Nordeste teve alta de 5% ao ano no número de mortes por hepatite viral crônica
Índice corresponde ao período entre 2001 e 2020. Dado vai de encontro ao observado em quase todas as demais regiões brasileiras, onde o índice permaneceu estacionárioO Nordeste registrou um aumento de 5% ao ano da taxa de mortalidade por hepatite viral crônica durante as últimas duas décadas (2001-2020). Dado vai de encontro ao observado em quase todas as demais regiões brasileiras, onde o índice permaneceu estacionário dentro do mesmo intervalo de tempo.
Apontamento foi feito pela Universidade Tiradentes, de Sergipe (AL), em pesquisa publicada nesta semana na Revista Brasileira de Epidemiologia. Autores analisaram dados públicos disponíveis no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), com auxílio da plataforma DataSUS, do Ministério da Saúde (MS).
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Estudo identificou que a tendência temporal da mortalidade por hepatite viral crônica não apresentou aumento nem queda (estado considerado como estacionário) na maioria das regiões do Brasil. Foram exceções o Norte e o Nordeste, onde as mortes aumentaram 6% e 5% ao ano, respectivamente.
De acordo com José de Milton Castro, especialista na área de hepatologia, a hepatite é uma doença viral que atinge o fígado. Existem cinco tipos da doença, classificados como A, B, C, D e E — cada uma dessas classificações podem ter diferenças em suas especificações e nas formas como são transmitidas.
Castro, que é também professor titular da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que a hepatite é considerada como crônica quando o agente infeccioso fica por mais de seis meses dentro do organismo. Ou seja, "a cronificação" diz respeito ao estágio temporal em que o vírus se encontra.
Alguns dos pacientes podem apresentar sintomas como febre, dor muscular, olhos amarelos, fezes claras e urina escura. No entanto, conforme o especialista, na maioria dos infectados a patologia não se manifesta de forma sintomática, sendo assim fundamental realizar um exame capaz de detectar o vírus.
Tipos de hepatite e transmissões
- Hepatite A: ocorrem com mais frequência e são transmitidas principalmente por meio do uso de água ou alimento contaminado. Crianças e adolescentes são os público mais comum de contrair o vírus.
- Hepatite B: principal meio de contaminação é por via sexual ou pelo contato com sangue e derivados. Mulheres grávidas que têm o vírus também podem passá-lo para o bebê durante a gestação. De cada 100 adultos que contraem o vírus, dez ficam doentes de forma crônica.
- Hepatite C: transmissão ocorre com mais frequência por meio do uso de material que tenha sangue (seringas, drogas injetáveis) e, com menos frequência, por meio de relação sexual ou de transmissão da gestante para o feto. Cronificação ocorre em cerca de 80% dos pacientes.
- Hepatite D: ocorre mais na região Norte, principalmente na região amazônica, e está associada com a presença do vírus B da hepatite (HBV) para causar a infecção e inflamação das células do fígado.
- Hepatite E: é transmitida principalmente por meio do uso de água ou de alimento contaminado. Sua incidência não é alta no Brasil.
Mortes por hepatite viral no Brasil
No geral, as hepatites foram responsáveis por 49.831 mortes nos últimos 20 anos no Brasil, conforme a pesquisa da Universidade Tiradentes. Sudeste foi a região que teve o maior número de óbitos (50,95%).
No entanto, no comparativo anual, a tendência "foi de diminuição para todas as hepatites, exceto a viral crônica, que foi estacionária". A média da taxa de mortalidade para esse tipo da doença foi de 0,88 mortes para cada 100 mil habitantes. Índice é quatro vezes maior que o de outras hepatites virais (0,22/100 mil).
Depois da hepatite viral crônica e de outras hepatites virais, seguem no ranking de maiores médias de taxa de mortalidade durante as últimas duas décadas: a hepatite B, com 0,14 para cada 100 mil habitantes, hepatites não especificadas, com 0,12/100 mil, e a hepatite A, com média de 0,02/100 mil.
No Nordeste, a taxa de aumento para hepatite crônica foi de 5% e no Norte, 6%. Regiões foram as únicas do Brasil que apresentaram acréscimo do índice entre 2001 e 2021.
Para Jefferson Felipe Calazans, doutorando em Saúde e Ambiente pela Universidade Tiradentes e também autor do estudo, "o baixo acesso a serviços de saúde nessas regiões" pode explicar o aumento das mortes.
"Identificamos no estudo altas taxas em algumas regiões do Amazonas e Acre, o que corrobora com essa hipótese (do baixo acesso a serviços de saúde). Um sistema de saúde menos efetivo influencia não somente nas mortes, mas em novos casos da doença que, se não tratados adequadamente, perduram por tempo suficiente para ocasionar cronicidade e levar à morte", pontua Calazans.
O enfermeiro frisa ainda que medidas efetivas de prevenção da Hepatite C e a vacinação da Hepatite B são capazes "de reduzir esse padrão de altas taxas e crescimento ao longo dos anos".
Para efetivar o combate contra a hepatite no País, a Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH) decidiu tornar permanente, durante todo o ano, a campanha de conscientização e combate às hepatites virais, que é celebrada no mês de julho. Pasta deve, junto ao Ministério da Saúde (MS), traçar metas e planos para estender pelo País ações de diagnóstico, tratamento e combate a esses tipos de doenças.
Como prevenir a hepatite:
- Lavar bem as mãos;
- Ingerir somente água filtrada ou fervida;
- Lavar bem os alimentos antes do consumo;
- Sempre usar preservativos nas relações sexuais;
- Exigir material esterilizado ou descartável em consultórios médicos, dentários, salões de beleza, estúdios de tatuagem e de piercing;
- Não compartilhar agulhas, seringas, lâminas de barbear e escova de dente;
- Manter a carteira de vacinação atualizada.
Fonte: Hospital Santa Catarina Blumenau.