Burnout agora é doença do trabalho: saiba o que é e como identificar

A síndrome de burnout está ligada ao esgotamento físico e mental associado ao ambiente empregatício. Com alteração da OMS, a condição passa a ser uma doença de trabalho

Banalmente utilizada por diversos usuários do Twitter em associação ao cansaço de trabalho, a palavra gringa “burnout” vai além da exaustão ao fim de um dia produtivo. A partir de 2022, a síndrome de burnout (em tradução literal, esgotamento) passa a ser considerada uma doença de trabalho, e não mais unicamente como um quadro de saúde mental, conforme a nova classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Segundo a nova descrição, a burnout será oficializada como um “estresse crônico de trabalho que não foi administrado com sucesso”. Outras doenças também integram a alteração da OMS, que foi oficializada em 2019, mas só entrará em vigor no próximo ano. Para realizar essa alteração, o órgão internacional analisou estatísticas e tendências de saúde em diversos escopos e níveis de atuação.

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A mudança para o campo de “doenças do trabalho” faz sentido: pessoas manifestam burnout quando as demandas empregatícias começam a consumi-las. Essa transição também implica novas discussões, como a responsabilidade dos empregadores. “É claro quando colocam como uma doença relacionada ao trabalho, e não ao trabalhador. O estresse mal administrado se torna um problema crônico relacionado ao local de trabalho”, afirmou o psiquiatra Roberto Aylmer ao portal Exame.

O especialista explicou que a reclassificação da OMS impacta na forma que os funcionários podem se proteger e que as empresas devem agir. “Com essa classificação, uma vez que o médico faz o diagnóstico, a empresa tem culpa. Não é a pessoa que é exigente demais, perfeccionista ou faz parte de um perfil mais propenso, não é mais uma cobrança interna apenas”, disse. Atualmente, a implicação de responsabilidade já é possível, mas difícil de conseguir, segundo o médico.

Síndrome de Burnout: mudanças na cultura de trabalho

Para Roberto, outra possível mudança que pode ser possibilitada pela reclassificação da OMS é na cultura do próprio ambiente de trabalho, de modo a alterar situações que possam ser propícias ao esgotamento. “A próxima fronteira é a saúde mental. Como que a empresa cuida do meio ambiente, da sociedade e não cuida dos próprios colaboradores? A saúde mental vai impactar tanto na sua imagem quanto ser uma empresa poluidora”, explicou o professor da Fundação Dom Cabral.

É importante ainda pensar no contexto da pandemia de Covid-19, período de estresse pós-traumático similares ao de uma guerra, segundo o psiquiatra. “Tivemos um acumulo de coisas esquisitas e estressantes, não poder sair de casa, lidar com a morte, alto desemprego, trabalho em casa sem poder recarregar... foi muito doloroso”, comentou. Horas extras e demandas fora de expediente são caminhos para o esgotamento.

Estudo publicado pelo Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino (IDor) no início deste ano apontou que ao menos um em cada seis profissionais de saúde apresentam sinais de burnout. A pesquisa foi feita com 715 trabalhadores: 125 indicaram exaustão emocional, 120 despersonalização e 107 falta de realização profissional. Como um mesmo profissional poderia marcar mais de uma opção no questionário, o estudo concluiu que, pelo menos, 125 deles sofriam com o esgotamento no trabalho.

Síndrome de Burnout: pandemia e transtornos psicológicos

Uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que analisou o impacto da pandemia e do isolamento social na saúde mental de trabalhadores essenciais mostrou que sintomas de ansiedade e depressão afetaram 47,3% desses trabalhadores durante a pandemia, no Brasil e na Espanha. Mais da metade deles (e 27,4% do total de entrevistados) sofre de ansiedade e depressão ao mesmo tempo. Além disso, 44,3% têm abusado de bebidas alcoólicas; 42,9% sofreram mudanças nos hábitos de sono; e 30,9% foram diagnosticados ou se tratou de transtornos psicológicos no ano anterior.

Segundo a OMS, no Brasil, 11,5 milhões de pessoas sofrem com depressão e até 2030 essa será a doença mais comum no país. De acordo com um estudo realizado em 2019, cerca de 20 mil brasileiros pediram afastamento médico no ano por doenças mentais relacionadas ao trabalho. “A pandemia tem sido muito prejudicial a toda a sociedade e os trabalhadores têm sofrido grande parte desses impactos. Por isso, agir e minimizar esse cenário é também uma responsabilidade das empresas. O emocional das pessoas tem sido fortemente abalado pelo isolamento social, as incertezas do futuro, a pressão para alcançar resultados, as dificuldades do trabalho remoto, entre outros pontos”, disse o médico e gestor em saúde, Ricardo Pacheco.

Síndrome de Burnout: quais são os principais sintomas?

A síndrome de burnout é principalmente caracterizada por três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e baixo sentimento de realização. Esses e outros sinais podem ser indicativos do esgotamento no ambiente de trabalho. Saiba mais:

  1. Exaustão emocional: acontece quando o profissional não se sente disposto o suficiente para lidar com as situações, exigências e demandas cotidianas do trabalho.
  2. Despersonalização ou cinismo: a partir do distanciamento emocional de outras pessoas, o profissional começa a agir com indiferença em relação ao próprio trabalho ou às pessoas com quem lida (chefes, colegas, clientes, pacientes, etc).
  3. Baixo sentimento de realização: menores índices de realização são comuns entre aqueles com burnout, pois há um sentimento de frustração e desmotivação, além de questionamento das próprias habilidades.
  4. Ansiedade: a burnout pode ser associada com o transtorno de ansiedade, que, em níveis intensos, acaba resultando em sofrimento psicológico impactante no cotidiano de um trabalhador. Pode resultar em insônia, irritabilidade, dificuldade de concentração, dores musculares etc.
  5. Isolamento: a burnout influencia negativamente funções sociais, como manter contato, ser empático, interagir e se comunicar, resultando em uma busca maior por isolamento e menor por relação social.
  6. Insônia: a sobrecarga no trabalho, a má qualidade de vida e o esforço psicológico, físico e social de quem tem burnout podem prejudicar diretamente a qualidade do sono.
  7. Acometimento físico: síndromes metabólicas, imunidade prejudicada e doença cardiovascular são algumas desordens físicas que podem ser associadas a um trabalhador com burnout.
  8. Irritabilidade: a burnout altera o funcionamento do córtex pré-frontal, responsável pela habilidade de mediação de conflitos, resultando em uma maior vulnerabilidade para agir de modo impulsivo e irritável.
  9. Impacto na concentração e na memória: as dificuldades com sono somadas ao esgotamento físico-mental podem resultar em uma percepção mais prejudicada do mundo ao redor.
  10. Depressão: tem uma significativa relação com a burnout, tendo em vista as alterações feitas no cérebro pelo esgotamento no trabalho. Têm características em comum, mas são condições diferentes.

Com informações de Agência Brasil, Exame e Uol

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