Dia Mundial do Diabetes: condição afeta 537 milhões de pessoas no mundo

Em média, 16,8 milhões de pessoas são acometidas pelo diabetes no Brasil, de acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD)

O Dia Mundial do Diabetes, celebrado nesta segunda-feira, 14 de novembro, é uma forma de lembrete de que a doença afeta 537 milhões de pessoas no mundo, conforme dados da Federação Internacional de Diabetes divulgados no ano passado. No Brasil, estimativas da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) somam 16,8 milhões de pessoas acometidas pela condição no mesmo período.

Ainda em 2021, de acordo com o Atlas da Diabetes, da Federação Internacional de Diabetes, 6,7 milhões de pessoas morreram no mundo em decorrência da doença. Já no Brasil, foram contabilizadas mais de 214 mil mortes, de pessoas com idades entre 20 e 79 anos. A patologia também foi responsável por 2,8% das mortes de pessoas com menos de 60 anos no País.

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Doutor Tiago Lima Sampaio, professor do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que o diabetes é causado pela produção insuficiente ou má utilização de insulina, hormônio responsável por regular a glicose no sangue e garantir energia para o organismo. O especialista também explica que a doença possui causas multifatoriais.

"É uma doença de causas multifatoriais, mas que acarreta um denominador comum, que é o aumento da quantidade da glicose, ou seja, de açúcar no sangue. Daí provém o “nome completo” da doença, que é diabetes mellitus (...) De forma geral, existe uma definição básica que subclassifica o diabetes mellitus em tipo 1 e tipo 2", esclarece Dr. Tiago.

Diabetes mellitus tipo 1 e tipo 2

 

Por ser um grupo de doenças que resultam em níveis elevados de açúcar no sangue, o diabetes mellitus se classifica em dois tipos. O primeiro, de acordo com o professor, é aquele em que o pâncreas produz pouca ou nenhuma insulina. As causas podem ser genéticas, hereditárias, por ação de toxinas, por consequência de infecções ou por questões autoimunes.

Já o diabetes mellitus tipo 2 corresponde à resistência insulínica. "O indivíduo até produz insulina, mas os tecidos, principalmente os músculos, não conseguem usar esta insulina. Se isto acontece, a glicose não entra nas células musculares, acumulando no sangue. Geralmente, é associado à síndrome metabólica, principalmente à ingesta de um número elevado de calorias e à obesidade", pontua Dr. Tiago.

Além dos dois tipos, existem outras classificações da doença que são menos conhecidas, como o diabetes gestacional, que surge ou é diagnosticado pela primeira vez na gravidez, podendo causar consequências sérias para a mãe ou para o feto. O diabetes insipidus, outra forma da doença, se dá pela deficiência no hormônio antidiurético, causando excesso de produção de urina.

Fatores de desenvolvimento do diabetes

 

Professora Virgínia Fernandes, do Departamento de Saúde Comunitária da UFC, explica que a obesidade é um fator fortemente ligado ao desenvolvimento do diabetes. "Está relacionado, muitas vezes, a um estilo de vida inadequado, onde não é praticada atividade física e a alimentação é inadequada, sendo, talvez, o maior responsável pelos casos de diabetes que temos atualmente", explica.

A especialista pontua que possuir histórico familiar de diabetes também deve ser levado em consideração como um fator que pode possibilitar o surgimento da doença. "O uso de alguns tipos de medicamentos que podem aumentar a glicemia, o avançar da idade, além de diabetes de origem secundária, advindas de doenças autoimunes, que é o diabetes tipo 1", pontua.

Professor Tiago completa: "No caso do diabetes do tipo 1, normalmente as causas são idiopáticas, ou seja, sem explicação aparente. Portanto, credita-se esta doença a fatores genéticos ou ambientais. No geral, as causas mais relatadas na literatura científica são fatores genéticos, autoimunes, além de ocorrência de infecções, principalmente na infância, que aumentam o risco de ocorrência da doença".

O diabetes tipo 2, segundo o especialista, pode ser evitado na maioria das vezes por ser causado pela ingestão excessiva de açúcares e de gorduras, fator que também pode ocasionar a obesidade e a síndrome metabólica. "Apesar de não ser a única causa, controlar estes fatores através da dieta e da prática de exercícios físicos pode melhorar bastante o prognóstico", completa o professor.

