Escarlatina: o que é a doença suspeita de matar crianças e fechar escolas

Cidade de Minas Gerais registrou 30 casos de escarlatina; saiba o que é a doença, os sintomas, se é contagiosa, tratamento, prevenção e mais

Em Minas Gerais (MG), a morte de três crianças do município de São João del-Rei é investigada por suspeita de avanço de escarlatina, doença causada pela bactéria Streptococcus pyogenes, a mesma que causa amigdalite, artrite, pneumonia e endocardite. A patologia costuma acometer crianças em idade escolar.

Febre maculosa em crianças: conheça os sintomas e saiba como prevenir

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Em outros municípios do estado, o medo da infecção se espalhar motivou o fechamento de escolas municipais, como em Felício dos Santos, no Vale do Jequitinhonha, onde foram registrados 30 casos de escarlatina, diagnosticados clinicamente sem realização de exames laboratoriais.

Mais abaixo nesta matéria, confira o que se sabe até agora sobre a situação de alerta em Minas Gerais e entenda mais sobre a bactéria causadora da escarlatina.

O que é escarlatina?

Considerada rara no país, com menos de 15 mil casos por ano, escarlatina é uma doença infectocontagiosa aguda, provocada pela bactéria Estreptococo beta hemolítico do grupo A, que acomete especialmente as crianças em idade escolar (de 2 a 10 anos), durante a primavera, após um episódio de faringite ou amigdalite estreptocócica.

De acordo com o Centro de Vigilância Epidemológica, os estreptococos são, também, agentes causadores de infecções da garganta (amigdalite) e da pele (impetigo, erisipela). O aparecimento da escarlatina não depende de uma ação direta do estreptococo, mas de uma reação de hipersensibilidade (alergia) às substâncias que a bactéria produz (toxinas).

Assim, a mesma bactéria pode provocar doenças diferentes em cada indivíduo que infecta.

A escarlatina é uma doença contagiosa?

Por possuir um alto risco de contágio, a transmissão ocorre pelo contato direto com a saliva ou a secreção nasal de pessoas doentes ou aquelas que têm a bactéria, mas não apresentam sinais da enfermidade.

Esse contato pode ser tanto por gotículas expelidas em tosse ou espirro como por beijo, objetos compartilhados (como copos) ou mãos que tocaram partículas contaminadas e foram levadas ao nariz ou boca. O período de incubação pode variar de 1 a 10 dias.

Quais são os sintomas da escarlatina?

De acordo com o portal Drauzio Varella, estes são os sintomas da doença bacteriana:

  • Início súbito com calafrios e febre alta nos primeiros dias, que vai baixando aos poucos nos dias subsequentes até desaparecer
  • Dor de garganta intensa
  • Erupção cutânea (exantemas): Pequenas manchas vermelho-escarlate de textura áspera na pele que aparecem inicialmente no tronco, depois tomam a face, o pescoço, os membros, axilas e virilha, mas poupam as palmas das mãos, as plantas dos pés e ao redor da boca. Nas dobras de pele, como cotovelos, punhos, axilas e joelhos, as manchas podem ser mais escuras. As erupções descamam com a evolução do quadro
  • Na língua, surgem caroços avermelhados recobertos com uma película parecida com um plástico filme branco amarelado. Essa película posteriormente se desfaz e a pele adquire o aspecto de framboesa, porque as papilas incham e ficam arroxeadas
  • Mal-estar
  • Inapetência
  • Aumento dos gânglios do pescoço
  • Dor no corpo, de barriga e de cabeça
  • Náuseas e vômitos

A escarlatina causa complicações?

A escarlatina pode ter complicações precoces, durante a fase aguda da doença, e/ou complicações tardias, que surgem semanas após o seu desaparecimento.

As complicações na fase aguda da doença resultam da disseminação da infecção estreptocócica a outros locais do organismo, causando, por exemplo, otite, sinusite, laringite, meningite, etc.

As infecções tardias podem surgir após a cura da doença e são a febre reumática (lesão
das válvulas do coração) e a glomerulonefrite (lesão do rim que pode evoluir para insuficiência renal). Estas complicações são potencialmente graves e para diminuir a sua ocorrência é importante o tratamento adequado das infecções estreptocócicas.

Qual é o tratamento para a escarlatina?

Segundo especialistas, é importante diagnosticar a doença o mais rápido possível para evitar complicações que podem ser graves e para diminuir a sua ocorrência. Os médicos podem receitar antibióticos e até mesmo remédios para passar as dores e a febre.

Prevenção contra a escarlatina

A Secretaria Municipal de Saúde recomenda que diante de qualquer sintoma, os pais e responsáveis não devem encaminhar as crianças para as atividades escolares e buscar atendimento médico.

