Entenda o que é a Síndrome de Ménière, que afetou a cantora Jessie J

O POVO consultou um otorrinolaringologista e explica o que é a doença, quais os sintomas e tratamento

10:15 | Dez. 29, 2020

Por: Gabriela Feitosa
Legenda: Cantora tem compartilhado nas suas redes sociais a rotina com a doença e disse que sente falta de cantar, mas está se tratando adequadamente. (foto: Reprodução/Instagram)


Após acordar sem audição na véspera de Natal, a cantora Jessie J descobriu sofrer de Síndrome de Ménière, uma doença que afeta o ouvido e causa crises de vertigem, zumbidos e possibilidade de perda da audição. 

Jessie compartilhou seu diagnóstico em uma transmissão ao vivo no Instagram: "Poderia ser muito pior, na verdade. Estou muito grata pela minha saúde. Eu só fui pega de surpresa. Era véspera de Natal e eu estava no hospital pensando 'o que está acontecendo', mas estou feliz de ter ido logo e descobriram o que era com rapidez e logo me deram os remédios certos e estou me sentindo bem melhor hoje. Faz muito tempo que não canto e quando canto muito alto parece que tem alguém querendo sair de dentro da minha orelha".

O sintoma é comum para quem adquiriu a Síndrome. Vertigem, zumbido e perda auditiva, no geral, são um dos principais sinais para a doença de Ménière. "Algumas pessoas com a doença também podem ter a sensação de pressão no ouvido, ou ainda ouvido tampado, cheio", complementa o otorrinolaringologista Victor Holanda, consultado pelo O POVO. Ele explica que a doença pode ocorrer em qualquer pessoa e causa problemas com o equilíbrio e com a audição. "Tipicamente, os sintomas se manifestam entre 20 e 40 anos de idade", explica Holanda.

Ainda conforme Victor, a Síndrome é causada por hidropisia endolinfática, um aumento do volume e da pressão do líquido, chamado de endolinfa, existente na parte interna do ouvido, o labirinto. "A orelha interna é responsável pelo equilíbrio e pela audição no corpo humano", conta o médico. O diagnóstico da doença é clínico, feito principalmente pelo médico otorrinolaringologista, baseado nos sintomas do paciente. "Não existe um exame ou teste específico para a doença, mas há exames para alguns sintomas. O médico solicitará exame para avaliar a audição e saber o grau de perda auditiva, a audiometria, e em alguns casos o equilíbrio também poderá ser testado com exames específicos", descreve Victor.

Normalmente, segundo o médico, o exame de sangue também é realizado para afastar ou corrigir algum problema metabólico que possa estar contribuindo com a piora ou a não melhora dos sintomas. O otorrino ainda ressalta outro ponto importante. "A depender da avaliação médica, algum exame de imagem dos ouvidos e da cabeça também poderá ser solicitado, como a tomografia computadorizada ou a ressonância nuclear magnética, para que algumas outras doenças possam ser descartadas".

 Tratamento feito com medicações

 

Victor Holanda explica que o tratamento da Síndrome é feito com medicações, mas varia. Alguns pacientes podem necessitar de tratamento cirúrgico ou do uso de aparelho auditivo para ouvir melhor. Os hábitos também precisam mudar.

Segundo o médico, é de extrema importância parar de fumar e mudar os hábitos alimentares. "Diminuir a ingestão de sal e alimentos salgados, diminuir ingestão de glutamato monossódico (substância utilizada como realçador de sabor e adicionada muitas vezes à comida chinesa, enlatada ou empacotada), diminuir ingestão de álcool, de café, de chá e de outras bebidas que contenham cafeína", elenca o otorrino. Alguns exercícios especiais compõem a reabilitação e também poderão ser orientados pelo médico e pelo fonoaudiólogo para melhorar o equilíbrio.

O tratamento medicamentoso é individualizado e prescrito pelo médico que acompanha o paciente. Pode ser diferente a depender do momento em que o paciente se encontra, se está em crise ou em uma fase fora das crises.

As medicações mais comumente usadas são para tontura e náusea, remédios conhecidos como diuréticos e vasodilatadores, além de medicamento esteróide, como os corticóides, que às vezes são ingeridos ou podem ser aplicados pelo médico dentro do ouvido do paciente. "É importante ressaltar que não há cura para a doença", avisa Holanda.

Já sobre possíveis complicações provocadas pela doença, Victor disse que a tontura pode ser incapacitante ou de difícil controle, o que leva a uma importante limitação das atividades diárias do doente. Além disso, o paciente pode perder a audição no ouvido afetado, comprometendo sua qualidade de vida.

De acordo com o médico, algumas teorias são propostas para justificar o surgimento da doença e de seus sintomas. Mas, até o momento, não se sabe o mecanismo exato responsável pelos sintomas da doença. "Observamos que muitos pacientes têm histórico na família da doença. Portanto, a doença em si não tem prevenção, embora possamos agir para prevenir as crises ou melhorar os sintomas do paciente", conclui Victor.

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