Cinco mitos sobre a varíola dos macacos

Os recentes casos de varíola dos macacos foram causados por uma vacina contra covid? O vírus veio de um laboratório? Conheça as principais teorias conspiratórias que circulam sobre a doença

00:03 | Jun. 11, 2022

Por: DW

Da mesma forma como acontece com a pandemia de covid-19, principalmente nas redes sociais correm muitas teorias da conspiração sobre o surto de varíola dos macacos. Conheça cinco mitos em torno da doença e checou os fatos:

Apenas uma mentira da mídia?

Alegação: A varíola dos macacos nem sequer existe, é uma notícia falsa, acreditam alguns nas redes sociais. Fotos usadas em reportagens seriam muito antigas ou mostram outras doenças, como a herpes zóster.

Conclusão da checagem: Errado. A varíola dos macacos é real. O vírus é conhecido desde 1958, e, desde 1970, sabe-se que ele também pode ser transmitido aos seres humanos. Há surtos recorrentes, que até agora tinham se limitado aos países da África Ocidental e Central. Um surto, que teve início em 2017, já registra mais de 500 infecções na Nigéria. As fotos "antigas" que supostamente provam que as denúncias de varíola dos macacos são falsas, são na sua maioria imagens de agências que estão no arquivo de fotos dos respectivos fornecedores há anos. E não é raro que as mesmas fotografias sejam usadas repetidamente para ilustrar notícias de saúde porque geralmente há poucas imagens à disposição. Alguns usuários do Twitter justapõem imagens de artigos sobre a varíola dos macacos e a herpes para mostrar que as imagens são aparentemente idênticas e que, portanto, a doença não existiria. Uma busca na internet mostra que um texto do governo de Queensland sobre herpes zóster foi de fato ilustrada com a imagem do tuíte. Com o artigo sobre a varíola dos macacos, a situação é um pouco mais complicada: pelo menos desde 19 de maio de 2022, o texto do "The Health Site" não contém a imagem do tweet, mas uma diferente. Uma versão antiga do artigo de 17 de julho de 2021 mostrava incorretamente a imagem da herpes como uma ilustração da varíola dos macacos. Este erro foi corrigido. Além disso, um erro editorial em um site não muda o fato de que a doença realmente existe.

A varíola dos macacos é causada pela vacina contra a covid?

Alegação: A vacina da AstraZeneca contra covid-19 contém adenovírus atenuados de chimpanzés − como portadores do DNA da proteína spike. Para alguns, isto sugere que as infecções por varíola dos macacos ocorrem devido ao imunizante.

Conclusão da checagem: Errado. A varíola dos macacos e o adenovírus de macacos não têm relação entre si, mesmo que à primeira vista a palavra macaco possa sugerir uma possível conexão entre os vírus. "A varíola dos macacos é chamada assim porque foi detectada pela primeira vez em uma colônia de macacos em 1958. Mas, na verdade, ela vem de roedores, os macacos são provavelmente um hospedeiro intermediário", explica Christine Falk, presidente da Sociedade Alemã de Imunologia. Os adenovírus, incluindo os de chimpanzés, que são a base das vacinas vetoriais, são uma classe de vírus completamente diferente da dos da varíola, com propriedades completamente diferentes, disse Falk. Às vezes, esses vírus podem causar infecções semelhantes às de um resfriado. "E há alguns que foram isolados e modificados para uso em vacinas". Falk e outros especialistas, portanto, descartam uma ligação com o surto de varíola dos macacos e à vacina contra a covid-19.

O vírus teve origem no laboratório Wuhan?

Alegação: O Instituto Wuhan de Virologia, na China, teria feito experiências com vírus da varíola dos macacos − para alguns, uma clara indicação de que esta é a origem do atual surto. Tudo isso faz lembrar a "teoria de laboratório" do coronavírus, que é considerada improvável pelos cientistas, mas não totalmente descartada.

