Dia Nacional de Combate à Cefaleia conscientiza sobre enxaqueca e similares

Dores de cabeça constantes, sem origem determinada, podem ser cefaleia. Enxaqueca é a variação mais conhecida, mas há mais de 200 classificações diferentes

Esta sexta-feira, 19 de maio, é o Dia Nacional de Combate à Cefaleia. Embora seja uma doença extremamente comum — mais de um bilhão de pessoas sofre com ela no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) —, a cefaléia ainda é pouco entendida por grande parte das pessoas.

No Brasil, os números também são expressivos: de acordo com a Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBCE), cerca de 30 milhões de pessoas são acometidas pela doença. O POVO conversou com especialistas para trazer informações sobre a cefaleia.

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Cefaleia: tipos e gravidade

Cefaleia é a definição médica para qualquer dor de cabeça recorrente — três ou mais episódios por mês, mesmo que com baixa intensidade. O mal pode ter tantas origens distintas que, entre especialistas, existem cerca de 200 formas diferentes para classificar a doença.

Ainda segundo dados da OMS, cerca de 90% da população global teve, tem ou terá algum sintoma de cefaleia durante a vida. A enfermidade é considerada uma das doenças crônicas que mais incapacita.

A enxaqueca, tipo mais comum de cefaleia, ocupa a segunda posição neste ranking. A forma mais grave da doença, chamada enxaqueca crônica, se manifesta por crises que, sem tratamento, podem ocorrer cotidianamente.

Há duas categorias de cefaleia. As primárias, nas quais está incluída a enxaqueca, não são relacionadas a outras enfermidades. Para esse grupo, as causas exatas ainda não são totalmente conhecidas.

Há ainda as cefaleias secundárias, que se manifestam como consequência de outras doenças. Alguns exemplos de causas são tumores, aneurisma, sinusite, intolerância a alimentos e mesmo problemas em áreas aparentemente não relacionadas, como coluna e dentes.

Diferenças da cefaleia na população

Também é importante se atentar ao fato de que a cefaleia atinge parcelas diferentes da população de maneiras distintas. Enquanto a média de pessoas com formas constantes da doença é de 15%, nas mulheres o número sobe para 20%.

Um dos motivos são as alterações hormonais. Para mulheres cisgênero e outras pessoas com útero, os períodos menstrual, pré-menstrual, além de gravidez e menopausa, situações na quais a produção de hormônios passa por mudanças significativas, apresentam maiores chances de gerar crises de cefaleia.

Cefaleias primárias: crises e tratamento

Episódios de cefaleias primárias são bem perceptíveis por seguirem, geralmente, o mesmo "roteiro". Segundo o neurologista André Lima, da clínica Neurovida, elas começam mais fracas e vão aumentando de intensidade, com crises que podem durar de algumas horas a vários dias.

Casos mais graves podem vir acompanhados de enjoo, náuseas, sensibilidade a luz e sons. Situações extremas de cefaleia podem levar até mesmo à perda temporária de parte da visão.

Exames como tomografia computadorizada e ressonância magnética podem auxiliar na identificação de gatilhos para as crises de cefaleia, sendo fundamentais para o diagnóstico. Esse, porém, é apenas o primeiro passo.

O tratamento das cefaleias primárias pode ocorrer de diversas formas e vai depender de como os sintomas se originam e se manifestam. No Hospital Geral de Fortaleza (HGF), o Ambulatório de Cefaleia auxilia pacientes a descobrir a forma mais adequada de lidar com a doença.

O ponto em comum é priorizar um estilo de vida mais saudável. Fatores como sedentarismo, tabagismo, consumo de alimentos ultraprocessados e sono desregulado são elementos que colaboram para crises mais intensas e frequentes de cefaleias primárias.

Em outras situações pode ser necessário, também, intervenção com medicamentos. Um dos tratamentos disponibilizados no HGF é a injeção de lidocaína nos nervos cranianos. O método traz alívio da dor durante quatro a seis semanas e pode ser usado como apoio ou substituto de medicações orais.

Drogas específicas para cefaleia, que atuam na base neurológica da doença, também podem ser prescritas. Esses remédios são importantes para evitar o uso constante de analgésicos.

Uso constante de analgésicos deve, de fato, ser evitado. Consumir com frequência medicações de bloqueio da dor é a medida mais comum entre pacientes com cefaleia não diagnosticada.

A prática, entretanto, piora a situação a longo prazo, pois aumenta a resistência do corpo a essas substâncias. Com isso, a pessoa passa a necessitar de doses cada vez maiores para ter o efeito de redução da dor.

Cefaleia secundária: tratamento 

Por ter origem em fatores externos, a cefaleia secundária pode ser diferenciada facilmente das primárias pela duração. Nesse caso, as crises não melhoram com o tempo, e a única maneira efetiva de acabar com o problema é tratar a causa da dor.

Para isso, também podem ser realizados exames, e o histórico familiar do paciente é importante no diagnóstico. Cada causa de cefaleia secundária é descoberta de uma forma diferente, mas a avaliação clínica, no consultório, define quais possibilidades serão investigadas primeiro.

Intolerâncias alimentares, por exemplo, podem vir acompanhadas de gases, desconforto digestivo e outros sintomas. A nutricionista Ana Paula Cony, da clínica Neurovida, pontua que a comida pode ser gatilho de cefaleia, mas também um escudo contra ela. Caso haja a suspeita dessa causa para as dores de cabeça, são realizados exames de sangue para encontrar possíveis origens.

