Primeira gravidez por FIV em rinocerontes pode salvar espécie em extinção

00:04 | Jan. 28, 2024

Cientistas conseguiram transferir com sucesso um embrião do paquiderme para uma mãe de aluguel. Marco científico pode ser a salvação do rinoceronte-branco-do-norte, que conta hoje com apenas dois exemplares no mundo.Com apenas dois exemplares vivos de sua espécie – duas fêmeas estéreis –, a extinção do rinoceronte-branco-do-norte já era dada praticamente como certa. Não mais: uma equipe de cientistas internacionais conseguiu implantar numa mãe de aluguel um embrião de rinoceronte criado através de fertilização in vitro. O experimento pode ser a salvação da espécie. Essa foi a primeira transferência bem-sucedida de embrião para uma mãe de aluguel feita em paquidermes, explicaram os participantes do programa científico BioRescue ao apresentar os resultados nesta quarta-feira (24/01) em Berlim. "Juntos alcançamos algo que jamais imaginamos ser possível", disse o veterinário e líder de projeto Thomas Hildebrandt. A ciência, segundo ele, está agora muito mais perto "do sonho de criar uma população saudável e geneticamente estável de rinocerontes-brancos-do-norte". Apontada pelos pesquisadores como um "avanço científico", a transferência de embriões tem o potencial de preservar também outras espécies ameaçadas. Testes iniciais com subespécie do sul O embrião foi criado num laboratório de reprodução italiano através de fertilização in vitro e inserido em uma mãe de aluguel no Quênia em setembro do ano passado. A gravidez foi bem-sucedida, mas a rinoceronte grávida acabou morrendo em decorrência de uma infecção – e, com ela, o feto de 70 dias. "Ainda estava muito longe do nascimento, por isso não pôde ser salvo", disse Susanne Holtze, do Instituto Leibniz de Pesquisa em Zoológicos e Vida Selvagem (IZW), responsável pelo projeto. A gestação completa de rinocerontes dura cerca de 16 meses. Embora o embrião fosse de um rinoceronte-branco-do-sul, relativamente mais comum, o mesmo método poderá ser usado no futuro para produzir espécimes da subespécie do norte, anunciaram os pesquisadores. A estratégia de testar o método primeiramente na subespécie do sul busca salvar os valiosos embriões da subespécie do norte para experiências posteriores, que devem acontecer numa próxima etapa. Uma espécie em vias de extinção O rinoceronte-branco-do-norte é considerado o mamífero de grande porte mais raro do mundo, com apenas dois exemplares remanescentes – duas fêmeas estéreis, de 23 e 33 anos, que vivem no Quênia. Considerando a expectativa de vida entre 40 e 45 anos, pode-se dizer que o fim da subespécie está muito próximo. Isso se os pesquisadores não tivessem salvado espermatozoides de espécimes masculinos, usados então para fertilizar os óvulos das fêmeas mais jovens. A ideia do projeto é que os embriões resultantes sejam posteriormente gestados por uma mãe de aluguel da subespécie do sul. A previsão é que esta nova fase comece em maio ou junho deste ano, disse Hildebrandt. Para isso, foram gerados 30 embriões de rinoceronte-branco-do-norte, que estão congelados desde 2019. No entanto, ainda pode levar anos até um nascimento bem-sucedido. Se e quando isso acontecer, o plano é que os jovens animais sejam levados para perto das duas fêmeas de rinocerontes restantes, Najin e Fatu, na reserva Ol Pejeta, no Quênia, onde elas são cuidadas e monitoradas dia e noite. ip/le (dpa, ots)