HPV: vacinação é medida preventiva mais eficaz contra infecção sexualmente transmissível

A vacina funciona estimulando a produção de anticorpos específicos para cada tipo de HPV. Em geral, são necessárias duas doses em um intervalo de seis meses

22:36 | Jun. 23, 2021

Por: Marília Serpa
Vacinação contra HPV nas meninas deve começar a partir dos 9 anos; nos meninos, indicação é para imunização a partir dos 11 anos (foto: Divulgação)

Em tempos de Covid-19, vale lembrar que a vacina é necessária para o combate de uma série de doenças. Uma delas é o HPV, sigla em inglês para Papilomavírus Humano, um vírus que infecta a pele ou as mucosas (oral, genital ou anal), provocando verrugas anogenitais e câncer. Caracteriza-se como uma infecção sexualmente transmissível (IST) que afeta homens e mulheres. A identificação precoce oferece chances para que o vírus seja monitorado e não evolua para o câncer. Mas a vacinação é a medida preventiva mais importante e deve ser iniciada antes do início da vida sexual.

“A camisinha é um mecanismo de proteção importante, mas no contato entre peles e mucosas, o vírus será transmitido. Então, se uma pele infectada tocar em uma pele não infectada, o vírus será transmitido. Por isso a importância de se investir na vacinação contra a doença”, explica Rocineide Ferreira, enfermeira, doutora em Saúde Coletiva e professora do curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Ceará (Uece). 

A vacina funciona estimulando a produção de anticorpos específicos para cada tipo de HPV. Em relação à prevenção de câncer, ela age sobre os quatro tipos de vírus, 6, 11, 16 e 18, sendo os mais associados com os diferentes tipos da doença. "Assim, a vacina atua para restringir o impacto do vírus no organismo, sobretudo no que se refere à produção de cânceres", explica a professora.

A proteção contra a infecção vai depender da quantidade de anticorpos produzidos pela pessoa vacinada, pela presença desses anticorpos no local da infecção e pela sua persistência durante um longo período de tempo.

São necessárias duas doses em um intervalo de seis meses. O indicado é que as meninas comecem a tomar a partir dos 9 anos, seguindo até os 14 anos, 11 meses e 29 dias. Já os meninos, de 11 até os 14 anos, 11 meses e 29 dias.

Ainda, existe a situação especial da vacina para meninos, meninas, homens e mulheres de 9 a 26 anos que possuem HIV, são transplantados de órgãos e/ou medula óssea, ou pacientes que possuem outro tipo de câncer. Nesses casos, são administradas três doses da vacina com intervalo de dois meses entre a primeira e a segunda, e seis meses entre a aplicação da primeira e da terceira dose.

“O esquema vacinal atualmente está bem determinado. É muito importante que as comunidades que têm o cadastro na Estratégia Saúde da Família deem atenção primária ativa”, completa Rocineide.

É válido lembrar que a vacina é contraindicada durante a gestação, mas que pode ser administrada em mulheres que estão amamentando.

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Prevalência do HPV no Nordeste

Dados revelam que a prevalência da doença é maior no Nordeste, com índice de 58,09%. Os números levantados fazem parte de um estudo feito com pessoas com idade média de 21,6 anos, realizado entre 2016 e 2017 nas 27 capitais brasileiras. Os resultados foram divulgados em 2018, mostrando que o Nordeste ocupa a primeira posição, sendo seguido pela região Centro-Oeste, com 56,46%. Já no Norte do País, o índice era de 53,54%, enquanto no Sudeste era de 49,92%, finalizando com a região Sul, com índice de 49,68%.

O objetivo do estudo, que contou com a participação de 217 profissionais em 119 Unidades Básicas de Saúde, foi avaliar o impacto da infecção por HPV e fortalecer as políticas de vacinação no Brasil, sendo liderada pelo Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, em parceria com o Ministério da Saúde do Brasil.

Ao todo, foram entrevistados 8.626 jovens de 16 a 25 que utilizam o Sistema Único de Saúde (SUS) nas capitais do País. A prevalência de HPV geral na população feminina pesquisada foi de 54,6%, enquanto na masculina foi de 51,8%.

Ainda, em relação às IST, 13,8% referiram a presença prévia de uma dessas doenças ou apresentaram resultado positivo no teste rápido para HIV ou sífilis. A escolha por essa determinada faixa etária foi porque essa população ainda não havia sido vacinada contra o HPV na época. 

Por meio do estudo, foi possível verificar a prevalência do HPV, em seus diferentes tipos, em 6.387 amostras válidas, o que representa um índice de 53,6% da doença entre a população participante. Além disso, o HPV de alto risco para o desenvolvimento de câncer se fez presente em 35,2% dos jovens.

HPV e a relação com o câncer

De acordo com a Onda Contra o Câncer, campanha lançada pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), que visa alertar sobre a vacinação contra a doença e sobre seus altos riscos de desenvolvimento de câncer, dentre os vários tipos de HPV, alguns são responsáveis por:

- 99% dos casos de câncer no colo do útero;
- 91% dos casos de câncer no ânus;
- 75 dos casos de câncer de vagina;
- 72% dos casos de câncer de orofaringe;
- 69% dos casos de câncer na vulva;
- 63% dos casos de câncer de pênis.

 

Quadro de prevalência do HPV nas capitais do País*

Salvador (BA) - 71,9%
Palmas (TO) 61,8%
Cuiabá (MT) 61,5%
Macapá (AM) - 61,3%
São Luís (MA) - 59,1%
Porto Alegre (RS) - 57,1%
Rio Branco (AC) - 55,9%
Vitória (ES) - 55,1%
Aracaju (SE) - 54,6%
Rio de Janeiro (RJ) - 54,5%
Teresina (PI) - 54,3%
Goiânia (GO) - 54,1%
Fortaleza (CE) -53,4%
Porto Velho (RO) - 52,9%
Natal (RN) - 52,9%
São Paulo (SP) - 52,0%
Boa Vista (RR) - 51,0%
Belém (PA) - 50,8%
Manaus (AM) - 50,3%
Curitiba (PR) - 48,0%
João Pessoa (PB) - 45,6%
Maceió (AL) - 45,1%
Florianópolis (SC) - 44,0%
Recife (PE) - 41,2%
Brasília (DF) - sem dados suficientes
Campo Grande (MS) - sem dados suficientes
Belo Horizonte (MG) - sem dados suficientes

*Dados com base no portal da campanha Onda Contra o Câncer