Apesar do nome, surto de "varíola dos macacos" não está ligado à transmissão por primatas
Segundo a OMS, mais de 90% do casos com tipo de transmissão registrada foram contraídos durante relação sexual
12:50 | Ago. 11, 2022
A varíola dos macacos é causada pelo vírus Monkeypox (que pertence ao gênero Orthopoxvirus, o mesmo do vírus da “varíola humana”) e foi primeiro registrado em um grupo de macacos na década de 1950. Até recentemente, a infecção era conhecida pela transmissão de animais (como roedores, esquilos e primatas) para humanos. O surto atual, entretanto, vem mostrando que a doença está sendo transmitida de humano para humano.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que 91,5% do casos com tipo de transmissão registrada foram contraídos após contato pele a pele durante o sexo e por fluidos corporais. Outros 6,2% foram classificados como transmissão pessoa a pessoa, 2,1% listados como outros e 0,2% por contato com material contaminado pelo vírus.
Na última semana, o aumento dos casos da varíola dos macacos no Brasil provocou uma onda equivocada de ataques a esses animais. Sete macacos com sinais de intoxicação e um já morto foram resgatados em Rio Preto, no interior de São Paulo, depois da confirmação de casos da monkeypox na cidade. Apenas três dos animais resgatados sobreviveram.
"Os primatas não-humanos não transmitem a doença. Eles sofrem com a doença assim como nós, seres humanos; eles também contraem essa doença e podem morrer de varíola", enfatiza o primatólogo Robério Freire Filho. Em entrevista à rádio O POVO CBN, Freire explica que "não existe qualquer relação entre a presença dos macacos e a varíola". "Essa forma da varíola só é chamada de varíola dos macacos porque os primeiros registros foram em um grupo de macacos mantidos em cativeiro para experimentos em 1958", aponta.
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Ele lembra que os primatas não são uma ameaça aos seres humanos. "Muito pelo contrário, eles nos protegem ao funcionar como sentinelas. Os surtos chegam primeiro aos animais silvestres e isso se torna um indicador para a vigilância pública em saúde", afirma.
O ponto já havia sido alertado pela Sociedade Brasileira de Primatologia, em informativo publicado em 31 de maio. "É importante ressaltar que os macacos (primatas não-humanos) não são os vilões', e sim vítimas como nós (humanos), e não devem sofrer nenhuma retaliação, tais como agressões, mortes, afugentamento, ou quaisquer tipos de maus tratos por parte da população", escreve a Sociedade com apoio de mais oito instituições. "Os primatas fazem parte da nossa biodiversidade, têm importante papel na manutenção das florestas e auxiliam nos serviços ecossistêmicos. Com isso, os primatas contribuem com a manutenção da saúde ambiental e humana", completa.
Maus-tratos, manutenção em cativeiro sem autorização e matança de animais silvestres são crimes ambientais, com pena de multa e reclusão.
OMS estuda novo nome para varíola dos macacos
"Existe um esforço para alterar o nome da doença, porque ele gera uma má comunicação e acaba resultando nesse tipo de evento de as pessoas tentarem ameaçar os animais silvestres", lembra Freire. Desde junho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) vem estudando a adoção internacional de um novo nome para a monkeypox. Entretanto, a Organização não estimou um prazo para a mudança.
Nessa terça-feira, 9, a porta-voz da OMS, Margareth Harris, enfatizou que "a transmissão que vemos agora é a transmissão entre humanos". "O vírus está em alguns animais. Mas não é o que estamos vendo agora. O risco é de outro humano, e a forma de parar [a propagação da doença] é reconhecer os sintomas, buscar ajuda e cuidar para que não haja a transmissão", explicou.
Segundo Harris, "teremos notícias nos próximos dias" sobre a mudança de terminologia. Movimentos semelhantes já aconteceram com outras doenças, como a gripe H1N1 que foi chamada de gripe suína por algum tempo.
Emergência global de saúde
No dia 23 de julho, a OMS classificou a doença como uma emergência global de saúde. Em todo o ano de 2022, há 27.814 casos confirmados e 11 mortes registradas em 89 países, conforme boletim divulgado nessa quarta-feira, 10. A Organização informa que o Brasil é o sexto país com mais casos acumulados e o país com maior aumento de casos na última semana.
Conforme balanço do Ministério da Saúde divulgado na terça-feira, 9, o Brasil contabiliza uma morte e 2.415 casos confirmados de monkeypox em 20 estados e no Distrito Federal. No Ceará, são nove casos da doença.