Vacinados contra gripe são mais resistentes à Covid-19?

Estudo aponta que pessoas vacinadas contra gripe adoecem menos ou de forma menos grave de covid-19. Isso acontece porque os imunizados são mais cautelosos ou há razões médicas?

00:04 | Mar. 30, 2021

Por: Agência Deutsche Welle
Vacinação contra Covid-19 deve ser priorizada por quem está nos grupos prioritários em relação à vacina da gripe (foto: JÚLIO CAESAR)

A vacinação contra a gripe protege contra a Covid-19? Se sim, por quê? Estas questões foram tratadas por uma equipe de médicos liderada por Anna Colon, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Eles chegaram a algumas conclusões surpreendentes, segundo um estudo publicado no American Journal of Infection Control. Enquanto o Brasil avança claudicante na vacinação contra o novo coronavírus, na terça-feira, 12, começa a campanha nacional de vacinação contra a gripe. A orientação das autoridades de saúde é de intervalo entre uma imunização e outra. Mas, existe relação entre as proteções?

Os médicos examinaram os dados dos pacientes de 27.201 pessoas de Michigan que haviam feito um teste de Covid-19 até 15 de julho de 2020. Destas, 12.997 haviam sido vacinados anteriormente contra a gripe. Foi constatado que a proporção de pessoas imunizadas contra a gripe comum que contraíram o novo coronavírus foi ligeiramente menor do que entre os não vacinados, ou seja, 4% contra 4,9%, respectivamente.

Além disso, os pacientes com proteção contra gripe também foram menos propensos a precisar de tratamento hospitalar ou ventilação ao contraírem uma infecção por coronavírus. E o tempo de permanência em hospitais foi, em média, mais curto. Entretanto, não houve diferenças significativas na mortalidade entre os dois grupos de comparação.

Que influência tem a defesa imunológica inata?

A questão crucial para os especialistas é: existe uma explicação médica e microbiológica para isso? Poderia ser, por exemplo, a defesa imunológica inata, possivelmente ativada pela vacinação. Ela funciona independentemente da imunidade aprendida pelos anticorpos, que visa principalmente a proteína espicular, ou "spike", característica no combate à covid-19, e torna assim o vírus inofensivo.

Em contraste, a defesa imunológica inata, provavelmente estimulada pela vacinação, consiste de uma série de elementos diferentes. Estes reagem de forma pouco específica a invasores ou a organismos estranhos. Este exército permanente de nossa defesa imunológica inclui, por exemplo, os fagócitos e as células dendríticas, mas também várias citocinas (proteínas que desempenham um papel nas reações imunológicas e processos inflamatórios), bem como os leucócitos T e B (glóbulos brancos).

O fato de várias vacinas serem basicamente boas para a defesa imunológica é conhecido, por exemplo, a partir da vacinação contra o sarampo. Estudos epidemiológicos mostraram há anos que as crianças vacinadas ainda tinham uma imunidade mais alta contra uma variedade de patógenos do que as crianças não vacinadas, mesmo muito tempo após a vacinação.

Ou seria apenas uma analogia? Também pode ser que menos pessoas imunizadas contra a gripe simplesmente não contraíram covid-19 porque foram mais cautelosas do que as não vacinadas. Por exemplo, mais pessoas de grupos de alto risco (idosos e pessoas com problemas de saúde pré-existentes) geralmente recebem vacinas contra a gripe do que pessoas jovens e saudáveis. Nos Estados Unidos, por exemplo, muitos idosos e aposentados já se haviam isolado voluntariamente no início do ano passado, enquanto outros ainda saíam para trabalhar. No entanto, há duas indicações contra tal conexão: os mais velhos normalmente também apresentam cursos mais severos da doença, o que não foi o caso no estudo de Michigan.

Independente disso, há um estudo preliminar não examinado do ano passado que aponta mais para uma explicação imunológica: entre os funcionários de hospitais da Holanda que receberam uma vacina contra a gripe no inverno de 2019/2020, a covid-19 ocorreu significativamente menos vezes do que entre os não vacinados. E nesses dois grupos não havia pessoas com mais de 70 anos. Todos os estudados eram empregados e tinham um número correspondentemente alto de pessoas de contato.

Autor: Fabian Schmidt