Chikungunya pode causar comprometimento cognitivo em idosos
Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte promoveram um estudo transversal, por meio de avaliações clínicas, neuropsicológicas e geriátricasA infecção pelo vírus chikungunya pode causar declínio cognitivo a longo prazo em idosos, sendo um fator de risco para demência futura. É o que aponta pesquisa recente conduzida por cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que promoveram um estudo transversal, por meio de avaliações clínicas, neuropsicológicas e geriátricas.
Em 2019, a equipe potiguar avaliou 121 idosos voluntários de Natal com idades entre 60 e 90 anos. Destes, 95 pacientes haviam sido acometidos pela chikungunya em média seis meses antes. Os outros 26 entraram para o grupo controle, no qual ninguém havia sido infectado. Os resultados foram registrados no artigo "Disfunção cognitiva da infecção pelo vírus chikungunya em adultos mais velhos", publicado em abril na revista Frontiers in Psychiatry.
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Dois terços dos participantes tinham queixas subjetivas de memória e 68% deles estavam preocupados com essa questão, embora apenas 44% tivessem relatado que a queixa de memória começou no último ano. Entre as avaliações realizadas esteve o teste cognitivo Montreal, conhecido pela sigla em inglês MoCA. Ao longo do período de pesquisa, enquanto a idade foi mantida constante, a infecção pelo vírus chikungunya foi associada a um aumento de 607,29% na chance de ter o desempenho no MoCA considerado prejudicado ou em declínio quando comparado ao grupo com os controles saudáveis.
“Já tínhamos a impressão advinda dos relatos subjetivos dos próprios pacientes de que havia algum impacto cognitivo", conta Katie Almondes, uma das autoras do artigo. "Precisávamos avaliar se essa percepção estava correta. Para nossa surpresa, foi não só confirmado como demonstrado que envolvia não apenas a memória, mas outros processos cognitivos fundamentais, como as funções executivas."
Kleber Luz, infectologista do Hospital Universitário Onofre Lopes da UFRN, também esteve na pesquisa e explica que “estes impactos podem ter uma curta duração ou serem prolongados". "Há relatos de que mulheres acometidas por dengue podem desenvolver quadro depressivo por até dois anos, mas, na prática, os autores perceberam que pacientes no pós-chikungunya agudo se queixavam de uma redução da capacidade cognitiva”, exemplifica.
Chikungunya
Causada pelo vírus chikungunya (CHIKV), a febre chikungunya é uma doença articular. Sua transmissão acontece pela picada da fêmea dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus, mesmos vetores da dengue, da Zika e da febre amarela, bem como da gestante para o bebê, ou seja, de maneira vertical.
Identificado pela primeira vez na década de 1950 na Tanzânia, o vírus desencadeou, em 2014, uma epidemia em países da Europa, da Ásia, da África e da América, incluindo o Brasil.
Alguns dos principais sintomas na fase aguda da infecção por chikungunya são artrite grave, febre, calafrios, mialgia, dor de cabeça e exantema maculopapular — pequenas lesões na pele. Em geral, a doença é autolimitada e a extinção dos sintomas varia de 5 a 14 dias, porém, em alguns casos, pacientes podem evoluir para um estágio crônico, no qual as dores articulares persistentes e incapacitantes levam meses ou até anos para passar. (Com informações do Portal UFRN e da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical)
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