Hoje é o Dia Mundial do TDAH; saiba o que é o transtorno e como reconhecê-lo
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) atinge cerca de 3% da população mundial, segundo a OMSO dia 13 de julho é a data escolhida para alertar sobre o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença crônica atinge cerca de 3% da população mundial. No Brasil, 2 milhões de pessoas são atingidas pelo Transtorno, em sua maioria crianças, conforme a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA).
A advogada Paula Alencar conta como foi a jornada de descoberta. Quando criança, era considerada, nas palavras dela, "uma garota desleixada, desligada e estabanada". Paula também tinha dificuldades para estudar, apesar de tirar boas notas. "Quando eu estava na faculdade, uma amiga sugeriu que eu tivesse TDAH. Eu não achei que seria verdade, mas isso ficou ecoando na minha cabeça", conta.
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Pouco tempo depois, ela começou a sentir sintomas de ansiedade e depressão relacionado ao trabalho e precisou ir ao psicólogo. Foi lá, no consultório do profissional, que começou a cogitar a hipótese do transtorno. "Eu já estava com dois anos de acompanhamento psicológico, mas só recebi o diagnóstico de TDAH neste ano. Passei pra acompanhamento psiquiátrico em conjunto", diz.
"É como se tivesse cinco músicas tocando ao mesmo tempo no meu cérebro eu tenho que acompanhar todas elas. Então é muito difícil conviver com esse tanto de barulho mental" Paula Alencar, advogada
Antes da amiga dela comentar sobre o transtorno, Paula acreditava que TDAH era algo associado apenas à infância. Foi depois do diagnóstico que ela começou a pensar como teria sido se tivesse descoberto a doença antes.
Já a dançarina e estudante de biomedicina Giulia Ribeiro diz ter descoberto o TDAH há pouco mais de dois anos. Assim como Paula, ela só começou a tratar a doença neste ano, após receber o diagnóstico de um psicólogo e ser encaminhada para um psiquiatra.
Os sintomas sentidos por Paula e Giulia são parecidos: impulsividade, dispersão e hiperfoco. Paula diz esquecer algumas coisas facilmente e, em contrapartida, aprender outras rapidamente. Giulia tem hipersensibilidade a barulhos e não conseguiu terminar quase nada que começava.
Ambas dão dicas para pessoas que também têm TDAH:
- Fazer listas de prioridade;
- Ajustar alarmes para não esquecer compromissos;
- Anotar tudo e deixar tudo que for muito urgente à vista;
- Explicar a pessoas próximas o que é o TDAH;
- Ir ao psicólogo.
Mas, afinal, o que é o TDAH?
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. Ele é chamado às vezes de DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção).
Apesar da doença ser reconhecida mundialmente, inclusive pela própria OMS, já houve controvérsias sobre sua existência. Em alguns países, como nos Estados Unidos, quem tem o transtorno é protegido pela lei para receber tratamento diferenciado na escola.
A psiquiatra e logoterapeuta Rebeca Dourado explica que as dificuldades de comprovar as causas e a relação cultural associada ao transtorno são duas possíveis razões para resistência à aceitação da doença como verdadeira.
"Antigamente as crianças que tinham TDAH eram vistas como mal-educadas, 'danadas', ou que os pais não conseguiram educar adequadamente. Já vi alguns profissionais que não acreditam nesse diagnóstico [de TDAH] porque acham que os sintomas podem ser secundários a outros problemas como ansiedade, depressão e TOC", diz a profissional.
O TDAH é comum?
Ele é o transtorno mais comum em crianças e adolescentes encaminhados para serviços especializados. Ele ocorre em 3% a 5% das crianças, em várias regiões diferentes do mundo em que já foi pesquisado. Em mais da metade dos casos o transtorno acompanha o indivíduo na vida adulta, embora os sintomas de inquietude sejam mais brandos.
Quais são os sintomas?
1) Desatenção;
2) Hiperatividade-impulsividade;
3) Dificuldades na escola e no relacionamento com demais crianças, pais e professores;
4) Inquietude;
5) Impulsividade.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é um diagnóstico clínico, explica a psiquiatra Rebeca Dourado. "Quando ele é feito na infância, nós solicitamos alguns exames laboratoriais e de imagem, principalmente para descartar outras condições", explica Dourado.
