Vacinação e variante Ômicron: o que mudou no cenário epidemiológico

O POVO ouviu pacientes e infectologistas para comentar o cenário epidemiológico cearense diante da vacinação da população e contaminação por novas variantes da Covid-19

Ainda em 2020, um agente infeccioso chamado de Sars-CoV-2, o original causador da Covid-19, começou a circular no Brasil e no mundo, acarretando em casos graves da doença e morte. Esse vírus infectou a população e levou muita gente às unidades de saúde e à morte. Para entender os dois anos de pandemia, O POVO ouviu especialistas e pacientes para comentar o cenário epidemiológico cearense diante da vacinação da população e contaminação por novas variantes da Covid-19.

Logo quando surgiu a infecção foi detectada, os sintomas gerais da contaminação pelo coronavírus, nos casos de baixa e média complicação, eram febre, tosse, falta de ar, cansaço e perda de paladar ou olfato. Atualmente, os relatos carregam ainda traços de uma gripe comum: coriza, dor de garganta e tosse.

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O médico e infectologista Keny Colares explica que não existe base científica para diferenciar o sintoma da Covid transmitida no início da pandemia e a transmissão atual. “Manifestar-se de diferentes formas é uma característica das doenças infecciosas como um todo. Essa manifestação varia de acordo com tipo de vírus, agressividade da infecção, a quantidade de vírus adquirida, o funcionamento do sistema de defesa e o grau de saúde dos órgãos do indivíduo”.

Keny relata que, no início da pandemia, os sintomas eram sinalizados por uma manutenção da febre prolongada, uma tosse muito forte e falta de ar. Com as novas mutações do vírus, principalmente a Ômicron, pode-se observar menos casos mais graves da doença.

O infectologista explica que o que precisa ser levado em consideração é que grande parte das pessoas atendidas estão vacinadas. Além disso, a Ômicron tem uma capacidade maior de se multiplicar nas vias respiratórias superiores e centrais (garganta, nariz e nos brônquios), isso faz com que a quantidade de vírus no corpo seja maior, mas que as consequências da doença sejam menos graves.

Mais de 1 milhão de pessoas receberam a terceira dose (D3) contra a Covid-19 no Ceará
Mais de 1 milhão de pessoas receberam a terceira dose (D3) contra a Covid-19 no Ceará (Foto: FERNANDA BARROS)

“Doenças que se multiplicam nas vias respiratórias superiores tendem a ser altamente transmissíveis e tendem a ser menos agressivas, apesar do desconforto e dor de garganta. Casos de reprodução nas vias respiratórias inferiores (pulmão) são mais graves, já que a função principal para manter a gente vivo está no pulmão”.

“Eu senti apenas os sintomas de uma gripe comum"

Um caso de reinfecção com sintomas diferentes foi o da estudante Laís Peixoto, 14 anos. A jovem conta que foi infectada por Covid, pela primeira vez, em dezembro de 2020. “Foi muito ruim porque eu senti todos os sintomas comuns da época: cansaço, febre, falta de ar, dor de cabeça, alteração no paladar e no olfato, dor de garganta e enjoos”.

No começo deste ano, com as duas doses da vacina contra o vírus, Laís e a família testaram positivo para Covid após o retorno de uma viagem. Naquele momento, mesmo infectada, ela sentia uma diferença em relação aos sintomas da primeira infecção: “Eu senti apenas os sintomas de uma gripe comum. Eu tive dor de garganta e fiquei com o nariz entupido por um tempo. Não senti febre, nem enjoo, nem falta ar. Não foi ruim como a que eu peguei em 2020”, finaliza a jovem.

Perigo das mutações do vírus

Mesmo com os sintomas "mais brandos" da Covid, é preciso ter cuidado, pois os vírus de RNA, ao se multiplicarem, têm uma taxa de mutação muito elevada. "Quando o vírus vai fazer uma cópia, ele entra nas nossas células para realizar essa produção, e muitos deles podem ser diferentes do original. Essas mudanças podem fazer com que o vírus seja menos eficiente, mas também pode criar um vírus mais transmissível e mais agressivo à saúde do paciente”.

