Psiquiatra conta como se descobriu autista aos 42 anos: "Uma libertação", diz

Médico que tratava pessoas no espectro autista aos poucos foi compreendendo que ele também tinha a condição

19:48 | Jul. 16, 2023

Por: Cristina Brito
Alexandre Valverde é psiquiatra. (foto: Acervo Pessoal)

O psiquiatra paulistano Alexandre Valverde recebeu o diagnóstico de autismo aos 42 anos, após contato mais próximo com pacientes com esta condição. Em entrevista concedida ao site Metrópoles, Alexandre afirma que nunca pensou que seria autista e que o diagnóstico foi uma libertação em sua vida.

“Nunca suspeitei que fosse autista. Sempre tive uma vida normal, mas meu conceito de normalidade é diferente. Tenho dupla excepcionalidade, além de autista, tenho altas habilidades, que antigamente era conhecido como superdotação. Então, minha forma de ver o mundo sempre foi diferente”, diz Valverde.

Alguns fatores foram primordiais para a descoberta do autismo aos 42 anos. Segundo ele, de início, o isolamento imposto pela pandemia de Covid-19 tornou-se um momento prazeroso. Outro fator decisivo foi a descoberta de estar em um relacionamento tóxico. Por último, o contato com seus pacientes autistas o ajudou a se compreender.

“Uma paciente minha chegou com um teste de referência de perguntas sobre comportamento que apontava ela como autista. Não via essa possibilidade nela e fiz o teste também para entender melhor. O meu resultado também deu positivo e foi o começo de uma avalanche”, diz ele.

 

Graus de autismo

Valverde procurou outro profissional em busca de um diagnóstico formal que indicou que ele tem autismo no grau 1, o que confirmou sua condição pelas altas habilidades.

O transtorno do espectro autista tem três graus. O mais severo é o grau 3, nele a pessoa precisa de muito suporte para manter suas relações sociais. Graus mais leves do autismo fazem com o que as pessoas que possuem o diagnóstico consigam adotar estratégias — conscientes ou inconscientes — para disfarçar comportamentos e agir como o esperado pela sociedade, praticando o chamado “mascaramento”.

“Ao aceitar minha condição, fiquei muito mais sensível a estas questões e percebi que vários dos meus pacientes também eram autistas. Talvez por se identificarem comigo havíamos nos entendido tão bem. Nos reconhecíamos mutuamente”, diz o psiquiatra.