Medida é a mais recente de série de flexibilizações após protestos contra a política de "covid zero". Especialistas alertam para aumento no número de casos.Depois de críticas e protestos da população em relação à política "covid zero", com muitos chineses pedindo inclusive a renúncia do presidente Xi Jinping, a China segue flexibilizando as medidas contra a pandemia. Nesta segunda-feira (12/12), o país anunciou que o aplicativo utilizado em smartphones para rastrear viagens a áreas que apresentem altas taxas de infecções de covid-19 vai deixar de funcionar. O aplicativo, de âmbito nacional, será desativado nesta terça-feira depois de dois anos e meio no ar, período em que rastreou pessoas que viajavam entre províncias, participavam de eventos ou entravam em locais fechados, a exemplo de shopping centers, e contribuía para a decisão de determinar quarentena ou não. Desde novembro, após protestos em várias cidades do país, a China vem relaxando as duras medidas impostas pelo governo para combater o coronavírus. As regras de quarentena e os requisitos de testes já foram alterados ou mesmo abolidos, e os lockdowns em massa terminaram. Embora ainda haja outros aplicativos semelhantes de alcance local, muitos chineses comemoraram a decisão postando imagens de seus últimos acessos no app nacional. O aplicativo tem um sistema de quatro níveis que mostra diferentes cores, dependendo do grau de exposição do usuário ao vírus. O governo terá ganhos econômicos e políticos com o relaxamento das medidas, que superam a perda desse instrumento para deter algumas pessoas sob o argumento da segurança sanitária, avalia a especialista em tecnologia Kendra Schaefer, da consultoria Trivium China. Outro aplicativo, usado para restringir o movimento daqueles que testam positivo ou entram em uma área com um surto recente, permanecerá ativado. Possível aumento de casos O relaxamento das medidas ocorre justamente em meio a um aumento no número de infecções por covid-19. Nesta segunda-feira, cerca de 8,5 mil novos casos foram registrados, elevando o total para 365.312, mais do que o dobro do número desde 1º de outubro. Por isso, especialistas em saúde advertem que há riscos consideráveis se o país abrir-se totalmente, devido a dúvidas sobre a eficácia das vacinas chinesas e também a uma baixa taxa de vacinação entre a população idosa. Uma explosão de infecções pode gerar dificuldades aos hospitais: o país tem um leito de UTI para cada 10 mil habitantes, conforme informações divulgadas na semana passada pelo diretor do Departamento de Assuntos Médicos da Comissão Nacional da Saúde, Jiao Yahui. Os recursos também são distribuídos de maneira desigual na China, com a maioria dos leitos hospitalares concentrados em Pequim, Xangai e outras cidades da costa leste. Diante de um possível surto, o país está aumentando o número de instalações de cuidados intensivos e busca reforçar a capacidade dos hospitais para lidar com casos graves da doença. Novas regras Regras menos severas no combate ao coronavírus entraram em vigor na semana passada na China. Até recentemente, Pequim saudava a política de "covid zero" como um triunfo do regime comunista que mantinha baixas as mortes em comparação com países ocidentais, a exemplo dos EUA. Porém, manifestações contra a estratégia eclodiram em toda a China no final do mês passado – milhares de pessoas protestaram contra as restrições por considerarem exageradas. De acordo com as novas diretrizes anunciadas pela Comissão Nacional de Saúde, a frequência e o escopo dos testes de PCR – rotina na China no âmbito da "covid zero" – foram reduzidos. Os lockdowns – um dos principais pontos de descontentamento da população chinesa – também foram limitados ao menor tempo possível, e as autoridades passaram a ser obrigadas a liberar áreas que não apresentem casos positivos após cinco dias. Pacientes com infecções leves de covid-19 estão agora autorizados a fazer quarentena domiciliar, e não mais em instalações designadas pelo governo. Além disso, as pessoas não são mais obrigadas a mostrar um comprovante de teste negativo para entrar em prédios e espaços públicos, exceto no caso de "asilos, instituições médicas, jardins de infância, escolas de ensino fundamental e médio". gb/bl (AP, AFP)