Janeiro Roxo: entenda por que devemos falar sobre Hanseníase
Saiba mais sobre a Hanseníase, seu diagnóstico, tratamento e como se manter informado sobre a doençaPara além de uma única campanha com causa nobre como a saúde mental, o mês de janeiro também levanta a bandeira roxa em alusão a Campanha de Conscientização e Combate a Hanseníase, doença crônica de evolução lenta que ainda sofre com o estigma relacionado a exclusão e isolamento dos pacientes atingidos.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o segundo país com maior número de casos no mundo, concentrando 90% dos casos registrados nas Américas, ficando atrás apenas da Índia.
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Anteriormente conhecida como Lepra, a doença teve sua nomenclatura alterada no Brasil em 1976 pelo dermatologista Abrahão Rotberg, com o intuito de diminuir o preconceito e o estigma que acompanhavam a doença.
Em 2016, o Ministério da Saúde oficializou o mês de janeiro como o mês do combate à Hanseníase acompanhado da cor roxa como símbolo de sua campanha educativa. Desde 2009, o último domingo do mês de janeiro é o dia oficial da Campanha de Conscientização e Combate a Hanseníase.
Sobre a Hanseníase
A Hanseníase é uma doença infectocontagiosa causada pelo Mycobacterium Leprae ou bacilo de Hansen em homenagem ao médico Armauer Hansen, que descobriu a doença em 1873. A enfermeira Verônica Gurgel, coordenadora do Núcleo do Movimento de Reintegração de pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) em Fortaleza, explica que a hanseníase é uma doença crônica de evolução lenta.
“A hanseníase se caracteriza pela alteração, diminuição ou perda da sensibilidade térmica, dolorosa, tátil e força muscular, principalmente em mãos, braços, pés, pernas e olhos e pode gerar incapacidades permanentes. Quando não tratada, é passível de causar deformidades e incapacidades físicas muitas vezes irreversíveis”, explica.
Ela ressalta que nem todo mundo que entra em contato com a hanseníase a desenvolve, sendo necessário que a pessoa passe por um longo período de exposição ao bacilo para que ela se manifeste.
"É importante que todos saibam que o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking mundial em prevalência de hanseníase (casos novos e antigos) e o segundo lugar em detecção da doença (casos novos). Os municípios de Iguatu, Sobral, Juazeiro do Norte, Crato, Maracanaú, Fortaleza e Caucaia colocam o Ceará em quarto lugar entre os estados do Nordeste com maior incidência da doença, sendo responsáveis por 60% dos casos no Estado”, reforça Verônica.
Transmissão
A transmissão da doença acontece por meio das vias superiores, seja pelo contato com gotículas de saliva ou por secreção nasal. Verônica explica que o contágio só acontece quando uma pessoa tem um contato prolongado com uma pessoa que está em estágio avançado da doença e ainda não iniciou o tratamento.
“A transmissão ocorre quando uma pessoa com hanseníase, na forma infectante da doença, sem tratamento, elimina o bacilo para o meio exterior, infectando outras pessoas suscetíveis, ou seja, com maior probabilidade de adoecer. É preciso lembrar, no entanto, que após o início do tratamento, logo na primeira dose, o paciente deixa de transmitir a doença”, explica.
Os primeiros sintomas podem demorar um período de dois a sete anos para se manifestarem, por isso a hanseníase é caracterizada como uma doença crônica de lenta evolução.
Diagnóstico
A hanseníase se apresenta de diversas formas, dependendo de como o organismo responde à infecção. A médica dermatologista Araci Pontes, diretora técnica do Centro de Dermatologia Dona Libânia, em Fortaleza, explica que o diagnóstico da doença é feito através de manifestações clínicas.
“Ela pode se manifestar por manchas na pele, que podem ser mais claras ou avermelhadas, algumas vezes acastanhadas, cuja principal característica é a redução ou até mesmo ausência da sensibilidade, em especial ao calor”, comenta.
A médica explica ainda que alguns pacientes apresentam inchaço nas orelhas, dormência nos pés e nas mãos, perda de pelo, diminuição do suor em algumas áreas da pele e a presença de caroços no corpo.
“Como o bacilo afeta, além da pele, também os nervos que inervam os olhos, braços e pernas, se não for tratada precocemente pode dar origem a perda da sensibilidade e da força nessas áreas, incapacitando a pessoa para desenvolver suas atividades no dia a dia e no trabalho, podendo ocorrer queimaduras e ferimentos e inclusive causar cegueira”, completa.
