Educação médica precisa estar próxima da comunidade, diz representante da Opas

Especialistas no tema comentaram o edital de incentivo à abertura de cursos privados de Medicina em áreas com menor cobertura nos Estados, publicado nessa quarta-feira, 4

11:02 | Out. 06, 2023

Por: Ana Rute Ramires
Imagem de apoio ilustrativo (foto: Freepik )

Além distribuição desigual do atendimento médico, a América Latina demanda profissionais atuando mais próximos das comunidades e nas populações vulneráveis. É o que aponta Júlio Pedroza, coordenador de Sistemas e Serviços de Saúde e Capacidades Humanas da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) no Brasil.  

A Educação Médica na América Latina foi tema de mesa de discussão no primeira dia do 61º Congresso Brasileiro de Educação Médica, que está sendo realizado no Centro de Eventos. Edição deste ano começou nessa quinta-feira, 5, e segue até domingo, 8. 

Segundo ele, há uma demanda entre 100 mil e 150 mil médicos na região latino-americana.

"O que falta mais são profissionais que desejem trabalhar de modo especializado não somente nos hospitais mas também nos entornos comunitários, no primeiro nível (de atenção) e que o sistema de trabalho forneça a eles condições e estímulos para que possam trabalhar perto das comunidades do território", afirmou.

Ele frisa a desigualdade na distribuição dos profissionais. No caso do Brasil, ele compara que "o Nordeste e Norte têm uma taxa de densidade profissional menor que o Sudeste ou Sul". "Ao mesmo tempo, as cidades concentram a maior quantidade de profissionais médicos gerais ou especialistas", disse Júlio Pedroza.

Fernando Antonio Menezes da Silva, professor do Centro de Ciências Médicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), explica que, do ponto de vista do currículo, "a maior tendência hoje é direcionada ao preenchimento de uma grande lacuna que é a do comprometimento social que as escolas devem ter com o processo de formação".

"Do ponto de vista técnico, da nossa capacidade cognitiva, de conhecimento, de tecnologia... Isso nós podemos caminhar", analisa Fernando, que foi chefe da Unidade de Recursos Humanos para Saúde da Opas/OMS em Washington DC, nos Estados Unidos. 

"Não adianta você ser muito bem preparado se você não atende bem a sua comunidade", diz. Segundo ele, o paciente tem cada vez mais se apoderado do seu próprio processo de saúde e doença. A partir disso, os profissionais de saúde têm que ter capacidade de interagir, de comunicar melhor e acolher a visão e as necessidades da comunidade.

Repercussão do edital para abertura de novos cursos de medicina

O Governo Federal autorizou a abertura de dez novos cursos privados de Medicina em dez regiões do Ceará por meio de edital publicado nesta quarta-feira, 4. A nível nacional, serão 95 novos cursos de Medicina,somando 5,7 mil vagas, em 1.719 municípios do país. Objetivo é descentralizar a oferta. 

Para Fernando, mudar o eixo de formação de médicos demanda uma estrutura do próprio Sistema Único de Saúde (SUS) que se desloca para dar suporte. Ou seja, não apenas a educação, mas um conjunto de ações. "A fase da residência promove o maior grau de retenção de profissionais no local", exemplifica. 

Ele acrescenta que o Brasil tem um sistema de avaliação para autorização e  reconhecimento de cursos que é reconhecido no mundo todo. 

Júlio Pedroza, da Opas, diz que a prioridade é descentralizar a formação médica para fora das grandes cidades. Ele destaca também a necessidade de formar médicos indígenas, ribeirinhos e quilombolas, por exemplo. 

"O risco de diminuir a qualidade da formação pode ser mitigado. Uma forma é certificar e acreditar os cursos mas também promover que sejam as mesmas universidades que já têm experiência. Que não seja um nascimento sem antecedentes mas capitalizar as experiências que se têm em grandes cidades", conclui. 

Serviço

61º Congresso Brasileiro de Educação Médica, que está sendo realizado no Centro de Eventos

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