Pessoas já usavam droga na Espanha há 3 mil anos, diz estudo

Pesquisadores detectam substâncias alcaloides procedentes de plantas em fios de cabelo datados da Idade do Bronze

00:03 | Abr. 08, 2023

Por: DW
Análises químicas do cabelo detectaram a presença de atropina, escopolamina e efedrina, alcaloides que permanecem fixados em pelos (foto: Asome-Universitat Autonoma de Ba/PA/dpa/picture alliance)

Os humanos já estavam usando drogas alucinógenas na Espanha há cerca de 3.000 anos, revelou uma nova pesquisa publicada na revista científica Scientific Reports em 6 de abril.

Uma simples mecha de cabelo foi suficiente para fornecer o que se acredita ser a primeira evidência direta do uso de drogas na Europa, ainda no final da Idade do Bronze.

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Um grupo de pesquisadores espanhóis e chilenos analisou os fios de cabelo e detectou neles substâncias alcaloides procedentes de plantas. O estudo, liderado por Elisa Guerra, da Universidade de Valladolid, na Espanha, aponta que essas drogas poderiam ter sido usadas como parte de cerimônias rituais.

O cabelo estava escondido na caverna de Es Càrritx, na ilha espanhola de Menorca. Descoberta em 1995, a caverna abrigava uma câmara usada como espaço funerário, onde foram encontrados pequenos recipientes cilíndricos de madeira com cabelos que datam de cerca de 2.900 anos.

O estudo analisou apenas alguns dos fios disponíveis, alguns com até 13 centímetros de comprimento. Encontrar cabelos preservados daquela época no Mediterrâneo ocidental é "extremamente raro", afirmam os pesquisadores.

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As substâncias encontradas

Análises químicas do cabelo detectaram a presença de atropina, escopolamina e efedrina, alcaloides que permanecem fixados em pelos e que podem corresponder ao consumo de plantas como mandrágora, meimendro ou erva daninha, diz o estudo.

A atropina e a escopolamina se encontram de forma natural na família das solanáceas e podem causar delírios e alucinações. Já a efedrina é um estimulante derivado de certas espécies de arbustos e pinheiros.

A equipe de pesquisadores não acredita que essas substâncias tenham sido usadas para aliviar a dor, embora "exista uma linha muito tênue sobre até que ponto algo é para uso medicinal, mágico ou divinatório", afirma uma das autoras do estudo, Cristina Rihuete, da Universidade Autônoma de Barcelona, em entrevista à agência de notícias Efe.

A escopolamina e a atropina juntas são substâncias que induzem à sedação, mas sua manipulação é muito arriscada, devido à alta toxicidade – algo que leva a crer mais no consumo para fins alucinógenos do que terapêuticos, aponta Rihuete.

O crescimento do cabelo vai deixando ainda um registro das substâncias, e "a surpresa é que foi possível demonstrar que o consumo [das drogas] ocorreu por pelo menos um ano", diz a pesquisadora. Não há, porém, indicações de como elas foram consumidas.

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Quem vivia na região

A caverna de Es Càrritx conta também a história dos moradores de Menorca durante o fim da Idade do Bronze: sociedades "muito interessantes", densamente povoadas, que souberam viver pacificamente e nas quais o pastoreio teve um peso importante, relata Rihuete.

Em uma de suas câmaras, era realizado um ritual fúnebre em que os cabelos eram tingidos de vermelho, penteados e cortados em mechas, que eram colocadas em tubos cilíndricos de madeira com tampa. Pesquisas anteriores sugerem que cerca de 210 pessoas foram enterradas no local, mas apenas algumas foram submetidas a esse ritual.

"É provável que fossem certas pessoas da cronologia final da necrópole que talvez tivessem aqueles atributos de adivinhação xamânica aos quais está ligada a ingestão de drogas", diz Rihuete.

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Seis desses tubos estavam escondidos em uma cova cavada e selada em uma área remota da caverna – o que ajudou a preservar o cabelo –, junto com recipientes de chifre, espátulas, vasos e um pente de madeira e alguns objetos de bronze.

Na Europa já se tinha indícios indiretos, mas não diretos, do uso de alucinógenos naquela época, como a descoberta de alcalóides do ópio em recipientes ou restos de plantas narcóticas em contextos rituais. No mundo, a evidência direta mais antiga tem cerca de 3.000 anos no Chile.