Principais sintomas do diabetes

 

Os principais sinais do surgimento do diabetes se dá por meio da polidipsia, que corresponde à sede excessiva que leva o indivíduo a consumir grande quantidade de água ou de outros líquidos. A poliúria, produção excessiva de urina, também é um dos sintomas. Essas estratégias são usadas pelo organismo como tentativa de diluir o sangue eliminar o excesso de glicose na urina.

"Os pacientes também podem sofrer com polifagia, fome excessiva, visto que, como a insulina não está exercendo suas atividades de entregar glicose para as células, falta energia em vários órgãos, fazendo o cérebro interpretar isto como fome. Outros sinais são perda ou ganho de peso em curto intervalo de tempo, fraqueza, fadiga, nervosismo, mudanças de humor, náusea e vômito", explica Dr. Tiago.

Professora Virgínia também pontua que podem haver alterações na visão e infecções genitais fúngicas, no homem e na mulher, em decorrência dos altos níveis de glicemia. A detecção da doença é feita, principalmente, por meio de exames de glicemia em jejum e de hemoglobina glicada, estando ambos disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS), devendo ser feitos anualmente. 

Formas de tratamento do diabetes

 

O diabetes não tem cura, mas bons hábitos podem ser adotados para garantir uma boa qualidade de vida para o paciente com diagnóstico da doença. "A adesão ao tratamento medicamentoso é essencial, bem como a consulta de rotina ao médico a fim de verificar o funcionamento dos órgãos importantes, como os rins, o coração e a saúde dos pés", explica professor Tiago.

O especialista completa: "Se for necessário o uso de insulina, o acompanhamento da glicemia através de aparelhos portáteis ajuda de forma considerável. Ingerir bastante líquido e ter uma dieta controlada são fatores que comprovadamente melhoram a qualidade de vida dos pacientes". A prática regular de atividade física tem um impacto positivo sobre o curso da doença.

Em relação ao tratamento medicamentoso, professora Virgínia explica que os medicamentos orais possibilitam aumento na liberação de insulina e melhora na sensibilidade à ação da insulina. "A gente tem medicamentos que atuam eliminando o excesso de açúcar pela urina e medicamentos que atuam em outras via hormonais, além da insulina", esclarece a especialista. 

Neuropatia diabética

 

Relacionada à condição conhecida como “pé diabético”, a neuropatia diabética é considerada a complicação mais comum do diabetes, sendo caracterizada principalmente por dor crônica. A médica anestesiologista especialista em dor, do Centro Paulista de Dor, Mariana Palladini, explica que a condição afeta os nervos das extremidades do corpo, principalmente os pés.

"A neuropatia diabética é causada por uma alteração do metabolismo que o próprio diabetes gera, causando lesão nos nervos. Nem todo mundo com diabetes vai ter neuropatia diabética, mas se tiver uma alteração de glicemia importante não controlada, as chances de desenvolver a condição são maiores. Uma vez desenvolvendo a neuropatia diabética, é difícil voltar atrás", pontua Dra. Mariana.

A especialista esclarece que a neuropatia diabética causa sintomas dolorosos anormais, como sensação de aperto nos pés, formigamento, queimação ou dormência, que devem ser devidamente controladas para que complicações irreversíveis possam ser evitadas. Além disso, a condição também causa deformação do pé, diminuição da circulação e ulceração.

A falta de tratamento da condição, de acordo com Dra. Mariana, pode levar ao amputamento do membro afetado em decorrência de infecções ou de danos nos vasos sanguíneos. “Pacientes que já sabem que têm diabetes precisam saber que conviver com a dor não é normal e que existe tratamento”, explica. O acompanhamento multiprofissional é essencial para a condição.

"Assim que tiver algum sintoma desagradável, principalmente nos pés, mãos e pontas de dedos, é indicado que o paciente procure um especialista em dor. O tratamento é feito com medicamentos, como antidepressivos e anticonvulsivantes, que agem na percepção e na condução da dor. É possível trabalhar com toxina botulínica em casos de diabetes refratárias em que o paciente tem muita dor", pontua. 

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