O diagnóstico da hanseníase é feito por meio de exame físico geral e dermatoneurológico para identificar os sinais de que a doença esteja presente no corpo, levando em consideração algumas características como lesões ou áreas da pele que apresentem alterações de sensibilidade, neurites, incapacidade física e deformidades; e reações que identifiquem lesões ou áreas da pele com alterações na sensibilidade e/ou comprometimento em nervos periféricos com alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas.
Verônica explica que normalmente, as manchas são os primeiros sinais da doença e que ela só é diagnosticada quando um dos sinais cardinais se manifestam.
“A hanseníase é diagnosticada quando pelo menos um dos sinais cardinais se manifesta: Evidente perda de sensibilidade numa lesão cutânea esbranquiçada (hipocrômica) ou avermelhada. Um nervo periférico espessado, com perda de sensibilidade e/ou fraqueza da musculatura inervada por ele”, diz.
Sintomas
- Manchas (esbranquiçadas, amarronzadas e avermelhadas) na pele com mudanças na sensibilidade à dor, térmica e tátil;
- Sensação de fisgada, choque, dormência e formigamento ao longo do trajeto dos nervos dos membros;
- Perda de pelos em algumas áreas e redução da transpiração;
- Pele seca;
- Inchaço nas mãos e nos pés;
- Inchaço e dor nas articulações;
- Redução da força muscular nos locais em que os nervos foram afetados;
- Dor e espessamento nos nervos periféricos;
- Caroços no corpo;
- Olhos ressecados;
- Feridas, sangramento e ressecamento no nariz;
- Febre e mal-estar geral.
Dados da Hanseníase no Brasil e no Ceará
Em dados recentes divulgados em janeiro de 2022 pelo Ministério da Saúde, entre os anos de 2016 e 2020, 155.359 casos de hanseníase foram registrados no Brasil, onde 86.225 desses afetaram pessoas do sexo masculino, representando 55,5% dos casos. A predominância foi observada em todas as faixas etárias, mas pacientes com idades entre 50 e 59 anos tiveram maior frequência, totalizando 29.587 novos casos.
Já no Ceará, entre 2015 e 2022, 11.727 casos de hanseníase foram notificados, com 486 registrados em menores de 15 anos. Com 55.7% dos casos, pessoas do sexo masculino foram as mais acometidas pela doença e a faixa etária mais afetada foi a de 50 a 64 anos, representando 30,4% dos casos. Os dados são da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (Sesa).
Formas clínicas da Hanseníase
De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia, a Hanseníase se apresenta de quatro formas clínicas, que são:
Indeterminada: Pacientes possuem até cinco manchas de contornos imprecisos, e, nesse caso, não há comprometimento neural. É a fase inicial da doença.
Tuberculóide: Paciente apresenta até cinco lesões bem definidas e um nervo comprometido.
Dimorfa: Paciente apresenta mais de cinco lesões, com bordos que podem estar bem ou pouco definidos, e o comprometimento de dois ou mais nervos.
Virchowiana: Paciente apresenta a forma mais disseminada da doença, sendo observada grande parte da pele danificada e, algumas vezes, comprometimento de órgãos, como nariz e rins. Esta é a forma mais grave e com mais sintomas na pele, nervos e órgãos internos.
Tratamento
Graças a avanços na ciência e na tecnologia, hoje a hanseníase tem cura. Araci explica que o tratamento da doença é feito com comprimidos que são distribuídos de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “O tempo de tratamento varia de 6 meses a um ano.
Quanto mais rápido se iniciar o tratamento, menor será o dano neurológico e consequentemente o paciente será curado sem nenhuma sequela”, comenta.
“Infelizmente a falta de conhecimento sobre a doença ainda é frequente, levando a medo e preconceito. Por exemplo, as pessoas não sabem que assim que o tratamento é iniciado não há mais risco de transmitir a doença, e portanto, a pessoa pode conviver normalmente em casa, no trabalho e com os amigos”, ressalta.
Para saber mais
O Movimento de Reintegração de Pessoas com Hanseníase (Morhan) segue com uma campanha global intitulada de “Não esqueça a Hanseníase” (em inglês Don’t Forget Hansen’s Disease), de idealização do embaixador da boa vontade da Organização Mundial da Saúde para a Eliminação da Hanseníase Yohei Sasakawa. O objetivo da campanha é relembrar a governantes e a toda a sociedade da importância de falar sobre a Hanseníase e ressaltar que a mesma tem cura.