Além de mudanças na dieta, a profissional pontua que suplementos alimentares podem ajudar com os sintomas da cefaleia. Caso haja suspeita de que as crises sejam causadas por alguma comida, nutricionistas auxiliam o paciente elaborando um plano que envolva refeições sem os itens suspeitos, que são reinseridos gradualmente, para se descobrir quais deles são gatilhos para os episódios.

Cefaleias causadas por sinusite se manifestarão em dor mais intensa nos seios da face, onde a secreção fica acumulada, e na testa. Nesse caso, uma tomografia pode auxiliar no diagnóstico, enquanto o tratamento envolve medicações para a sinusite em si.

Também é necessário fazer mudança em hábitos que causam a obstrução das vias aéreas superiores, como tabagismo, evitar ambientes com ar condicionado e reduzir o consumo de alimentos com alto teor de gordura e açúcares.

A chamada cefaleia tensional é causada por rigidez muscular, geralmente nas costas, ombros e pescoço. Nesse caso, o motivo da tensão — que pode ser stress ou mesmo doenças não diagnosticadas — precisa ser resolvido.

Nas medidas paliativas para a cefaleia tensional, podem ser indicados tratamentos como acupuntura, massoterapia e o uso de relaxantes musculares — que, no entanto, não devem ser usados de forma contínua por longos períodos de tempo.

Outra causa comum de cefaleias secundárias são problemas dentários. Segundo a dentista Raquel Fiterman, da clínica Adriano Abreu, as situações mais frequentes são infecções em dentes ou gengiva, nascimento de um dente siso e bruxismo (ranger os dentes de forma constante).

Alterações físicas na parte bucomaxilar, como na estrutura óssea ou muscular da mandíbula, e problemas de mastigação também podem desencadear crises de cefaleia. É importante procurar um profissional da área para determinar a causa exata.

Tipos menos comuns de cefaleia precisam de atenção do paciente

Além das variações mais frequentes, uma série de cefaleias primárias menos comuns existem e precisam igualmente de atenção. Nesses casos, o paciente pode nem mesmo saber que sofre da doença, associando os episódios a situações pontuais, e com isso deixa de buscar tratamento.

Segundo o neurologista Neudson Alcântara, do HGF, entre estas dores de cabeça pouco abordadas há aquelas cujas causas são atividades específicas, como exercício físico ou prática sexual, e também cefaleias originadas por elementos externos. Veja alguns exemplos abaixo:

Cefaleia da tosse

  • Surge durante gripes e similares;
  • Dor de cabeça intensa, que surge e desaparece rapidamente, ao tossir.

Cefaleia de exercício

  • Dor de cabeça intensa que surge durante ou logo após o exercício;
  • No Ambulatório de Cefaleia do HGF, dois pacientes apresentam essa variedade.

Cefaleia associada à atividade sexual

  • Pode ser associada ao esforço físico do ato sexual ou especificamente ao orgasmo;
  • Dor severa e súbita;
  • É necessário fazer uma investigação médica para descartar possibilidade de outras condições, como um aneurisma não diagnosticado.

Cefaleia por estímulo de frio

  • Sensação de "cérebro congelado" ao tomar sorvetes ou bebidas geladas é o exemplo mais conhecido.

Cefaleia em salvas ou "cefaleia suicida"

  • Considerada a pior dor de cabeça possível, segundo Neudson;
  • Unilateral: costuma atingir parte do rosto e olho, podendo ir até a nuca, sempre em um dos lados da cabeça;
  • Causa vermelhidão nos olhos e lacrimejar;
  • Durante as crises, o olho pode "baixar";
  • Pode causar coriza e sensação de surdez;
  • Por vezes ocorre suor no lado da face que está doendo;
  • Rara: no Ambulatório de Cefaleias do HGF há por volta de 50 pacientes registrados com essa variedade;
  • Cerca de 70% dos pacientes com cefaleia em salvas respondem ao tratamento com oxigênio, outros casos precisam de medicação intravenosa;
  • Analgésicos tradicionais não funcionam.

Cefaleia por compressão externa

  • Se tornou mais notável ao longo da pandemia devido ao uso de máscaras;
  • Profissionais de saúde são parte significativa dos pacientes.

Cefaleia "em facada"

  • Pontadas de dor rápidas e intensas;
  • Geralmente desaparece em poucos segundos.

Cefaleia hípnica

  • Acontece durante o sono, e a intensidade da dor desperta o paciente;
  • Costuma surgir no fim da madrugada e desaparecer ao longo da manhã;
  • Segundo Neudson, um tratamento eficaz é o uso de café à noite, de forma que não impacte no sono do paciente.

Dores de cabeça recorrentes: quando buscar ajuda?

Neudson lembra que o lema da campanha de conscientização sobre cefaleias menciona episódios que ocorram três vezes ao mês ou mais. Outros sinais indicam a necessidade de buscar ajuda médica para as dores de cabeça:

  • Se a dor for persistente;
  • Caso o paciente já esteja em acompanhamento, é necessário relatar se os episódios de dor forem diferentes do habitual;
  • Se analgésicos tradicionais, como dipirona e paracetamol, não funcionam;
  • Caso haja sinais associados: febre, fraqueza nos membros, desorientação, crises convulsivas, visão dupla, desmaios, entre outros. Nesses casos, existe o risco de uma cefaleia secundária relacionada a situações de saúde mais graves, como aneurismas ou tumores.

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