HIV/Aids: Testagem e acompanhamento adequado reduzem transmissão de mãe para filho no Ceará

Vírus pode ser transmitido durante a gestação, o parto e a amamentação. Enquanto a transmissão vertical cai, a detecção do vírus em gestantes subiu 64% na última década no Estado

Cada vez mais gestantes estão sendo diagnosticadas com HIV no Ceará, ao mesmo passo que caem as taxas de transmissão do vírus para os bebês. O cenário pode ser explicado pela ampliação da testagem e do tratamento entre as mulheres aliado a protocolos corretos durante o pré-natal, parto e amamentação.

“Quando uma mulher com HIV se trata e fica com a carga viral indetectável, se ela desejar engravidar e se mantiver com a carga indetectável durante toda gestação, ela não transmite o vírus para o bebê”, enfatiza Christiane Takeda, infectologista do Hospital São José.

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A médica percebe que há “um aumento das mulheres que chegam no pré-natal já sabendo da sua soropositividade”. “Isso indica que as mulheres estão atentas a procurar o diagnóstico precoce”, avalia. Conforme a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), de 2013 para 2022, a detecção de HIV em gestantes subiu 64% - indo de 1,4 para 2,3 a cada mil nascidos vivos.

No mesmo período, a taxa de detecção de Aids em menores de 5 anos de idade (que tem sido utilizada como indicador para o monitoramento da transmissão vertical do HIV) tem variado em tendência de queda. O ano de 2018 registrou a maior taxa (2,3 casos por 100 mil habitantes). Já 2020 registrou dois casos, com uma taxa de 0,3 por 100 mil habitantes. Neste ano, até o início de novembro, a taxa de detecção está nula.

“Os testes estão disponíveis gratuitamente, o resultado vem alguns minutos e você tem a oportunidade de já começar a se tratar”, continua Takeda. “No caso das mulheres, o diagnóstico, além de não deixar evoluir para a doença que compromete o sistema imune, a Aids, traz a chance de ter uma gravidez saudável e um bebê saudável sem HIV. A meta é que as crianças de mães soropositivas nasçam sem qualquer vírus.”

A infectologista explica que os protocolos apontam testagem em três momentos: na primeira consulta de pré-natal, em consulta no oitavo mês de gestação e no momento de entrada na unidade de saúde para o parto. Os exames continuados são necessários porque “muitas gestantes não sabem que suas parcerias têm HIV e continuam tendo relações sexuais sem proteção”.

Em 2022, 51,5% dos casos de soropositividade em gestantes foram detectados durante o pré-natal. Outros 43,2% eram conhecidos desde antes do pré-natal. Somente 5,3% foram descobertos no parto.

Quando a soropositividade é identificada, a qualquer momento durante os nove meses de gestação, inicia-se o tratamento antirretroviral da gestante, feito por medicação oral. No parto, há mais uma “ferramenta de bloqueio do vírus”, com remédio intravenoso. Ademais, as famílias devem ser cadastradas para receber fórmula infantil durante seis meses. “Como também pode ser transmitido na amamentação, seguimos com medicação para a mulher não produzir leite e a recomendação de que o aleitamento seja pelo leite em pó”, diz Takeda.

Após o nascimento, as crianças seguem acompanhadas ambulatorialmente e por equipes de saúde até os dois anos de idade a fim de avaliar se houve a transmissão. Em casos negativos, há a liberação do paciente. Já nos casos positivos, os tratamentos são iniciados e devem seguir por toda a vida.

“Temos muitos casos de pessoas que tiveram o HIV transmitido por suas mães e nasceram saudáveis, tiveram uma infância como qualquer outra criança teria e hoje são adultos saudáveis, com suas famílias e muitos com filhos soronegativos”, tranquiliza a médica. Takeda enfatiza que, tão importante quanto evitar a transmissão vertical e aderir ao tratamento antirretroviral, é que toda a população previna-se para não contrair o HIV.

Em Fortaleza, a Casa Sol Nascente acolhe até 20 crianças em situação de abandono e/ou negligência e filhas de pais soropositivos. Com idades entre zero e 12 anos, os acolhidos não necessariamente têm o HIV e são encaminhados pelo Conselho Tutelar ou Vara da Infância.

“O número de crianças que chegam aqui e nasceram com HIV vem diminuindo cada vez mais”, nota a gerente da Casa, Lyara Lima. “Essa diminuição vem acontecendo principalmente pela tecnologia do tratamento. Hoje se passa por um filtro muito maior de proteção e as equipes estão muito melhor preparadas”, acrescenta Bruna Nojosa, enfermeira e coordenadora do local.

 

No Brasil

 

O Ministério da Saúde aponta que a taxa de detecção da Aids em menores de cinco anos caiu 66% nos últimos dez anos, passando de 3,4 para 1,2 casos a cada 100 mil em 2021. Já a taxa de detecção de HIV em gestantes aumentou 35% no mesmo período.


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