Além disso, são também recomendadas medidas protetivas, como: higienização das mãos, uso do álcool 70%, não compartilhar objetos pessoais (copos, garrafinhas, talheres, etc.) e manter o esquema vacinal de acordo com o calendário nacional de imunização.

Escarlatina: o que se sabe até agora sobre os casos de alerta em MG

De acordo com a Prefeitura de São João del-Rei, quatro crianças estavam internadas em hospitais da cidade, com acompanhamento da Secretaria de Vigilância em Saúde. A pasta, no entanto, destacou que não há vínculo epidemiológico e que o Município não enfrenta um surto causado pela bactéria Streptococcus pyogenes.

Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde também reforçou que não há critérios que comprovem surto ou risco à saúde da população ou nenhuma evidência epidemiológica que justifique a alteração na rotina das atividades da população.

Amostras dos pacientes internados e das vítimas da doença foram coletadas pela Secretaria de Saúde do município e serão analisadas pela Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Belo Horizonte. Diante da análise, será possível identificar se a doença está sendo causada pela bactéria Streptococcus pyogenes.

Tia de criança que morreu com sintomas da doença bacteriana questiona falta de diagnóstico

Conforme informações da família de Kamilla de Melo Silveira, um dos casos de óbito, um intervalo de aproximadamente quatro dias separou os primeiros sintomas até a confirmação do falecimento da menina, de apenas 10 anos, na Santa Casa de Misericórdia de São João del Rei.

Kamilla teve os primeiros sintomas no dia 19 de outubro, iniciou vômitos no domingo, 22, e foi levada até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e, de lá, transferida com quadro mais grave para a Santa Casa de São João del Rei.

Em entrevista à TV Integração durante o sepultamento dela no Cemitério das Mercês, Roseline Guimarães, tia da menina, fez duras críticas à Santa Casa e à falta de vagas na UTI neonatal, situação que obrigou a família a procurar a polícia e registrar um boletim de ocorrência.

“Em relação ao diagnóstico, não tivemos na Santa Casa. Então, de que a Kamilla morreu? A gente não sabe. O diagnóstico foi de infecção generalizada da UPA, mas no laudo da Santa Casa está outro, de insuficiência cardíaca”, questiona.

Escolas fechadas

Embora a orientação inicial não direcionasse para o hiatus das escolas municipais, a Prefeitura informou, no fim da manhã de terça-feira, 24, que as instituições passarão por uma desinfecção e limpeza generalizada com a suspensão das aulas prevista até o dia 6 de novembro.

"Não é o problema solucionado, mas é uma medida cautelar que estamos buscando para atender, especialmente a preocupação de pais de alunos, que merecem todo esse carinho do município e essa atenção", afirmou o Executivo ao g1 via assessoria.

Entenda a cronologia das mortes e internações

De acordo com o portal g1, esta foi a ordem dos óbitos e das internações por escarlatina:

  • 24 de setembro: a Secretaria de Saúde teve conhecimento da morte de um menino de 10 anos na Santa Casa Misericórdia de São João del Rei, com quadro séptico (infecção generalizada). Conforme a nota, a declaração de óbito apontou infecção por Streptococcus pyogenes, mas não houve coleta de material para confirmação laboratorial
  • 2 de outubro: a pasta foi notificada sobre a hospitalização de uma menina de 9 anos com sintomas de febre, lesão em calcâneo e pé. Ela realizou exames na unidade de saúde, com envio de amostras também à Fundação Ezequiel Dias (Funed) que, no dia 18 de outubro, confirmou a contaminação por Streptococcus sp. alfa-hemolítico. A criança evoluiu bem e teve alta hospitalar;
  • 8 de outubro: uma menina sanjoanense de apenas 3 anos morreu durante uma viagem com a família para o Maranhão. Segundo a Secretaria de Saúde, a declaração de óbito apontou insuficiência respiratória aguda, hemorragia pulmonar, infecção não especificada e outros defeitos da coagulação. Segundo a Secretaria de Saúde, ainda é aguardado o resultado da necropsia
  • 23 de outubro: foi confirmado o óbito de uma menina de 10 anos, que deu entrada na UPA 24h, depois de passar pela Santa Casa de Misericórdia de São João del Rei. A causa da morte seria disfunção de múltiplos órgãos como consequência de choque séptico. Conforme informações de familiares da criança, foi coletado material clínico e enviado à Funed. Ainda na segunda-feira, 23, a Prefeitura informou que outras quatro crianças estão internadas e acompanhadas por equipes da Vigilância em Saúde.

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