Caso os exames não apontem alterações, a técnica adotada será o exame psíquico, em que o profissional entra em contato com a criança para checar como ela se apresenta, recebe informações da família e pede relatórios da escola e de profissionais que as acompanham. "Já na fase adulta, como hoje temos muito mais acesso às informações, muita gente se identifica e vem ao consultório trazendo informações baseadas em testes de triagem", conta Rebeca.
Na área médica, existem alguns códigos de doenças, como o CID, que tem critérios clínicos. Quando mesmo assim não é possível diagnosticar o paciente, ele é encaminhado a um neuropsicólogo.
Quais são as causas do TDAH?
Já existem inúmeros estudos em todo o mundo – inclusive no Brasil – demonstrando que a prevalência do TDAH é semelhante em diferentes regiões, o que indica que o transtorno não é secundário a fatores culturais, como o modo como os pais educam os filhos ou resultado de conflitos psicológicos.
Estudos científicos mostram que quem tem TDAH possui alterações na região frontal e nas conexões com o resto do cérebro. A região frontal orbital é uma das mais desenvolvidas no ser humano em comparação com outras espécies animais e é responsável pela inibição do comportamento (isto é, controlar ou inibir comportamentos inadequados), pela capacidade de prestar atenção, memória, autocontrole, organização e planejamento.
1) Hereditariedade:
Os genes parecem ser responsáveis não pelo transtorno em si, mas por uma predisposição ao TDAH. A participação de genes foi suspeitada, inicialmente, a partir de observações de que nas famílias de pessoas que têm TDAH a presença de parentes também afetados com o transtorno era mais frequente do que nas famílias que não tinham crianças com ele. A prevalência da doença entre os parentes das crianças afetadas é cerca de doiz a dez vezes mais do que na população em geral (isto é chamado de recorrência familial).
2) Substâncias ingeridas na gravidez:
Tem-se observado que a nicotina e o álcool quando ingeridos durante a gravidez podem causar alterações em algumas partes do cérebro do bebê, incluindo-se aí a região frontal orbital. Pesquisas indicam que mães alcoolistas têm mais chance de ter filhos com problemas de hiperatividade e desatenção. É importante lembrar que muitos destes estudos somente nos mostram uma associação entre estes fatores, mas não mostram uma relação de causa e efeito.
3) Sofrimento fetal:
Alguns estudos mostram que mulheres que tiveram problemas no parto que acabaram causando sofrimento fetal tinham mais chance de ter filhos com TDAH. A relação de causa não é clara. Talvez mães com TDAH sejam mais descuidadas e assim possam estar mais predispostas a problemas na gravidez e no parto. Ou seja, a carga genética que ela própria tem (e que passa ao filho) é que estaria influenciando a maior presença de problemas no parto.
4) Exposição a chumbo:
Crianças pequenas que sofreram intoxicação por chumbo podem apresentar sintomas semelhantes aos do TDAH. Entretanto, não há nenhuma necessidade de se realizar qualquer exame de sangue para medir o chumbo numa criança com TDAH, pois isto é raro e pode ser facilmente identificado pela história clínica.
5) Problemas Familiares:
Algumas teorias sugeriam que problemas familiares (alto grau de discórdia conjugal, baixa instrução da mãe, famílias com apenas um dos pais, funcionamento familiar caótico e famílias com nível socioeconômico mais baixo) poderiam ser a causa do TDAH nas crianças. Estudos recentes têm refutado esta ideia. As dificuldades familiares podem ser mais consequência do que causa do TDAH (na criança e mesmo nos pais).
Fonte: Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA)
Existe tratamento?
O tratamento para TDAH pode ser feito com medicações psicoestimulantesOs psicoestimulantes são drogas que aumentam o estado de alerta e concentração dos seus usuários e são usados principalmente no tratamento de TDAH e narcolepsia. , sobretudo o metilfenidato ou lisdexanfetamina. Além disso, também são aconselhadas medidas comportamentais, como uma boa rotina de sono, prática de atividades físicas, alimentação variada. Também convém evitar alimentos ultraprocessados e fast food.
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