Conclusão da checagem: Enganoso. De fato, experimentos com testes PCR de vírus da varíola dos macacos foram realizados em Wuhan. Isso é indiscutível, inclusive confirmado num estudo publicado pelo instituto em fevereiro de 2022. No entanto, este estudo só experimentou um fragmento do vírus que tinha menos de um terço do genoma da varíola macaco. Este fragmento é absolutamente seguro, diz o estudo, pois qualquer risco de que ele se desenvolva em um vírus contagioso foi descartado. "Não há evidências que demonstrem que a varíola dos macacos tenha se originado em um laboratório. O vírus existe na natureza em populações animais em vários países da África Ocidental e Central. Quase todos os anos há surtos menores em humanos", disse Mark Slifka, imunologista e professor do Centro Nacional de Pesquisa de Primatas do Oregon. Slifka explicou que os cientistas são capazes de distinguir entre diferentes cepas do vírus, sequenciando o genoma. Assim, é possível dizer se o vírus está relacionado à estirpe da África Ocidental ou da África Central. "Tanto quanto sei, nenhum dos infectados recentemente esteve na China antes do diagnóstico", acrescenta. A Organização Mundial da Saúde (OMS) também confirma que todos os casos atuais até agora foram ligados a uma cepa originada na África Ocidental. De acordo com um documento do Centro Europeu de Prevenção de Doenças, o fato de haver atualmente mais casos na Europa é provavelmente devido aos chamados eventos de propagação no cenário internacional, uma vez que a varíola de macaco é transmitida principalmente através do contato direto.

A varíola dos macacos é um surto planejado?

Alegação: O surto de uma pandemia de varíola dos macacos teria sido preparado com muita antecedência. Um jogo de simulação na Conferência de Segurança de Munique, que foi baseada em um cenário de varíola de macaco, provaria isso. Outros estabelecem uma ligação direta entre Bill Gates e o surto, porque ele teria alertado repetidamente sobre tal cenário.

Conclusão da checagem: Enganoso. A simulação usada como evidência de uma suposta pandemia de varíola dos macacos planejada na Conferência de Segurança de Munique em 2021 existe de fato, também com o cenário de um surto fictício em maio de 2022. A simulação foi lançada pela Iniciativa de Ameaça Nuclear (NTI, do inglês) como parte do evento para chamar a atenção para as lacunas na coordenação pandêmica global. Essas simulações são usadas em muitos contextos para preparar cenários complexos, apresentar riscos de segurança e para ensaiar ou verificar procedimentos. O surto semelhante ao simulado, no entanto, não prova causalidade. Além disso, o cenário é próximo, mas não coincide com a realidade. Por exemplo, o patógeno real é menos infeccioso e as rotas de transmissão diferem do apresentado na conferência. A NTI esclareceu isso novamente em uma declaração recente: "O cenário fictício em nosso exercício envolveu uma hipotética cepa do vírus da varíola dos macacos que era mais transmissível e perigosa do que as cepas naturais e se espalhou pelo mundo, causando mais de 3 bilhões de casos e 270 milhões de mortes em 18 meses". Com relação às afirmações sobre Bill Gates, deve-se dizer: o bilionário e filantropo tem uma fundação há muito tempo envolvida na prevenção de doenças e vem alertando há anos sobre os perigos do bioterrorismo e das pandemias, incluindo, por exemplo, uma epidemia de varíola. A possibilidade de tal surto ou ataque bioterrorista com vírus da varíola também é discutida em vários artigos de pesquisa, independentemente de Gates. E Gates nunca mencionou em especial a varíola dos macaco em suas declarações.

O virologista americano Fauci é vidente?

Alegação: O imunologista americano Anthony Fauci, conselheiro do presidente Joe Biden, teria concedido fundos de pesquisa para estudar tratamentos contra a doença mesmo antes do atual surto, o que para alguns é um forte indício de que este surto foi planejado há muito tempo.

Conclusão da checagem: Enganoso. O financiamento da pesquisa existe de fato. Como o vírus da varíola dos macacos já foi descoberto em 1958 e há mais de 50 anos sabe-se que seres humanos podem ser infectados, a pesquisa de opções de tratamento também está em andamento. O fato de tais projetos de pesquisa existirem não é, portanto, em si uma grande surpresa. Uma pesquisa por "monkeypox" (varíola dos macacos) nos sites de institutos nacionais de saúde dos Estados Unidos mostra que pesquisas sobre este vírus e o tratamento para a doença têm sido financiados regularmente ao longo dos anos. Especialistas, porém, criticam que tais vírus perigosos e as doenças que eles causam ainda recebem muito pouca atenção.

Autor: Simone Schirrmacher