5 sinais de que uma criança autista é vítima do bullying na escola
Especialista explica as consequências desse problema e como agir para proteger as crianças
Crianças e adolescentes no espectro autista são algumas das principais vítimas do bullying, que é uma forma de violência física ou psicológica, como ameaças e provocações. Pessoas com autismo ou neurodivergentes apresentam comportamentos atípicos e, por isso, não são considerados normais pela sociedade e, consequentemente, julgadas.
Bullying no ambiente escolar
Infelizmente, o bullying ainda é um comportamento agressivo que se faz presente, principalmente, no ambiente escolar ou, até mesmo, em pequenos grupos de amigos e atividades extracurriculares. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que mais de 40% dos estudantes adolescentes admitiram já ter sofrido com a prática de “bullying”, de provocação e de intimidação.
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Além disso, uma pesquisa canadense indicou que 77% das crianças com autismo relataram ter sofrido bullying no ambiente escolar. No Brasil, a Lei n.º 13.185, em vigor desde 2016, classifica o bullying como intimidação sistemática, quando há violência física ou psicológica em atos de humilhação ou discriminação. A classificação também inclui ataques físicos, insultos, ameaças, comentários e apelidos pejorativos, entre outros.
Consequências do bullying
O bullying pode causar danos graves à saúde emocional e mental, resultando em baixa autoestima, ansiedade, depressão, transtornos alimentares, insônia, entre outros problemas. “Infelizmente, muitas pessoas ainda têm preconceito em relação ao autismo. Isso porque muitas vezes não compreendem ou não tem conhecimento acerca do TEA, e caem em pré-conceitos que estão enraizados há anos”, Bruna Manzolli, terapeuta parceira da Genial Care (clínica multidisciplinar para tratamento da criança com autismo de 0 a 6 anos em São Paulo).
“Crianças e adolescentes diagnosticadas com transtornos do neurodesenvolvimento, como o autismo, vivenciam vários tipos de desafios na escola. Isso pode ser devido à dificuldade da comunicação e também ao relacionamento com outras crianças”, ressalta.
Principais vítimas do bullying
Segundo a especialista, crianças e adolescentes com outros tipos de transtornos do neurodesenvolvimento, como o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Síndrome de Tourette e Deficiência Intelectual, também estão mais propensas a serem vítimas do bullying; em comparativo com pessoas não neurodiversas.
É comum que algumas pessoas fiquem com medo de denunciar que estão sofrendo bullying, ou que não consigam se comunicar a respeito da agressão que estão recebendo. Por este motivo, é muito importante observar possíveis sinais.
Sinais de uma vítima do bullying
Alguns sinais de que uma criança pode estar sofrendo bullying incluem:
1. Mudanças no comportamento ou humor
Quando de repente a pessoa que tende a entrar e sair da escola de forma tranquila começa a demonstrar aversão pelo ambiente, com choros e comportamentos não esperados para seu perfil; mudança na socialização com pessoas que se sente confortável; começa a ter comportamentos evitativos, de fuga e se isola ou fica quieta, além do esperado. Isso pode ser um sinal de que algo está errado. Também podem ocorrer mudanças de humor, como irritabilidade, tristeza ou ansiedade.
2. Queda no desempenho escolar
O desempenho escolar cair repentinamente pode ser um sinal de que está sofrendo bullying, pois sente muita distração ou incapacidade de se concentrar.
3. Lesões físicas inexplicáveis
Se alguém apresentar ferimentos inexplicáveis, como hematomas, arranhões ou cortes, isso pode ser um sinal de que ele está sendo agredido.
4. Perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas
Se alguém de repente perder o interesse em atividades que antes adorava, pode ser um sinal de que ele está se sentindo desmotivado ou triste.
5. Alterações no padrão de sono ou alimentação
Quando surgem problemas de sono ou apetite, isso reflete diretamente em comportamentos de ansiedade e depressão, resultado de traumas gerados pelo bullying.
“É importante dizer que esses sinais não garantem necessariamente que a criança ou adolescente com autismo esteja sofrendo bullying, mas podem indicar que algo não está certo. Se os cuidadores suspeitarem de algo, é possível buscar abertura para uma conversa e oferecer apoio. Porém, para algumas pessoas com autismo que possuem dificuldades de socialização, nem sempre é possível avançar para esse lado e outras estratégias precisam ser implementadas”, pontua Bruna Manzolli.
Como ajudar autistas vítimas de bullying?
Com o bullying geralmente acontece no ambiente escolar, é preciso cobrar um posicionamento da própria unidade de ensino. Se mesmo com conversas e denúncias a escola não está tomando medidas adequadas para proteger a criança e o adolescente, você pode seguir os seguintes passos:
- Peça à escola que apresente um plano de ação, com etapas específicas e detalhadas das decisões que irá tomar para resolver o problema e proteger a criança e o adolescente;
- Mantenha registros detalhados de todos os incidentes de bullying que você souber, incluindo a data, hora e local. Compartilhe essas informações com a escola para que eles possam entender a extensão do problema;
- Seja persistente: se você sentir que a escola não está levando o problema a sério, continue a contatá-la para que haja uma resolução. E-mails ou chamadas telefônicas regulares são importantes para acompanhar o progresso e verificar se o plano de ação está sendo implementado;
- Se a escola não tomar medidas adequadas para resolver o problema, é possível buscar ajuda externa, como um conselheiro escolar, um advogado ou uma organização que lida com questões de bullying.
Por Letícia Carvalho