Pesquisa da Uece liga mortes por diabetes a concentração de renda

Estudo, publicado em revista científica na sexta-feira, 11, indica que diabetes causa mais óbitos em cidades com maiores níveis de desigualdade social

15:10 | Ago. 27, 2023

Por: Bemfica de Oliva
FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 15-09-2022: Na foto, Bruna Castro, de 30 anos, diagnosticada com diabetes aos 5 anos. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo) (foto: FERNANDA BARROS)

Um estudo da Universidade Estadual do Ceará (Uece) chegou à conclusão de que a desigualdade social é um fator determinante na mortalidade por diabetes. A pesquisa foi publicada este mês na Revista Latino-Americana de Enfermagem e avaliou dados entre 2010 e 2020.

Um dos autores do estudo e pesquisador da Uece Thiago Garces informou que, durante a pesquisa, foi identificado que pessoas que têm menos estudos morreram mais por diabetes, e correlacionou a taxa de mortalidade com indicadores sociais para chegar ao resultado. Entre os indicadores estão o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), Índice de Vulnerabilidade Social e Taxa de Distribuição de Bolsa Família.

Ainda segundo o pesquisador, essa é a primeira pesquisa brasileira que fez essa correlação dos dados dessa forma. No estudo, foram identificadas 600 mil notificações de óbitos no Sistema Único de Saúde (SUS) por diabetes avaliadas em 5.568 municípios brasileiros durante o período da pesquisa.

"Nós avaliamos que um dos principais achados que chamaram mais atenção foi que quanto maior a cobertura da saúde da família menor a taxa de mortalidade nesses municípios. Quanto pior a distribuição de renda, que tem relação com o IDH, maior é taxa de mortalidade", destaca Thiago.

Para o artigo, os cientistas cruzaram dados de mortes diretamente relacionadas ao diabetes com informações socioeconômicas de todos os municípios brasileiros, como renda per capita, acesso a saneamento básico e nível de desigualdade financeira entre as parcelas mais rica e mais pobre da população. Foram usados dados de saúde cadastrados no SUS e indicadores sociais do Censo de 2010.

Como critério de comparação foi usada a média absoluta de mortes por diabetes no Brasil, de 29,8 óbitos por 100 mil habitantes, no período entre 2010 e 2020. Em determinados grupos sociais, porém, o valor aumenta: pessoas acima de 80 anos apresentaram uma taxa de 508,46 mortes/100 mil habitantes, e a população com três anos ou menos de estudo, considerando-se todas as faixas de idade, chegam a 59,53 mortes por 100 mil habitantes.

Ao avaliar os indicadores dos municípios, os pesquisadores conseguiram isolar os fatores que mais fortemente determinam a intensidade de óbitos por diabetes em cada cidade. Foram determinados quatro elementos mais significativos no aumento ou redução desta frequência: taxa de analfabetismo em maiores de 18 anos, concentração de renda, IDH e renda per capita.

Para estas variáveis, a tendência foi similar. Quanto mais um dos indicadores aponta para diferenças sociais acentuadas - como uma maior concentração de renda ou menor taxa de alfabetização -, mais frequentes são as mortes por diabetes.

Outro elemento crucial foi o índice de cobertura pela Estratégia de Saúde da Família (ESF), política pública que envolve postos de saúde, equipes com médicos e enfermeiros realizando atendimentos domiciliares, e campanhas promovendo práticas de vida saudáveis. Municípios com menor cobertura da ESF tiveram taxas maiores de morte por diabetes.

O alcance da ESF e o índice de Gini (que mede a concentração de renda) foram as variáveis com maior influência na taxa de mortes por diabetes. Para além disso, os outros fatores formam um cenário que facilita o aumento nos óbitos.

Baixos níveis de escolaridade, por exemplo, são entendidos pelos cientistas como uma barreira à conscientização sobre saúde, mesmo em locais onde há cobertura da ESF. Indicadores de pobreza mais acentuados, segundo os pesquisadores, são ligado a um menor acesso a cuidados médicos.

Isso ocorreria por que a população, sem condições financeiras de pagar planos de saúde privados, fica vulnerável à falta de cobertura do SUS. A menor renda familiar também leva a aumento no consumo de alimentos ultraprocessados, mais baratos que alternativas saudáveis.

Thiago Garces avalia que o estudo pode contribuir para a percepção do monitoramento das políticas públicas voltada aos indicadores sociais nos municípios brasileiros, assim como para que elas sejam fortalecidas nos indicadores em que o estudo analisou, como taxa de analfabetismo, concentração de renda e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

Ainda nas conclusões, a equipe de pesquisadores pontua a necessidade de estudos mais amplos para se que tenha evidência definitiva da ligação entre cada um dos fatores. Para os cientistas, é necessário considerar elementos da realidade local e regional das milhares de cidades, para elaborar intervenções que atuem nos elementos mais influentes da taxa de mortalidade por diabetes em cada município. (Colaborou Mirla Nobre)

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Fonte: Agência Bori