
“Pensar sobre como os indivíduos respondem de forma diferente aos agentes prejudiciais ao DNA no ambiente é algo que nos ajudará a ter uma visão clara dos nossos próprios fatores de risco”, acrescenta a pesquisadora.