Nova cepa foi denominada Omicron
Nova cepa foi denominada Omicron (Foto: National Institute of Allergy and Infectious Diseases /NIAID/Direitos reservados)

“A gente não pode se despreocupar em relação a essa infecção. Esse vírus está circulando e fazendo diversas mutações. A cada pessoa infectada são bilhões de cópias, que podem, de repente, fazer surgir uma variante mais perigosa no futuro”, adverte o médico.

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Vacina e proteção

Nos últimos anos, a ciência conseguiu desenvolver vacinas que atuam para garantir uma proteção maior à população. Com isso, um total de 75,43% (162.045.040) da população no País já recebeu pelo menos, uma dose do imunizante. 

"Obviamente que pessoas mais vacinadas tendem a ter sintomas mais leves. Dentro desse contexto, é difícil caracterizar uma pessoa pelos sintomas. O que precisa ser observado, com essa nova variante, é que há menos pacientes evoluindo para casos mais graves da doença", relata Keny.

Além disso, nos casos de contaminação por doenças infecciosas como a gripe, o paciente tende a adquirir uma proteção parcial, o que torna mais difícil contrair aquela infecção mais uma vez. “E se uma pessoa contrair uma doença infecciosa, há uma proteção instalada fazendo com que os casos sejam mais leves, mas, de forma geral, essa proteção vai diminuindo um pouco com o tempo, e a pessoa, com o tempo, pode se infectar novamente”.

Por fim, o médico salienta que para fazer a caracterização de uma doença é preciso fazer um estudo científico, fazer uma coleta sistematizada de informações com um grande número de indivíduos para conseguir comparar se existe uma manifestação diferente dessa variante em relação à outras. "Existe muita informação com pouca base científica. Para fazer a caracterização de uma doença é preciso fazer um estudo científico", finaliza o infectologista. 

Cuidados

A médica e infectologista, Melissa Medeiros, também adverte para os cuidados com as novas mutações da Covid-19. Segundo a médica, em um período de transmissão da variante Ômicron é preciso ter o máximo de cuidado. “A Ômicron transmite muito mais rápido e para um maior número de pessoas que as outras variantes. Enquanto a variante inicial, Alfa, transmitia para 2 a 3 pessoas, a Ômicron tem a capacidade de transmitir para 15 a 20 pessoas, equiparando-se a taxa de transmissibilidade do sarampo”, argumenta.

A infectologista explica que no primeiro estudo que caracterizou os sintomas clínicos da variante, os pesquisadores reforçaram os sintomas de dor na garganta e coriza, que não eram comuns no passado recente. “É o que temos visto agora; febre mais baixa por 1 a 2 dias, fraqueza intensa, dores musculares, dor e sensação de queimação na garganta, coriza com secreção clara que pode confundir com a famosa rinite alérgica”, descreveu.

Após um período de cinco dias, o indivíduo pode apresentar tosse seca persistente. “É importante no caso dos idosos, aqueles com imunidade baixa ou vacinação incompleta, devem ficar alerta para sintomas de gravidade: sensação de falta de ar aos pequenos esforços, frequência respiratória maior que 24 por minuto, cianose (cor azulada ou acinzentada da pele, das unhas, dos lábios ou ao redor dos olhos) e saturação abaixo de 92”, alerta.

Melissa ressalta que em casos de infecção é importante se isolar a partir dos primeiros sintomas. Em seguida, é preciso fazer o uso correto da máscara e manter sempre a higienização adequada das mãos. Outra precaução é que as pessoas que tiveram contato com o indivíduo sintomático devem se isolar e fazer exame para detectar o coronavírus.

“É difícil se isolar em casa, mas tentem o máximo possível. Nas áreas comuns sempre usem máscara, lavem bem as mãos antes de manipular qualquer objeto. Água e sabão já eliminam o vírus facilmente e ele não sobrevive muito tempo nas superfícies”, argumenta a médica.

Além disso, como a transmissão do vírus é pelo ar, é importante deixar sempre as janelas abertas para ventilar e manter 1,5 m de distância das pessoas adoecidas. Caso todos os moradores da residência estejam contaminados, então não é necessário usar máscara dentro de casa.

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